O mini-mercado Clarisse é uma verdadeira benção sobretudo para as pessoas de mais idade da Mélvoa que, sem forma de se deslocarem, ali encontram um pouco de tudo, não fosse aquele o único espaço comercial da aldeia da União de Freguesias de Pataias e Martingança.
O mini-mercado Clarisse é uma verdadeira benção sobretudo para as pessoas de mais idade da Mélvoa que, sem forma de se deslocarem, ali encontram um pouco de tudo, não fosse aquele o único espaço comercial da aldeia da União de Freguesias de Pataias e Martingança.
E se, hoje em dia, a loja de Clarisse Filipe serve sobretudo os mais velhos, quando abriu, corria o ano de 1973, o cenário era bem diferente. Prestes a completar 70 anos, a empresária tinha 24 quando da parte inferior de sua casa resolveu fazer uma mercearia numa terra onde não existia qualquer loja. “Foi uma grande aventura abrir um negócio por conta própria”, recorda a melvoense, habituada desde cedo à agricultura, lides que dividia com os pais e os cinco irmãos. Tinha-se casado há um ano e o marido trabalhava, como ainda hoje trabalha, na construção civil. Foi então que Clarisse abriu sozinha o pequeno comércio e que um ano depois se voltou a aventurar noutro negócio mesmo ao lado, o café que abre religiosamente todos os dias, de segunda-feira a domingo, há 47 anos. A exceção foi precisamente este ano, quando a pandemia da Covid-19 a forçou a fechar o café durante alguns meses. Ainda pensou em encerrar definitivamente, que era o desejo dos dois filhos, mas depressa se lembrou que “na Mélvoa não há mais nada” e sentiu que não era ainda hora de deixar a terra sem o cafezinho de bairro. “Há muita gente que vai à mercearia e acaba por pedir um café, uma cerveja ou outra coisa qualquer”, garante Clarisse Filipe, ciente de que “os mais novos vão às grandes superfícies e os de mais idade continuam a vir aqui”.
Mais do que o espírito de missão por ter os únicos espaços comerciais da Mélvoa, a empresária sente-se muito próxima dos clientes, de quem conhece os nomes, os familiares e as dores e aos quais nunca se esquece de perguntar se estão melhores de alguma maleita que andem a enfrentar. “Falamos com as pessoas como se fossem família”, explica.
Durante os últimos 47 anos, Clarisse assistiu ao nascimento e ao fim de várias fábricas, tanto na Mélvoa como nos Pisões, ali ao lado. Encerramentos que tiveram influência no número de clientes que foi tendo, menos hoje do que no passado.
A casa chegou a ser posto de abastecimento de gasolina para motorizadas, mas sobretudo para motores de rega e de sulfatar. “Vendia tanto de gasolina como de petróleo. Foi uma vida de muito trabalho”, lembra a melvoense. Hoje, como no passado, os fornecedores levam-lhe os produtos à porta da mercearia e do café, onde vende os mesmos bolos da Nazaré há várias décadas.
Vai completar meio século à frente do negócio? A resposta sai pronta: “Se tiver saúde, sim, claro”, porque a coragem, essa, não lhe falta.