Será que a curiosidade acerca da história e das histórias também é responsabilidade social? Creio que sim. A história é o nosso legado comum. As histórias, sejam as dos nossos antepassados diretos, sejam as histórias dos outros, permitem-nos avaliar decisões, descobrir erros e glórias e, em última instância, perceber-nos a nós próprios e o que faríamos se confrontados com semelhantes escolhas.
É difícil encontrar histórias construídas apenas com factos. As descrições aparecem-nos normalmente cheias de juízos de valor.
Os feitos corajosos dos heróis, as retiradas cobardes do inimigo, a ganância do irmão, a traição do genro, a ambição de um povo. Estes qualificativos tornam mais fáceis e também mais falsas as nossas próprias lições sobre a história.
Ora, o meu desafio é o de um exercício diferente. O de olhar para os episódios do passado sem preconceitos. Resistindo à tentação de dividir as partes entre as do bem e as do mal. E tentar perceber, realmente, a motivação de cada um, em cada momento, procurando entender o que realmente moveu cada pessoa ou cada povo.
Quando, em 1933 Hitler ganhou democraticamente as eleições, poderemos honestamente considerar que mais de 40% do povo alemão era inconsciente ou amoral por acreditar naquele homem que prometia restaurar o orgulho nacional? Ou, numa outra dimensão e noutro tempo, poderemos agora acusar metade do povo americano por ter feito eleger um empresário que mais não fez do que prometer uma América “great again”?
Há pouco tempo, o Papa Francisco desabafou que “O perigo em tempos de crise é buscar um salvador que nos devolva a identidade e nos defenda com muros”. Entre outras razões, estou em crer que o fez por que leu e refletiu muito sobre a história e, talvez, esteja a temer que muitos de nós não tenhamos investido tempo suficiente a estudá-la, com o risco de, como no passado, corrermos atrás do primeiro homem ou da primeira mulher que nos prometa um futuro glorioso.