Assistente social dos Pisões, Ana Caetano iniciou um serviço de consultas de serviço social e envelhecimento, uma resposta pioneira para a formação de quem cuida dos idosos.
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“Não se fala em envelhecimento em Portugal e os cuidadores informais não têm apoio, nomeadamente na formação”, resume a cuidadora e formadora na área do envelhecimento.
A assistente social fala de casos como o de A. – que prefere não ser identificada – uma cuidadora sexagenária, com uma história atual e bem real. Pessoa de porte franzino, é uma verdadeira mulher de armas, depois de ver a labuta diária intensificar-se desde que assumiu, de forma alternada com a irmã, os cuidados a tempo inteiro dos pais, ambos com mais de 90 anos e várias comorbilidades.
O caso passa-se em Pataias, mas poderia ser em qualquer outro ponto do País, tantas vezes sem irmãos para dividir tarefas. A. garante, a tempo inteiro, que são asseguradas as necessidades da mãe – com debilidades cognitivas – e do pai, com vários constrangimentos de mobilidade. Higiene pessoal, alimentação, medicação, consultas, terapias e exames, mais os sustos habituais nestas idades. “É demasiado”, confidencia o marido de A., ele que ainda desenvolve atividade profissional. A cuidadora não faz parte dos 16 mil cuidadores informais reconhecidos em Portugal e que representam, de acordo com a vice-presidente da Associação Nacional de Cuidadores Informais, Maria Anjos Catapirra, apenas 10% do total existente no País e que não tem o estatuto.
Os cuidadores cuidam dos idosos, mas quem cuida dos cuidadores? É o que Ana Caetano se propõe responder com conferências, ações de sensibilização e formação, com apoio e acompanhamento personalizado, orientação e acompanhamento dos familiares. O Aurora – Cuidar com Amor é um serviço que inclui ajuda até nas burocracias dos apoios e benefícios sociais.
“A falta de informação e formação das pessoas idosas e das famílias cuidadoras sobre o envelhecimento, o cuidar, as doenças e as demências faz com que não conheçam os seus direitos, como apoios e benefícios sociais, nem como planear um envelhecimento em casa”, reflete a assistente social, que desenvolve parcerias com a Associação Alzheimer Portugal e com o Agrupamento de Centros de Saúde do Pinhal Litoral.
Além de “capacitar pessoas idosas e as famílias para definirem o melhor caminho no seu envelhecimento”, o projeto da profissional dos Pisões tem ainda a missão de capacitar os profissionais da área “a desenvolverem cuidados cada vez mais humanizados, prestados com amor através do respeito, da dignidade e da humanidade”, com o objetivo de “dar, cada vez mais, voz e visibilidade às pessoas idosas dentro das instituições num processo de envelhecimento bem sucedido e ativo através da formação”, esclarece a formadora e cuidadora, que lamenta: “Não conheço nenhuma instituição que tenha um projeto de cuidadores informais”.