Sexta-feira, Abril 19, 2024
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Entrevista a Jorge Santos

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O presidente da Direção da Nerlei (Associação Empresarial da Região de Leiria) olha para a região de Cister como estratégica para o distrito, valorizando a diversidade de setores e o empreendedorismo dos empresários.    

Durante a semana exerce funções de diretor-geral da Vipex, empresa de plásticos sediada na Marinha Grande. Aos fins de semana troca o fato de trabalho e “arma-se” em piloto de enduro a chapinhar na lama. Desde 2012, acumula ainda funções na liderança da Direção da Associação Empresarial da Região de Leiria (Nerlei). Licenciado em Gestão de Empresas e doutorado em Marketing e Comércio Internacional, tem formação profissional em áreas como o coaching, liderança, marketing, gestão de equipas, estratégia empresarial e qualidade. Casado e com dois filhos, o empresário de 56 anos, natural da Marinha Grande, tem um dos filhos a trabalhar numa equipa da F1.

O presidente da Direção da Nerlei olha para a região de Cister como estratégica para o distrito, valorizando a diversidade de setores e o empreendedorismo dos empresários.    

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REGIÃO DE CISTER (RC) > Qual a importância de Alcobaça e Nazaré para a Nerlei?
JORGE SANTOS (JS) > São concelhos muito importantes para o distrito e a Nerlei tem uma relação muito estreita com ambos. São economias diferentes. Alcobaça é muito forte no setor da cerâmica, da fruticultura – a Maçã de Alcobaça é um exemplo muito interessante de crescimento e de trabalho coletivo e associativo–, e em tantos outros setores, que é aliás uma característica da nossa região. No caso da Nazaré, o turismo é a principal fonte de receitas, tendo em conta que a onda não é apenas da Nazaré, tem efeitos por toda a região e por todo o País. E há um ponto a favor em relação a todos os outros: a onda não é copiável, ninguém pode levar daqui o canhão da Nazaré, que tem sido um meio de publicidade para o País muito importante. No âmbito da promoção que temos vindo a fazer da nossa região, obviamente que a onda faz parte, tal como os monumentos classificados como Património Mundial da Unesco. 

RC > Alcobaça e Nazaré viraram-se para o Oeste na política e no turismo, mas em termos económicos mantêm maior ligação a Leiria e Marinha Grande. O Politécnico deve apostar mais nesta região e, desse modo, ter um papel ainda mais relevante na aproximação destes territórios?
JS > Temos a felicidade de, ao longo dos anos, ter um Politécnico que tem sido bem gerido e sabido interpretar a região. O Politécnico não pode colocar instituições em todos os concelhos. Acredito que se pudesse, assim o faria. Não é pelo facto de não estar em Alcobaça, que Alcobaça não é importante. Até porque o IPL tem sido capaz de desenvolver e ajudar muito a região. Alcobaça não está na Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria, teríamos todo o gosto nisso, mas há uma decisão que não vamos comentar. Uma coisa é a divisão administrativa, outra é a relação no terreno e essa não se alterou em nada, tal como o trabalho que temos vindo a fazer. A nossa missão é ajudar as empresas, e quando as ajudamos, ajudamos os municípios e os territórios. Há que salientar que a Nerlei não é uma entidade externa, nasceu das empresas, somos todos empresas. Interessa-nos prestar esse serviço a nós próprios. Obviamente que as empresas associadas têm regalias, mas não deixamos de ajudar as não associadas. Quando se fala da crise de associativismo, temos mostrado que não é bem assim. No início do mandato começámos com 750 associados, atualmente temos mais de 1.200 associados. 

“A onda do empreendedorismo da região tem impacto no mundo”

RC > A cerâmica foi o principal motor da economia de Alcobaça. Hoje em dia são os moldes, a pedra, a fruticultura, o calçado… A diversidade marca a economia deste concelho? 
JS > É a chave. Temos a cerâmica, a pedra, as cutelarias, o calçado, a fruticultura… e em todos os setores temos empresas de excelência, que acrescentam valor ao produto. A diversidade existe em Alcobaça, mas também é transversal a outros concelhos. No distrito existe uma ligação institucional grande, os municípios competem mas cooperam. Este ambiente, entre associações, instituições e municípios, tem sido benéfico para Leiria, que é esquecida pelo poder central.   

