Os sapatos de vela, no verão e na primavera, e as botas de pele, no outono e no inverno, em linhas consideradas topo de gama, têm “calçado” nos últimos anos os clientes da Jomarpi. A empresa de calçado, sediada na Benedita, tem apostado na exportação dos seus produtos para vingar num setor em franco crescimento.
“Nos últimos 20 anos o foco foi na exportação e a fábrica foi fazendo investimentos sucessivos nesse sentido”, conta Amílcar Pimenta, um dos seis sócios da empresa fundada pelo pai – (Jo)sé (Mar)ques (Pi)menta – há 40 anos. Contudo, e mais recentemente, houve um reajustamento na estratégia.
“O calçado tem-se adaptado e transformado nos últimos anos, como em muitos outros setores, e para continuarmos a acompanhar o mercado reduzimos a dimensão da empresa. Passámos de duas para uma unidade produtiva para pôr mais valor nos produtos”, sublinha o empresário, reforçando que a aposta mais recente da empresa familiar tem sido ”nas linhas premium, ou seja, nos nichos de mercado”.
Produzir e comercializar um segmento mais alto para fugir aos concorrentes mais ferozes, como a China e o Vietname, foi a forma que a Jomarpi encontrou para continuar na linha da frente. “Éramos conhecidos pelos sapatos de vela e pelos mocassins. Depois pela linha outdoor, mas, mais recentemente, voltámos a focar e a trabalhar naquilo em que a empresa tem muito know-how: os velas. Mas não nos focamos no vela barato e económico, porque esse produto já existe nos países concorrentes, mas no vela topo de gama”, adianta o sócio-gerente da Jomarpi.
No último ano foi, aliás, desenvolvida uma linha exclusiva para os Estados Unidos, com uma estilista americana, que esteve na fábrica durante alguns meses. A par desse mercado, a Jomarpi tem fechado negócios com clientes na Escandinávia, na Rússia, na Estónia, na Turquia e imagine-se... no Cazaquistão. As botas de senhora e de homem, em pele natural, forradas por outra pele “especial”, representam mais de metade do volume de exportação da empresa, fixado nos 95%. Alemanha, Espanha e Bélgica e Luxemburgo também constam na lista de clientes da empresa.
Empregando cerca de 80 pessoas e com uma faturação anual de 4 milhões de euros, a Jomarpi conta uma produção média de 900 pares/dia. As tendências e as necessidades do mercado têm “obrigado” a Jomarpi a procurar novas formas de produção e de comercialização. Para isso tem contado com a ajuda da Academia de Design e Calçado, que tem formado colaboradores. “O esforço da empresa está muito concentrado na evolução do produto, fazemos upgrades sucessivos“, frisa Amílcar Pimenta. A participação em feiras internacionais também tem potenciado a divulgação dos produtos da Jomarpi, nomeadamente da marca própria: a Inwood.
Em 2009, a Jomarpi conquistou o Prémio Inovação da Fileira do Calçado (GAPI) 2008, atribuído pelo Centro Tecnológico do Calçado, graças ao Fit System, calçado que se adapta ao pé do cliente, garantindo conforto e saúde, provando que tem marcado o passo na indústria do calçado.
Um dos seis sócios-gerentes da empresa traça o posicionamento da Benedita no setor do calçado, recordando os primeiros passos da empresa, fundada pelo pai.
REGIÃO DE CISTER (RC) > Em que circunstâncias foi fundada a Jomarpi?
AMÍLCAR PIMENTA (AP) > O nome foi criado em 1976 com o meu pai, mas a indústria do calçado já vem do tempo do meu avô, na época em que o calçado se fazia por medida. O meu pai avançou na industrialização, ampliou a unidade e subiu um nível na qualidade. Já com a sociedade criada com os filhos, em 1976, a Jomarpi entrou numa fase de automatização e de internacionalização.
RC > Como se acompanha o ritmo deste setor?
AP > As tendências são acompanhados por uma equipa interna, que estuda a estrutura de elemento de produto. Todos os clientes visitam com muita regularidade a empresa e vice-versa. As feiras internacionais e o acompanhamento de publicações de especialidade também ajudam a acompanhar as tendências.
RC > Como se posiciona a Benedita no setor do calçado nacional?
AP > A Benedita tem uma expressão residual, o setor tem 1.500 unidades e os pontos fortes situam-se no Norte do País. Para a Jomarpi isso foi sempre uma desvantagem, porque durante muitos anos os clientes foram direcionados para lá e teve de haver uma luta maior para conquistar o cliente internacional. A Benedita, que tem uma componente artesanal importante, é muito específica neste setor, o que acaba por ser uma vantagem. Não há demasiada concorrência, como há no Norte.
BI
