O grupo de teatro Pó d’Palco, que integra a Associação Recreativa e Desportiva Quiterense, está “em cena” há três décadas, sendo o mais antigo grupo de teatro em atividade no concelho de Alcobaça, pelo menos de forma ininterrupta. No próximo sábado, o Pó d’Palco – designação que surgiu enquanto… limpavam o palco – vai subir a cortina novamente, na sede da associação de Valado de Santa Quitéria, na freguesia de Alfeizerão, para assinalar o 30.º aniversário do grupo numa apresentação que vai recriar alguns dos números exibidos ao longo das três décadas de atividade. Desde o “Valado Valadinho” até ao último, “Oestezinho”.
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O grupo de teatro envolve atores locais, mas também (muitos) de freguesias e concelhos circundantes. “Os textos são maioritariamente nossos. Alguém encontra um texto ou uma piada e tratamos depois de escrever as peças para as trabalharmos em palco e adaptar às nossas circunstâncias.
É um trabalho de equipa”, refere o dirigente, explicando que os temas dão depois origens às peças. “Fazemos crítica social e política, essencialmente local”, disse Daniel Guilherme. O semanário REGIÃO DE CISTER, que até nasceu no mesmo período do grupo de teatro Pó d’Palco, nunca foi alvo das ‘críticas’”, brinca o dirigente.
O antigo presidente da Câmara de Alcobaça, José Gonçalves Sapinho, não perdia uma estreia dos espetáculos de teatro de revista do grupo, mesmo sabendo que seria um dos políticos mais “criticados” em cima do palco. “Após o primeiro espetáculo que [José Gonçalves Sapinho] assistiu, e em que foram feitas críticas ao executivo que então liderava, até nos confidenciou depois que julgava que iria ser bem pior. Vinha a todas as nossas estreias e teve sempre muito fair-play”, conta.
Daniel Guilherme, de 63 anos, é o presidente da Associação Recreativa e Desportiva Quiterense, mas assume também a coordenação do grupo de teatro, tendo sido um dos fundadores e sendo o elemento que há mais tempo continua em palco. “Isto é tudo feito de forma empírica, fiz algumas formações com alguns elementos ligados ao teatro, seja nos cenários ou na própria encenação, no período em que existiu a NUCCA (Nova União das Coletividades do Concelho de Alcobaça). Aí foi feito algum trabalho de formação com os grupos de teatro”, recordou, abordando um projeto cultural que nasceu por “carolice”, mas que continua de boa saúde.
“Nos primeiros tempos éramos cerca de 17/18 pessoas. Já chegámos a ser mais de 30 envolvidos no grupo de teatro, mas recentemente também já fomos apenas 11, durante a pandemia”, notou, asseverando que nem durante esse período os trabalhos pararam. “Fomos fazendo algumas coisas para manter a ‘chama’”, sublinhou, asseverando que, com o passar do tempo, o grupo foi-se reajustando e agora é composto por 22 elementos, entre atores e técnicos.
O espetáculo de celebração dos 30 anos é o quarto que o grupo apresenta este ano – houve anos em que subiram a palco mais de 20 vezes –, mas, além das histórias, importa também perceber de que forma são construídos os cenários e as vestimentas. “É tudo feito por nós. Podemos dizer que diretamente ninguém coloca aqui dinheiro, mas indiretamente acabamos por colocar porque todas as deslocações e despesas para ir comprar material e tudo mais são financiadas por nós”, assegurou. É que o grupo sobe a palco na sede da associação, mas também já se estreou noutros pontos do País, como Portalegre, a título de exemplo.
Todas as histórias e vivências fazem parte de um caminho que já vai longo, mas em que nada nem ninguém é esquecido. É por isso que, no espetáculo do 30.º aniversário, vão ser recordadas algumas das peças levadas a cabo ao longo das três décadas de existência, num dia em que voltarão a pisar o palco antigos elementos daquele grupo de teatro.
E se a data festiva é, por si só, motivo mais do que suficiente para encher a sala de espetáculos da associação da freguesia de Alfeizerão – que tem lotação para 250 pessoas –, mais se torna pelo seu cariz solidário. É que a Associação Recreativa e Desportiva Quiterense decidiu abdicar do valor dos ingressos, que podem ser adquiridos no próprio dia, em troca de bens perecíveis que vão depois ser entregues à Paróquia de Alfeizerão.
“Como é a celebração do 30.º aniversário, entendemos que não deveríamos cobrar bilhetes porque é uma festa para os fãs e amigos que têm acompanhado o grupo ao longo do tempo. Então decidimos fazer uma recolha de bens alimentares para que possamos entregar na Paróquia de Alfeizerão e, assim, retribuir, de certa forma um pouco do carinho que a comunidade nos tem dado neste projeto”, revelou o dirigente, ansioso por uma noite de muitos (sor)risos e também de solidariedade.