RC > Dar as mãos foi e continua a ser a grande solução para ganhar escala?
JS > Temos um tecido económico de pequenas e médias empresas e lidamos com gigantes empresariais, que muitas vezes são multinacionais. Só temos hipótese de sermos flexíveis e conseguir ser ágeis. Estamos a falar de elefantes e nós somos “ratinhos”. Muitas vezes temos de nos unir e trabalhar em conjunto, é uma das características que tem existido em muitos setores. Tal como a onda da Nazaré tem impacto noutros concelhos, a onda dos moldes da Marinha Grande está alargada a outros concelhos, nomeadamente Alcobaça, tal como tem acontecido com a onda da cerâmica de Alcobaça e das Caldas da Rainha. No fundo, a onda de empreendedorismo da nossa região tem impacto no outro lado do mundo.

“A Maçã de Alcobaça é um exemplo muito interessante de crescimento e de trabalho coletivo e associativo, e em tantos outros setores, que é aliás uma característica da nossa região”

RC > A Nazaré tem um tecido empresarial reduzido. A ALE de Valado dos Frades pode mudar esse cenário?
JS > A Nazaré tem uma zona industrial numa localização fantástica, junto à autoestrada. Não colide em nada com o turismo e é complementar à sazonalidade. Estes parques industriais são muito importantes, na medida em que ajudam a fixar empresas na região. 

RC > Por outro lado reclama-se há décadas uma ALE na Benedita. A Nerlei envolveu-se neste projeto?
JS > São os municípios que gerem os parques industriais. Sabemos que há reivindicação de empresas locais, tal como noutros concelhos. De facto, a freguesia da Benedita tem uma dinâmica muito especial, tem a pedra, a cutelaria, o calçado… e tem vindo a desenvolver-se com uma grande dinâmica. Estou seguro que a Câmara de Alcobaça quer desenvolver o seu território como um todo, tal como as outras câmaras e a própria Nerlei, que tem a ambição de apoiar os concelhos mais periféricos do distrito e que à partida têm menos apoio. 

“A onda não é copiável, ninguém pode levar daqui o canhão da Nazaré, que tem sido um meio de publicidade para o País muito importante”

RC > O concelho de Alcobaça tem uma das taxas de desemprego mais baixa do Oeste. Esse é um sinal claro de empreendedorismo? 
JS > Mesmo no período mais difícil em que o desemprego chegou a 17,5% no País, no distrito não passámos dos 12,5%. Hoje o País ronda os 7% e o distrito tem menos de 5%, podemos falar de uma situação de pleno emprego, que nos traz também grandes desafios, temos de trazer pessoas para cá e atrair talentos. Estamos a trabalhar em parceria com o IPL para trazer alunos para cá e pagar a propina do primeiro ano aos melhores alunos. São 37 alunos que entraram este ano e não pagaram a propina, porque as empresas assumiram esse custo. 

