Arrendar uma casa na vila da Nazaré ou na cidade de Alcobaça por menos de 500 euros é (quase) encontrar uma agulha no palheiro. Dalila Couto encontrou-a, depois de três meses à procura de uma habitação em Alcobaça.
“Foi a única casa que encontrei por menos de 500 euros na cidade, mas apenas porque soube por uns amigos que o apartamento ia ficar disponível e antecipei-me a falar com o proprietário”, conta a técnica administrativa, que vive na cidade há cerca de um ano. Desde que se mudou de Coimbra para Alcobaça, esta é a segunda casa que arrenda.
“Foi a mais difícil de encontrar e será a renda mais cara da casa que vou pagar nas várias cidades que estive desde que saí de casa dos meus pais”, confessa. Dalila Couto fala de uma “verdadeira aventura” em encontrar casas para arrendar em Alcobaça e nas freguesias limítrofes. “Algumas das poucas casas que fomos ver tinham rendas acima dos 600 euros, não estavam mobiladas – nem sequer com os equipamentos na cozinha – e as áreas eram muito pequenas”, confidencia a inquilina, que acabou por ter a “sorte” de arrendar casa na cidade onde trabalha, sem “ter o custo extra das deslocações”.
A verdade é que, segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística, arrendar casa em Alcobaça tem um custo cada vez mais elevado: o preço mediano das rendas chegou aos 4,20 euros/m2 no segundo semestre de 2022 (últimos 12 meses), um valor 7% superior ao mesmo período de 2020, quando a renda de uma casa custava 3,91 euros/m2. Na Nazaré, o cenário ainda é mais devastador: em dois anos, o preço para arrendar uma casa aumentou em cerca de 24%, de 4,17 euros/m2 passou para 5,17 euros/m2. Em Porto de Mós, as rendas são mais baixas, mas ainda assim registaram-se aumentos em dois anos: de 3,21 euros/m2 em 2020 passou para 3,33 euros/m2 em 2022.
Os números são esmagadores, provando aquilo que parece ser uma evidência: arrendar uma casa tornou-se num pesadelo. Numa pesquisa rápida no portal de imobiliário “Idealista”, na passada terça-feira, surgem apenas 18 casas para arrendar no concelho de Alcobaça: a mais barata é um T0, com 31 metros quadrados, em São Martinho do Porto por 250 euros, e a mais cara é um apartamento T2, com 90 metros quadrados, na Avenida João de Deus, em Alcobaça, por 1.800 euros. Na Nazaré, das 19 casas disponíveis para arrendar na vila, a mais barata tem uma renda mensal de 700 euros (T1, com 40 metros quadrados) e a mais cara tem uma renda de 2 mil euros (um T3 com 130 metros quadrados). Em Porto de Mós, não existem naquele portal casas disponíveis para arrendar.
Na imobiliária Sousa & Vales, sediada em Alcobaça, há uma lista de espera para futuros inquilinos. “Todos os dias temos vários contactos de pessoas que querem arrendar casa, só hoje [terça-feira] recebemos quatro clientes na agência”, conta Rosaly Vales. “Quando comecei a trabalhar na área, há 15 anos, havia T3 para arrendar em Alcobaça a 280 euros, agora a média dos T3 ronda os 700 euros”, acrescenta a responsável. “Como não há construção, não há oferta”, constata. Além disso, “há cada vez mais emigrantes a viver na nossa região, sejam brasileiros, ucranianos ou indianos, o que faz com que a oferta de casas também seja cada vez menor”, acrescenta Rosaly Vales.
Há casas para recuperar, sim, garante a agente imobiliária, mas “ao comprar o que há as pessoas ficam sem dinheiro para fazer obras”. Além disso, “fazer um empréstimo ao banco hoje não é a mesma coisa que era”, nota.
Mergulhando nos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), publicados no dia 29 de setembro, as rendas medianas por metro quadrado de novos contratos de arrendamento de alojamentos familiares, subiram 8,6% no segundo trimestre de 2022 face ao mesmo período de 2021, chegando aos 6,55 euros por metro quadrado (euros/m2) no segundo trimestre do ano. No distrito de Leiria, durante o 1.º semestre de 2022, o concelho onde ficou mais caro arrendar casa foi o da Nazaré (5,17 euros/m2), acima do de Leiria (5,10 euros/metro quadrado) e das Caldas da Rainha (5,09 euros/metro quadrado).
O mercado de arrendamento está mais dinâmico e os dados do INE vêm provar isso mesmo. Houve mais famílias, em Alcobaça e Nazaré, a arrendar casa no primeiro semestre deste ano (681) comparando com o mesmo período de anos anteriores, quando foram registados 609 novos contratos em 2021 e 531 em 2020. Nazaré foi o concelho que registou um maior aumento (29%) em novos arrendamentos, em relação ao ano anterior, seguindo-se Alcobaça (12%). Em Porto de Mós, houve menos nove contratos.