Está em curso a constituição da Confraria do Porco Malhado de Alcobaça. O objetivo passa por apostar na valorização de uma raça autóctene do nosso País e que apresenta um elevado potencial de rentabilidade a nível económico.
Está em curso a constituição da Confraria do Porco Malhado de Alcobaça. O objetivo passa por apostar na valorização de uma raça autóctene do nosso País e que apresenta um elevado potencial de rentabilidade a nível económico.
Rui Lopes, investigador e professor da Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Cister (Epadrc), é um dos rostos do movimento que pretende criar um “grupo de trabalho alargado”, que crie condições para se avançar com um processo de investigação que permita “comprovar as mais-valias nutricionais” do porco malhado e, em consequência, preservar a espécie e potenciá-la do ponto de vista económica. “Normalmente as confrarias gastronómicas têm a missão de promover um produto gastronómico ou uma região, está na altura de se criar uma confraria. Muitas vezes são as autarquias que se substituem à sociedade civil neste tipo de iniciativas, mas elas funcionam melhor quando partem da sociedade civil”, declarou o docente.
O Malhado de Alcobaça é considerada a terceira raça autóctone do nosso País, logo depois porco alentejano e do porco bísaro, mas encontra-se em risco de extinção, com poucos produtores interessados na espécie. De resto, só em 2003 é que foi implementado o registo zootécnico da raça e em 2014 criou-se o livro genealógico do malhado, que está confiado à Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores (FPAS).
A Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores (FPAS), a Câmara de Alcobaça, a Escola Superior Agrária de Santarém, o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV ), os maiores produtores de Malhado de Alcobaça e os chefes de cozinha da Epadrc mostraram-se disponíveis para integrar um grupo de trabalho.
Desde 2014, quando foi criado o livro genológico da raça gerido pela FPAS, têm sido dados pequenos passos na promoção e preservação da raça em vias de extinção, nomeadamente a criação de um núcleo de conservação no polo de investigação da Fonte Boa no INIAV e de um núcleo de multiplicação na Epadrc. Mas há muito por fazer e Vítor Menino, presidente da FPAS, considera que a confraria “deve contribuir para a defesa da raça e para a defesa do mundo rural”, podendo ainda contribuir para resolver “um problema grave”. “Há muitas divisões no setor. Devemos todos puxar para o mesmo lado. Vamos harmonizar posições e trilhar caminhos para o Malhado”, considerou o dirigente.
A Câmara de Alcobaça manifestou “apoio” à criação da confraria, com o vereador João Santos a assumir que a autarquia “pode ajudar com apoio logístico e financeiro, mas não tem competência para desenvolver o projeto”. Por seu turno, a vereadora Inês Silva, autora do livro infantil “O Porquinho de Alcobaça”, destacou o malhado como “uma marca patrimonial e cultural que faz parte da memória e que todos temos responsabilidade de a preservar”, reiterando o compromisso da Câmara como “entidade parceira” do projeto.
O empresário Luís Rodrigues, o segundo maior produtor de Malhado de Alcobaça na região, foi o promotor da iniciativa da passada sexta-feira e mostrou-se “confiante” de que a confraria será uma realidade. “Queremos defender a raça e acreditamos que é possível fazê-lo através deste projeto, desde que as várias entidades assim o entendam”, frisou o proprietário de 50 reprodutores e que estabeleceu uma parceria com a Nelcarnes para os enchidos.