António Sanches da Silva Branco é um nome incontornável da história de Alcobaça no século XX. Na semana em que passam 27 anos desde que Alcobaça passou de vila a cidade, recordamos a vida e obra daquele que foi um dos principais impulsionadores da elevação de Alcobaça a cidade e que trabalhou em prol da sua terra até ao último dia de vida.
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Nasceu a 10 de agosto de 1918. Completou o curso superior em Ciências Económico-Financeiras em 1947, cumpriu o serviço militar entre agosto de 1939 e março de 1946 como oficial miliciano e entrou para os quadros do Estado, na carreira de funcionário aduaneiro, ganhando grande notoriedade na Direção-Geral das Alfândegas. Perto do final da carreira, em 1973, foi nomeado governador civil do Distrito Autónomo da Horta, nos Açores, cargo que ocupou até à revolução dos cravos. Foi, aliás, o último governador civil da Horta durante o Estado Novo e o penúltimo antes da extinção do distrito. “Foram dois anos onde aprendi muito com a população daquela região”, disse Sanches Branco ao REGIÃO DE CISTER em agosto de 2003, naquela que terá sido a última entrevista que concedeu a um órgão de comunicação social. “Tive o problema dos sismos [terramoto de 1973], que destruíram parte da ilha do Pico e esse foi um período difícil. Mas saí com o sentido do dever cumprido”, confidenciou ao semanário dos concelhos de Alcobaça, Nazaré e Porto de Mós. “Ainda organizaram um jantar em minha homenagem, mas preferi não aceitar. Porém, foi muito gratificante ver, no dia da despedida, a quantidade de pessoas que assistiu à minha viagem de regresso. Um comandante da SATA ainda me disse que nunca esperava ver um governador deposto ter tanta gente na despedida. Essa foi uma lição de humanidade”, contou o alcobacense.
Depois do 25 de Abril, regressou a Alcobaça e resistiu ao apelo da política. Foi convidado para se candidatar à Câmara da Batalha, mas recusou porque “não queria que se dissesse que os fascistas estavam de volta”, disse Sanches Branco ao REGIÃO DE CISTER.
Em 1995, participa na comissão de elevação de Alcobaça a cidade, uma das suas grandes obras. “Fiz parte do grupo de sete pessoas que integrou a comissão de elevação a cidade e recordo que tudo fizemos para que o processo tivesse êxito”, relatou Sanches Branco. Confessando “orgulho” em pertencer à comissão, recordou ter havido “alguma oposição ao processo”. “Conseguimos que os partidos locais se unissem e isso foi fundamental para que a elevação fosse aprovada na Assembleia da República. Essa foi uma grande vitória de Alcobaça”, completou.
O associativismo era uma das grandes paixões deste autêntico filantropo que, nas últimas três décadas de vida, foi dirigente de quase todas as coletividades de Alcobaça. Integrou os órgãos sociais da Santa Casa da Misericórdia de Alcobaça (presidente da Mesa da Assembleia Geral), do Centro de Educação Especial, Reabilitação e Integração de Alcobaça, da Banda de Alcobaça (presidente da Mesa da Assembleia Geral), da Associação dos Dadores Benévolos de Sangue, da Associação para a Defesa e Valorização do Património Cultural da Região de Alcobaça (vogal) e do Ginásio Clube de Alcobaça. Chegou ainda a participar no Conselho Geral do Hospital de Alcobaça. “Aquilo que sempre desejei foi que os alcobacenses se juntassem e unissem as mãos, porque temos ainda muitos outros projetos importantes para concluir, como o Museu Vieira Natividade”, frisou na mesma entrevista, na qual elencou o lar da Santa Casa da Misericórdia de Alcobaça como a sua “grande obra”. “Falou-se de várias possibilidades e o processo foi difícil, mas conseguimos ultrapassar os problemas”, lembrou.
Escreveu livros, entre os quais “Marcas e Sinais de Cister”, em conjunto com outros autores.
Nos últimos anos de vida, mesmo com a mobilidade reduzida, devido a problemas de saúde, fazia questão de responder a todos os convites que lhe eram formulados pelas entidades locais, às quais respondia com um sorriso amigo. Pôde ainda participar na homenagem que lhe foi prestada em fevereiro de 2004, ainda que tivessem sido precisos três anos para convencer Sanches Branco a ser homenageado. Não se considerava merecedor de “tal homenagem”, dizia. Marcaram presença no almoço mais de 300 pessoas, algumas vindas propositadamente do estrangeiro. A distinção surgiu pela dedicação que o antigo governador da Horta emprestou a inúmeras causas em Alcobaça.
Sanches Branco viveu junto da família, privando com os filhos mas, especialmente, com os netos, com quem gostava muito de conviver. Faleceu a 12 de julho de 2006, prestes a completar o 88.º aniversário.
Aquando da notícia do desaparecimento de António Sanches Branco, foram vários os testemunhos recolhidos pelo REGIÃO DE CISTER. “Foi a maior figura do século XX”, destacou o empresário João Raposo Magalhães “Um entusiasta. Um homem de uma enorme generosidade”, considerou José Ferreira Belo, então presidente da Direção do Ceeria. “Conseguia aliar a educação à frontalidade”, disse José Gonçalves Sapinho, à data presidente da Câmara de Alcobaça.
António Sanches da Silva Branco, um nome incontornável da história de Alcobaça no século XX, que em 2022 volta a ser recordado pela vida intensa dedicada à defesa de causas públicas, entre as quais a elevação de Alcobaça a cidade… há 27 anos.