A aquisição de um táxi, em 1981, motivou a mudança de José Amorins Nunes para Pataias, onde desde cedo passou a ser conhecido por Zé dos Táxis. Na verdade, poucos sabem o seu nome de batismo, mas todos o identificam pela alcunha.
A aquisição de um táxi, em 1981, motivou a mudança de José Amorins Nunes para Pataias, onde desde cedo passou a ser conhecido por Zé dos Táxis. Na verdade, poucos sabem o seu nome de batismo, mas todos o identificam pela alcunha.
Hoje, José Nunes tem três táxis, geridos pela empresa Auto Táxis Pataiense. No início da década de 1980, era um emigrante na Alemanha, para onde rumou antes do 25 de Abril, e tinha vontade de regressar ao seu País. Em vez de Soure, de onde é natural e onde ainda mantém a casa de família, escolheu Pataias, porque era na então aldeia que tinha apalavrado a compra de um táxi, propriedade de um primo da sua mulher.
Para trás tinham ficado anos difíceis da pré-democracia e uma incursão na Guiné por culpa da Guerra do Ultramar (1961-1974). Regressou de África em 1965 e foi lavar comboios para Lisboa. “Dormia por lá entre percevejos e baratas”, recorda, sem saudade. Não tardou que alinhasse em emigrar para a Alemanha, para onde partiu sozinho, em 1966, deixando, em Portugal, a mulher grávida da primeira filha. Meses depois, a família estava reunida naquele país europeu, onde o casal trabalhava por turnos na confeção de meias de vidro para senhora.
De regresso às origens, fez sociedade primeiro com o familiar da mulher e depois com outro pataiense. Ao táxi juntou o primeiro café – D. Dinis – aberto na Avenida Rainha Santa Isabel, em 1983. Dez anos depois, comprou casa ao lado da igreja de Pataias e adaptou uma parte da residência para abrir um novo estabelecimento comercial, onde hoje “o movimento é pouco”, confessa. Longe dos tempos em que em apenas num dia vendia 15 litros de vinho.
Um pouco melhor corre o negócio dos táxis, que divide com o genro, motorista fluente em inglês, francês e espanhol, a que se juntam os conhecimentos de alemão do Zé dos Táxis. “Temos o serviço por marcação na internet e falar várias línguas ajuda muito”, reconhece José Nunes, ciente do número de estrangeiros que adotaram a região para segunda habitação. Ainda assim, o cenário está longe do que viveu na década de 1980, quando “havia 82 carros em Pataias e cinco nos Pisões”. “Hoje, quase tudo tem carro”, constata Zé dos Táxis. Das três licenças da Auto-Táxis Pataiense, uma é de Alpedriz, mas o carro está parado há três anos por falta de movimento.
“Fiz a guerra na Guiné e também fiz guerra em Pataias”, brinca. Hoje mais sereno do que há 30 anos, José Nunes faz questão de contar o episódio da Rua Padre Franklim, ao lado da igreja, que era em terra batida e onde plantou eucaliptos em 1994 como forma de protesto contra o estado da via, “toda esburacada”. Na época, a ele juntou-se o padre da paróquia, Armindo Castelão, que afixou um cartaz onde se lia “Queremos alcatrão!”.
Apesar de estar reformado, continua a fazer os serviços de táxi, até porque é um homem enérgico e está bem de saúde. Não aparenta, mas a verdade é que José Nunes cumpre oito décadas em junho do próximo ano. “Ainda vou roçar mato”, garante, enquanto apressa a conversa para poder fazer mais uma saída.