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Covid-19: Pais e professores garantem apoio a alunos com necessidades especiais

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Depois do encerramento das escolas e da implementação do ensino à distância, o Ministério da Educação veiculou um conjunto de regras para garantir o apoio aos alunos com necessidades especiais, mesmo sem a presença de um docente. Contudo, professores e pais consideram que o plano está “desajustado” da realidade vivida na grande maioria das instituições de ensino do País, restando-lhes tentarem colmatar as falhas nesse apoio a jovens e crianças. Apesar do esforço, há o receio que estes alunos regridam em termos de aprendizagem.

Depois do encerramento das escolas e da implementação do ensino à distância, o Ministério da Educação veiculou um conjunto de regras para garantir o apoio aos alunos com necessidades especiais, mesmo sem a presença de um docente. Contudo, professores e pais consideram que o plano está “desajustado” da realidade vivida na grande maioria das instituições de ensino do País, restando-lhes tentarem colmatar as falhas nesse apoio a jovens e crianças. Apesar do esforço, há o receio que estes alunos regridam em termos de aprendizagem.

A tutela informa que o ensino para estas crianças deve “acautelar formas de acessibilidade à informação”, principalmente para aqueles que “não o podem fazer a partir de fontes orais ou visuais”. Deste modo, as plataformas e materiais disponibilizados devem estar preparados para satisfazer as necessidades dos alunos e garantir, na medida do possível, a sua independência. No entanto, para Ana Isa Frutuoso, grande parte da independência a que estava habituada em sala de aula foi-lhe “roubada” pela dificuldade em manipular as ferramentas tecnológicas. “A Ana Isa recorria a uma linha de braile para escrever no computador, nomeadamente no Word, mas esta ferramenta não está adaptada às plataformas de ensino à distância, nem a esta nova realidade de sala de aula”, revela ao REGIÃO DE CISTER a mãe da menina de 13 anos. Além da inadaptação das plataformas, do material veiculado (vídeos e fotos) e do ritmo mais acelerado das aulas impossibilitam a participação autónoma da maiorguense. Estas dificuldades obrigam a progenitora a estar ao lado da filha em todas as aulas, no sentido de lhe garantir auxílio. 

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No caso dos trabalhos de casa, o papel da mãe é também imprescindível. Susana Moura descreve cada problema a Ana Isa, apoia na resolução do mesmo e transcreve a solução ditada pela filha. O desafio torna-se ainda maior em situações com tempo estipulado para a concretização ou em trabalhos de expressão plástica em que é necessário mais tempo. “Não é falta de dedicação ou empenho dos professores, simplesmente não existem muitas alternativas para estes casos. São muito atentos e sempre dispostos a apoiar em tudo o que for possível, mas infelizmente o sistema educativo para alunos com necessidades especiais não estava preparado para esta realidade”, lamenta.   

Em média, mãe e filha dedicam cerca de duas horas na concretização das tarefas de casa, tempo que não inclui o período de aulas síncronas. “Não há flexibilidades para a Ana Isa. O desafio é adaptado, sempre que possível, mas não é menor. Ela tem de se esforçar para garantir que acompanha e cumpre o que é proposto pelos professores”, assegura.

Com uma avaliação escolar “bastante satisfatória”, uma das principais preocupações da estudante de 6.º ano foi não diminuir a sua performance. “Consciente das limitações e das dificuldades que enfrenta no ensino à distância, ficou com receio de ver o seu desempenho prejudicado. Mas a psicóloga escolar abordou o tema e garantiu que não havia motivo para ansiedade”, recorda Susana Moura, que se encontra em casa a tempo inteiro devido à necessidade de prestar apoio à filha. A “regressão social”, resultante da falta de contacto com colegas e professores, é outra das consequências que está a preocupar a mãe. “Noto que ela está mais tímida e que tem alguma aversão a comunicar através das plataformas. Possivelmente por não conseguir ter plena noção de quem está do ouro lado”, nota.

Segundo Gil Ensinas, professor de Educação Especial do Agrupamento de Escolas de Cister e membro da Equipa Multidisciplinar de Apoio à Educação Inclusiva na modalidade Ensino À Distância, esta é a realidade da maioria dos estudantes com necessidades especiais, agora limitados ao ensino à distância. “A interação social para estes alunos é de extrema importância e neste momento, muito do trabalho feito no sentido de desinibir e criar laços esta a ser quebrado”, explica. O docente afirma que, nestes casos, a desmotivação é um risco muito real e que, por isso, é necessário reforçar comportamentos positivos e garantir que continuam interessados na escola.

 O plano de atividades para estes estudantes é feito semanalmente, com o objetivo de superação e concretização das metas estipuladas. “O objetivo das atividades não é ser fácil, mas sim desafiar os alunos a fazer mais e melhor, sempre com uma base educativa. Superar limites e demonstrar que são capazes é muito importante para a autoestima”, nota o docente.

Apesar das dificuldades, Gil Ensinas descreve como “bastante educativo” o desafio enfrentado atualmente pelo sistema educativo. Segundo o professor de ensino especial, esta realidade obrigou a comunidade educativa a “sair da zona de conforto” e a procurar soluções para reinventar a missão de ensinar. A dedicação dos professores resulta ainda em “casos de sucesso”, nomeadamente na evolução de alguns estudantes. “Ao longo destes três meses não tem sido fácil ultrapassar as dificuldades, mas temos registado evoluções de alunos que se adaptaram muito bem às ferramentas tecnológicas e ultrapassaram algumas limitações que enfrentavam na sala de aula”, descreve, sublinhando que “cada caso é um caso e, infelizmente, a evolução não é linear para todos”.   

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