Quinta-feira, Março 28, 2024
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Jordan Santos em entrevista

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Campeão do Mundo em 2015 e considerado o sucessor natural de Madjer na Seleção Nacional, o nazareno Jordan Santos explica que não há segredos para chegar à alta competição, mas que é necessário fazer sacrifícios. Nomeado para diversos galardões individuais, o esquerdino não esquece as origens e quer ser um exemplo para os mais jovens.

 

Como tantos outros nazarenos, nasceu no Canadá, mas veio para a terra natal dos pais muito jovem. Aos 26 anos, é considerado um dos melhores jogadores de futebol de praia do mundo, tendo conquistado praticamente todos os títulos a nível individual e coletivo. Começou a jogar futebol no Nazarenos, transferiu-se para o Boavista, mas a experiência não foi a melhor e voltou a casa. Representou SL Marinha, Pataiense e Nazarenos, antes de se fixar, em definitivo, no futebol da areia. Soma 45 golos ao serviço da Seleção Nacional e já representou clubes do Dubai, Rússia, Itália e Turquia, tendo-se transferido esta época do Sp. Braga para o Sporting 

Campeão do Mundo em 2015 e considerado o sucessor natural de Madjer na Seleção Nacional, o nazareno Jordan Santos explica em entrevista ao REGIÃO DE CISTER que não há segredos para chegar à alta competição, mas que é necessário fazer sacrifícios. Nomeado para diversos galardões individuais, o esquerdino não esquece as origens e quer ser um exemplo para os mais jovens.

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REGIÃO DE CISTER (RC) > Depois de ter sido nomeado para melhor jogador do Mundo pela FIFA no ano passado, acaba de ser nomeado para o prémio quinas de ouro da FPF e também para a gala do desporto da Nazaré. Espera vencer estes troféus individuais?
JORDAN SANTOS (JS) > É um orgulho enorme já ter sido nomeado, mas sei que há outros jogadores, com grande cotação, e que são favoritos a vencer estes galardões. Considero que talvez tivesse merecido ganhar a distinção de melhor do mundo no ano passado, por tudo o que conquistei em 2017 em termos de clubes e da Seleção, e seria, no fundo, um prémio para todo o trabalho, dedicação e esforço que tenho desenvolvido pela modalidade. Ser nomeado para estes prémios é muito bom em termos de reconhecimento pessoal, mas se vou ganhar não depende de mim, mas sim das pessoas que vão votar.

RC > É preciso trabalhar muito para estar ao mais alto nível nesta modalidade?
JS > O trabalho é a base de tudo. Há muitos jogadores com muita qualidade no futebol de 11 e que depois tentam a sorte na areia e não têm sucesso. Os jogadores de futebol de praia da Nazaré têm a grande vantagem de nascerem na praia, mas para evoluir é preciso talento e sobretudo trabalho e muito espírito de sacrifício. Essa é sempre a base do sucesso no futebol de praia e no desporto em geral.

RC > Quando iniciou a carreira pensava que podia atingir este patamar? Campeão do Mundo, inúmeros títulos de clubes, distinções individuais…
JS > Quando comecei a jogar no Sotão acreditava que tinha condições, pelo menos, para ser internacional. Mas nunca sabemos se isso é possível. Quando fui convocado pela primeira vez senti um orgulho enorme, mas nunca pensei que seria convocado regularmente, ir a competições de forma regular, porque sabia que havia muitos jogadores com qualidade. Mas, a partir do momento em que comecei a integrar o grupo da Seleção e a conhecer os adversários e as seleções adversárias, pensei que teria possibilidades de chegar mais longe. Era um sonho atingir este patamar, mas como se costuma dizer: o mais difícil não é chegar lá acima, é manter-se lá em cima. Resta-me trabalhar da mesma maneira, porque temos de trabalhar sempre forte para o nível não baixar, porque o futebol de praia não é diferente do que acontece na vida. Se não ganharmos não somos lembrados.

“Os jogadores de futebol de praia da Nazaré têm a grande vantagem de terem nascido na praia, mas para evoluir é preciso talento e sobretudo trabalho e muito espírito de sacrifício. Essa é sempre a base do sucesso no futebol de praia e no desporto em geral”

 

RC > O futebol de praia tem a particularidade de permitir aos jogadores várias mudanças de clube ao longo da temporada desportiva, ao contrário do que sucede noutras modalidades. Isso é positivo para os jogadores e para as equipas?
JS > Ao contrário do que acontece no futebol, em que os contratos conferem aos jogadores alguma estabilidade financeira, no futebol de praia as coisas são bem diferentes. Isso leva a que os jogadores procurem auferir algumas verbas num clube e noutro, por forma a conseguir ter o rendimento que lhe permita manter o estatuto de profissional. Desse ponto de vista, creio que será vantajoso para os jogadores esta possibilidade de representarem várias equipas durante a época. Se é prejudicial para as equipas? Talvez se possa pensar assim, porque, em determinadas situações, há jogos de campeonatos a coincidirem e os jogadores têm de fazer as opções que lhes sejam financeiramente ou desportivamente mais favoráveis. Já me aconteceu estar a disputar provas em Itália e Rússia ao mesmo tempo e ter de fazer opções, que os clubes respeitam. Para que este cenário se altere será necessário que os clubes tenham investimentos mais fortes e consigam dar estabilidade aos atletas.

RC > Como é o dia-a-dia de um jogador profissional de futebol de praia?
JS > Para ser um atleta de alta competição é preciso ter um bom descanso, boa alimentação, treinar as vezes certas para não haver cansaço acumulado. E, depois, como em tudo na vida é preciso fazer sacrifícios. Dou um exemplo: gosto muito de Carnaval, mas neste não pude sair… Já não aproveito o Carnaval há quatro ou cinco anos e isso é muito difícil para mim, mas para se ter sucesso é preciso grande espírito de sacrifício. 

