Terça-feira, Abril 23, 2024
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O “clube-empresa” que colocou o Casal Velho no mapa

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Fundado em janeiro de 1994, o Centro Cultural Desportivo e Social do Casal Velho adotou, desde a primeira hora, um modelo ímpar no distrito de Leiria, assumindo-se como um verdadeiro “clube-empresa”. 

Fundado em janeiro de 1994, o Centro Cultural Desportivo e Social do Casal Velho adotou, desde a primeira hora, um modelo ímpar no distrito de Leiria, assumindo-se como um verdadeiro “clube-empresa”. 

Gerar receitas para fazer face às despesas não é um conceito particularmente inovador na economia, mas quando uma coletividade de uma pequena localidade é capaz de criar negócios rentáveis e, com os lucros obtidos, financiar a atividade desportiva de centena e meia de atletas, que obtêm resultados desportivos de relevo sem recurso a patrocínios, então passa a ser um caso de estudo. 

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O clube vive da padaria, sobretudo do pão com chouriço, emprega uma dezena de pessoas e até tem um treinador profissional para coordenar o futsal. Artur “Xá” Morais soube agarrar essa oportunidade e dirige, pela segunda época, a equipa sénior, que garantiu, pela primeira vez na história, o apuramento para a fase de subidas à Liga Sportzone de futsal. Mesmo sem pagar subsídios aos jogadores, e apostando, ao invés, num sistema de incentivos coletivos, em que cada ponto rende um determinado valor financeiro e em que o plantel recebe um prémio se for a melhor defesa ou o melhor ataque do campeonato. Outra inovação no panorama do desporto da região.

O homem que “desenhou” o projeto do clube, há mais de duas décadas, é um autêntico “faz-tudo” no clube.

Arquiteto de profissão, antigo vereador na Câmara de Alcobaça e adjunto do presidente Rui Coelho no último ano do mandato 1989-1993, João Camacho é o fundador e presidente do clube. Mas, ainda assim, trabalha de forma voluntária na produção das chouriças, que são vendidas na padaria do pavilhão do emblema de Alfeizerão. Aliás, além dos profissionais – três na padaria, três no café, um no chouriço e o treinador de futsal –, o clube conta com cerca de uma dezena de voluntários, que à segunda-feira desmancham a carne, à terça cortam-na e à quinta enchem as chouriças. Além dos motoristas, que conduzem as quatro carrinhas dos clubes para o transporte de atletas para treinos e jogos. Mais outra particularidade do projeto.

Mas para encontrar as raízes do Centro Cultural e Desportivo do Casal Velho é preciso recuar até aos primeiros anos do pós 25 de Abril, quando, a exemplo de outras localidades, se tentou criar uma coletividade. “Recordo-me bem desse período, em que pediram um terreno ao meu avô e em que começaram as obras. Fez-se um desaterro e um muro de suporte de terras, mas depois, por falta de capacidade para resistir às contrariedades, não foi possível criar a capela-salão que se pretendia para o Casal Velho e isso foi algo muito doloroso. Quando me abordaram, em 1994, dizendo que agora havia terreno para criar a coletividade, não pude dizer que não”, relembra o dirigente, que congregou vontades e fundou o CCDS Casal Velho, já com uma vertente desportiva e, sobretudo, com o modelo de gestão “na cabeça”. Sem recurso a subsídios.

“Começámos a fazer peditórios, mas deixámos de os fazer quando, em 1997, a Comissão da Igreja passou a fazê-los. Entendemos que a localidade era demasiado pequena para tantos peditórios e, por isso, optámos por um modelo em que se gerassem receitas para não estarmos dependentes de bailaricos ou subsídios”, nota João Camacho, que nasceu no Casal Velho e transformou o clube numa referência do futsal. “Costumo dizer que fizemos as coisas bem e a aposta nos técnicos Rui Ribeiro e Rogério Serrador foi a mais acertada. Obviamente que ninguém poderia dizer que, passados 12 anos, o clube teria tantos títulos distritais e presenças nos nacionais, mas fizemos tudo para que isto acontecesse assim”, frisa o dirigente.

Hoje em dia, o Casal Velho tem nove equipas e um número de atletas amplamente superior ao número de habitantes daquele lugar da freguesia de Alfeizerão, que passou a constar no mapa. E onde os valores humanos, desportivos e sociais são a imagem de marca. “Queremos um clube com sucesso desportivo, mas sobretudo com sucesso humano e autossuficiente financeiramente. Não nos interessa ter sucesso desportivo, sem ajudarmos a formar melhores homens e sem capacidade para gerar receitas para fazer face às despesas”, conclui João Camacho. Talvez assim se explique como, a título de exemplo, o sénior Édipo, um dos mais antigos do clube, viaje duas vezes por semana entre Lisboa e o Casal Velho só para treinar. Isto só pode significar que o processo formativo foi bem feito.

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