RC > A Nerlei é uma entidade que tem estado ao lado das empresas do distrito ao longo das últimas décadas. Neste período, a internacionalização tornou-se essencial para a maioria das empresas. De que forma tem ajudado a afirmar o distrito nos mercados externos?
JS > A preocupação pela internacionalização das empresas da Nerlei já vem de há muito. É uma preocupação que, ao longo dos anos, tem vindo a ser desenvolvida, em estreita relação com a AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal). Temos um programa muito ambicioso: em termos de feiras, de participação em missões empresariais, na criação de oportunidades de mercado, através da visita de embaixadores e de câmaras de comércio de outros países, e no desenvolvimento de iniciativas como os pequenos-almoços temáticos. Destaco a Feira Ambiente, da fileira casa, em que a Nerlei organiza a participação coletiva portuguesa: dos 81 expositores mais de 50 vão connosco. Só não há mais empresas porque não conseguimos mais espaço. Nas missões comerciais procuramos ir aos mercados mais exóticos, já temos experiência de empresas que começaram a exportar para determinados países a partir de missões que desenvolveram connosco. A internacionalização é uma grande prioridade que temos vindo a desenvolver e os dados estatísticos ajudam a perceber isso: de 2006 a 2016 o distrito de Leiria aumentou as exportações em 92%, Portugal aumentou em 41%. Também o distrito em 2010 representava 2,4% das exportações nacionais e em 2017 o distrito  representava 3% das exportações nacionais. O valor acrescentado gerado pelas empresas do distrito, entre 2015 e 2016, aumentou 9,1% e o valor acrescentado das empresas do País aumentou 6%. Isto quer dizer que não é só exportando que se cria riqueza. Todas as empresas que produzem bem e estão sujeitas à concorrência são importantes, independentemente de exportarem ou não. Há muitas empresas que exportam porque têm empresas que não exportam a trabalhar com elas. Há empresas que não exportam, mas aquilo que elas vendem tem mercado e, portanto, o que elas vão vender é porque não é importado.

“O valor acrescentado gerado pelas empresas do distrito, entre 2015 e 2016, aumentou 9,1% e o valor acrescentado das empresas do País aumentou 6%. Isto quer dizer que não é só exportando que se cria riqueza”

RC > A falta de recursos humanos especializados é um dos principais problemas apontados pelas estruturas empresariais. O ensino está adequado às necessidades das empresas? 
JS > Em primeiro lugar há uma questão demográfica: um país a envelhecer. Outra questão, e comparando com outros países, há um nível baixo de qualificação. O sistema de ensino está desarticulado e desadequado. Temos alunos que não conseguem entrar em engenharia por causa da Matemática e não estou a dizer que todos tenhamos de ser engenheiros. Terá é de haver um ajustamento entre o ensino secundário e o ensino superior e tentar formar pessoas para o que é necessário daqui a 5/10 anos e não formar pessoas para o que formávamos há 10/15 anos, que é o que está a acontecer. Na vertente do ensino profissional há muita dispersão: há associações, há escolas profissionais e secundárias a fazê-lo. As escolas profissionais precisam de melhores laboratórios e melhores condições para poder ensinar. Esta é a questão base para trabalharmos. Estamos num sistema de ensino que está tudo penalizado: como está desarticulado, os professores não conseguem levar a cabo o que gostariam em termos de ensino e criam-se limitações. Em Portugal não estamos a colocar a competitividade na agenda. Não podemos estar a pensar que vamos colher a fruta, sem plantar a árvore, sem a regar e sem a fazer crescer. Temos de ter um país a ajudar a competitividade das empresas e essas empresas têm obrigação de aumentar produtividade e Portugal não está a aumentar a produtividade. Se não aumentarmos a produtividade por pessoa, não é possível de forma natural aumentar o rendimento por pessoa e isso é que é grave. É muito importante trabalhar na formação para os cursos daqui a uns anos, saber quais são as profissões do futuro e trilhar o caminho para lá chegar. O Politécnico cresceu e interligou-se com as empresas, agora o desafio é a sustentabilidade e a adequação às necessidades que hão-de vir.

“Temos de dar ferramentas às empresas para serem competitivas“

RC > De que forma a Nerlei tem ajudado as empresas a tornarem-se mais competitivas?
JS > No fundo a competitividade para uma empresa é criar condições para atingir o fim. A Nerlei quando dá condições para as empresas encontrarem novas oportunidades de mercado está a criar oportunidades para as empresas serem mais competitivas. Mas depois o mercado é muito exigente, quer melhores preços, maiores prazos… Temos tido um programa de qualificação, primeiro em relação a formação de pessoas. Há uma escola de negócios, que é dirigida para os empresários e para as famílias. Para os quadros intermédios também há várias formações e a formação não financiada na Nerlei está a crescer, o que significa um reconhecimento do mercado na qualidade dessa formação. E finalmente apresentar metodologias: temos de dar ferramentas que ajudem a gerir as empresas para sermos mais competitivos. 

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