RC > E o mais difícil é estar longe da família, com tantas viagens, estágios e competições?
JS > Sem dúvida. Posso dizer que passei os meus piores momentos familiares quando estive no Dubai, porque não estava habituado a estar tanto tempo longe da minha família. Em termos desportivos foi fantástico, ganhei muitos títulos, conheci outras culturas, mas faltava-me a base, que é a minha mulher e os meus filhos. Eles são o suporte de tudo. E acaba por ser.

“Ser campeão em casa foi um feito inesquecívl”

RC > Campeão do Mundo, campeão da Europa de clubes e seleções, títulos nacionais em diversos países. A única conquista que falta no currículo continua a ser a Taça Intercontinental…
JS > Esteve quase desta vez… Mas tivemos de levar com o Brasil na final [derrota por 2-0, em novembro do ano passado, no Dubai]. O Brasil tem sido o nosso carrasco, já no Mundial aconteceu o mesmo. A Taça Intercontinental é uma competição que quero muito conquistar, porque reúne as melhores seleções do mundo. Costumamos dizer entre nós que é mais difícil vencer a Taça Intercontinental do que o próprio Mundial, porque o nível competitivo das equipas é muito equivalente. Esperemos que seja este ano. Pela primeira vez conseguimos atingir a final, após um percurso de grande qualidade, mas infelizmente não conseguimos a tão ambicionada vitória. Já estamos a trabalhar para a temporada de 2018 e, como sempre, queremos representar Portugal ao mais alto nível. Nesta seleção, a ambição é sempre ganhar. Não é por acaso que estamos no 2.º lugar do ranking da FIFA. Falta-nos a Taça Intercontinenta, por isso acredito que será desta que a vamos conseguir.

RC > Ganhar a Euro Winners Cup pelo Sp. Braga na Nazaré, no ano passado, foi a cereja no topo do bolo?
JS > Sem dúvida. Foi ao serviço de um clube pelo qual tenho um carinho muito especial e que trabalhou muito para que o sucesso fosse possível. Desde que o Sp. Braga entrou no futebol de praia que a ambição foi ganhar a Champions. Foi um sonho concretizado, porque é a competição de clubes mais difícil de ganhar, fizemos uma equipa muito competitiva, com os jogadores brasileiros que nos reforçaram, e conseguimos um triunfo histórico. Já tinha jogado nesta competição por clubes diferentes e ganhar em casa foi, sem qualquer tipo de dúvida, muito especial. Ser campeão europeu de clubes a jogar em nossa casa, com familiares e amigos a torcer por nós na bancada, não acontece todos os dias. Foi uma conquista inesquecível na minha carreira.

“Era um sonho atingir este patamar, mas como se costuma dizer: o mais difícil não é chegar lá acima, é manter-se lá em cima. Temos de trabalhar sempre forte para o nível não baixar”

 

RC > A Nazaré hoje é considerada um centro do futebol de praia nacional. Sente que deu um forte contributo para que isso tenha sucedido?
JS > A Nazaré sempre teve muitos internacionais de futebol de praia e, no fundo, todos tiveram um grande contributo para que isso sucedesse. Recordo sempre os primeiros a lá chegar, como João Carlos, Rui Delgado, Bruno Novo, Rui Codinha, Vítor Maranhão, Ademar, Lúcio… O sucesso e o rendimento que tiveram naqueles primeiros anos acabou por permitir que, depois, outra geração aparecesse ao mais alto nível. E há muitos jovens nazarenos a serem chamados com regularidade aos estágios e às competições. O Estádio do Viveiro acaba, por isso, por ser um espaço privilegiado para a modalidade, recebendo grandes competições, o que nos deve orgulhar a todos. Costumo dizer que todos os nazarenos sabem andar na areia e os torneios de 24 horas que se faziam na praia há alguns anos mostravam que havia muitos jogadores de qualidade na nossa terra. O Sotão foi a base de tudo, porque conseguiu organizar jogos amigáveis com a Seleção e isso deu visibilidade ao jogador nazareno. E é evidente que hoje em dia o futebol de praia, até na Nazaré, é muito mais admirado. Graças à visibilidade que jogadores nazarenos que estão na Seleção têm obtido já sinto que há muitos jovens da minha terra que também sonham com uma carreira no futebol de praia. É uma modalidade que tem tudo para crescer e ser cada vez melhor.

RC > Como é que gere o facto de ser muito conhecido?
JS > É também um processo de crescimento pessoal. Estava habituado, por exemplo, a passear no paredão da Nazaré e a ser cumprimentado por amigos ou familiares e, hoje em dia, tenho muita gente que me cumprimenta e felicita e que não conheço… Acredito que as pessoas da Nazaré já gostavam de mim pelo jogador, mas sobretudo pela pessoa que sou. Mas desde que atingi estes patamares existe um maior reconhecimento e isso deixa-me, obviamente, feliz. Sei que acabo por ser um exemplo para os mais jovens.

“Já não aproveito o Carnaval há quatro ou cinco anos e isso é muito difícil para mim, mas para se ter sucesso é preciso grande espírito de sacrifício…”

RC > Vencer a gala do desporto da Nazaré será também importante?
JS > A criação da gala do desporto da Nazaré é um passo importante. A Câmara fez muito bem, porque a Nazaré tem muitos desportistas de alto nível e em muitas modalidades, o que não acontece com muitos concelhos. Todos esses atletas merecem o reconhecimento e, por isso, fico feliz por existir esta gala. Estar nomeado já é muito bom e gostava de vencer em casa, perante a minha família e os meus filhos, mas quem quer que seja que receba o galardão ficará bem entregue.

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