A família de Manuel Vieira Natividade demonstrou o desagrado face à “negligência governamental” no processo de conservação e manutenção do espólio doado ao Estado e exigiu uma intervenção imediata de forma a “corrigir erros do passado”.
A família de Manuel Vieira Natividade demonstrou o desagrado face à “negligência governamental” no processo de conservação e manutenção do espólio doado ao Estado e exigiu uma intervenção imediata de forma a “corrigir erros do passado”.
A posição da descendência do ilustre alcobacense foi reforçada nas comemorações do centenário da morte, que decorreram no Armazém das Artes, em Alcobaça, organizada pelo movimento “O REBATE” do qual fazem parte os alcobacenses José Aurélio, António Villa Nova, Ana Natividade Coelho, Mário Costa e João Lisboa.
A organização lamentou o facto de a iniciativa não estar integrada na exposição sobre o mesmo tema patente no Mosteiro de Alcobaça e declarou que, “apesar do interesse em fazê-lo e embora não tenha sido possível unir forças e chegar a um resultado final, criando uma exposição com o contributo de ambas as entidades”, o objetivo da homenagem d’ “O REBATE” “não visa ser uma contracomemoração.” Salientaram que no Mosteiro se comemoram “os Natividades, algo que não sabemos no que consiste”.
Debruçando-se sobre o projeto “Casa-Museu Vieira Natividade”, o bisneto de Vieira Natividade afirmou que “a esse museu falta-lhe ver a luz do dia e que a doação não está a cumprir o objetivo ambicionado pelos dadores e pelo próprio Natividade”, pelo que “alguém tem de dar um grito de alerta”. De acordo com António Natividade, o Governo deve adotar medidas como um maior cuidado de conservação do acervo, uma verificação do inventário “de forma a investigar o desaparecimento gradual de peças de grande valor cultural e histórico”, a cedência temporária do espólio a instituições de forma a divulgar o mesmo e a contribuir para a cultura nacional.
Fernando António Baptista Pereira, ex-adjunto do Ministro da Cultura para os Museus e Património, aconselhou os familiares do alcobacense homenageado a “pressionar as entidades responsáveis” de forma a alcançar os objetivos. O professor revelou que, já em 2005, o espólio apresentava “alguns problemas nomeadamente nos documentos em papel que tinham manchas de bolor e de humidade que necessitavam de tratamento urgente”. Fernando Baptista Pereira sublinhou ainda que a doação do espólio à Secretaria de Estado da Cultura foi um erro, uma vez que as peças deveriam ter ficado à guarda da Câmara de Alcobaça até à criação do museu, pois aquela entidade era a mais próxima da memória do falecido.
Rui Rasquilho relembrou as sucessivas tentativas de criar um espaço museológico dedicado a Vieira Natividade em Alcobaça nas instalações no Mosteiro, primeiro no século XIX na Sala do Capítulo do Mosteiro e depois com a assinatura do decreto de instituição feita por Mário Soares, enquanto primeiro-ministro, que viria a ser anulado por um despacho, assim como as iniciativas das ADEPA (Associação para a Defesa e Valorização do Património Cultural da Região de Alcobaça), que o têm inscrito nos estatutos.
Segundo o historiador, “as ações realizadas até ao momento tornam-se efémeras”, pois até à data estas não resultaram numa “mudança verdadeiramente relevante”. “Olho para vós e daqui a dez anos mais de metade estará morta e nessa altura já a casa-museu caiu”, alertou Rui Rasquilho.
Na ocasião, o professor Cláudio Torres, vencedor do Prémio Pessoa, referiu-se à região de Alcobaça anterior à implantação do Mosteiro. Sublinhou a importância do acervo arqueológico de Vieira Natividade para a construção da memória neolítica e mesolítica da região. “Há uma História antes do Mosteiro e depois do Mosteiro. Sem dúvida que Vieira Natividade foi uma importante personalidade desse período pós Convento”, afirmou Cláudio Torres.
Contactado pelo REGIÃO DE CISTER, o presidente da Câmara de Alcobaça adianta que “a autarquia está em diálogo com a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) para estudar a eventual transferência da tutela do património”, aguardando um memorando da entidade sobre o assunto. Lamentando que “o Estado não resolva a questão”, Paulo Inácio reitera que “o mais importante é que o assunto seja resolvido”.
O evento reuniu dezenas de pessoas e incluiu o lançamento da edição fac-símile do livro “Grutas d’ Alcobaça”, de Manuel Vieira Natividade, esgotado há vários anos, assim como o lançamento da medalha comemorativa do centenário da morte do insigne alcobacense, da autoria de José Aurélio. Em exposição esteve também o livro “O Povo da Minha Terra”, que reúne notas e registos de etnografia alcobacense.