Transformar a dor em amor. É isso que a alcobacense Joana Pena Ferreira tem feito desde que viu partir, inesperadamente, o seu melhor amigo de quatro patas. Desde o passado mês de dezembro, a psicóloga tem reservado duas horas por semana da agenda profissional para devolver em amor algum do tempo que passava com o seu cão. Em troca das consultas de psicologia gratuitas pede, no mínimo, um saco médio de ração para cão ou gato para depois doar ao Grupo de Ajuda e Proteção Animal de Alcobaça (Gapa) no final de cada mês.
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“Em conversa com o meu marido surgiu a ideia de canalizar esta dor em tempo que poderia dar a pessoas que estivessem a passar pelo mesmo ou precisassem simplesmente de falar sobre algo que as incomoda”, explicou Joana Pena Ferreira, que abriu um consultório de psicologia e coaching no centro de Alcobaça no passado mês de outubro. “É uma espécie de voluntariado que honra a memória do meu cão, que ajuda as pessoas e os animais”, acrescentou a psicóloga.
“Ringo”, em homenagem ao músico Ringo Starr, era um cão “doce, cheio de energia e bem intenso“ que foi oferecido por uns amigos da alcobacense e do marido há três anos. “Um dia escapuliu-se para ir ter com outros cães. Valente e tonto que nem só ele, mas eles eram muitos e o Ringo era só um”, conta. Ringo, um Jack Russell, acabaria por falecer nos braços de Joana Pena Ferreira, quando estava internado no veterinário. “Com a morte do Ringo reforcei a importância que é validar as nossas emoções, honrar as memórias, falando sobre elas com quem amamos, a importância do colo e da escuta paciente e compassiva”, sublinha a alcobacense.
Com a “Hora do Ringo”, a psicóloga garante que “quem precisa de apoio psicológico sente que esta é uma hora única”. A maior parte das pessoas que tem usufruído do serviços “não têm recursos financeiros para ter apoio psicológico mas precisam muito”, há também quem procure a “Hora do Ringo” por se “identificar com a causa animal e lidar com o luto animal de uma forma constante” e há quem “tenha simplesmente perdido o seu animal e não tenha conseguido fazer o luto porque é um luto marginalizado, ridicularizado, que não é compreendido“. A iniciativa, diz a psicóloga que trocou Lisboa por Alcobaça há quatro anos, “também tem servido para quebrar alguns preconceitos sobre a psicologia e o coaching“. “Já aconteceu partilhar a minha própria dor a falar do Ringo e emocionar-me. Também é um momento catártico para mim”, admite Joana Pena Ferreira, para quem é “importante encontrar um propósito na perda”. “Uma das coisas que nos faz ganhar resiliência é alimentarmos as emoções positivas. Temos de treinar o cérebro para olhar para o lado bom porque numa situação má também há aprendizagens“, considera.
A “Hora do Ringo” tornar-se-ia num movimento, uma vez que mais comerciantes quiseram associar-se à causa. OChico Hairstylist tem oferecido uma lavagem, secagem ou corte de cabelo semanal de utilização única. A Memória Lusa oferece uns kits com duas peças de cerâmica. Sempre a troco de comida para cão ou gato. Sempre para ajudar.