Portugal é hoje o país com a menor percentagem e trabalhadores “muito satisfeitos” (21,6% ) na União Europeia, revelado um estudo realizado com 197 milhões de pessoas sobre os respetivos níveis de satisfação no trabalho, sendo a média da União Europeia 43,8%. Isto é um facto que é fácil cada um de nós observar e opinar, facilmente conhecemos pessoas que estão muito insatisfeitas com os seus trabalhos, quer pelas condições precárias, quer pela forma como não são reconhecidos nos seus trabalhos, os níveis de exigência e até as formas de avaliação, que viriam para ser justas, mas muitas das vezes é apenas um fator de insatisfação e de stress.
Não deixando de considerar todo o mal-estar que se vive a nível económico, político e social, associando o crescimento de perturbação mental e transtornos como ansiedade e depressão, sou da opinião de que continuamos a promover um padrão comportamental coletivo, que lhe chamaria de síndrome do desprotegido. Há uma espécie de ideia no ar (e na mente das pessoas) de que precisa ser protegida, por um patrão, por um cônjuge, por um Estado. E que além de proteger deve reconhecer o valor e o talento. Como não consegue fazê-lo, a pessoa vai continuamente sentindo-se desprotegida e desvalorizada no trabalho, em casa e na sua vida geral como cidadã. Nada corresponde às suas necessidades. E não mesmo. Como as suas necessidades não são satisfeitas, e a sua identidade e estima está associada às mesmas, a pessoa vai-se sentindo cada vez mais insatisfeita, pessimista e com vontade de destilar ódios para cada um com que interage.
Não estou a dizer que não tenha motivos para se sentir mal ou que o faça de forma consciente: faz o melhor que consegue dentro deste chapéu mental coletivo, da ideia de que uns têm que proteger os outros. A questão é que enquanto a pessoa não colocar na cabecinha que tem poder sobre si mesma e que só ela pode mudar a sua vida, e reconhecer o seu valor, ela vai continuar dentro deste chapéu mental coletivo. Saia daí, fora do chapéu mental pode molhar-se, mas será abençoado pelo seu poder e amor-próprio.
Tanto se fala de amor, amor-próprio, autoestima, mas continuamos sem ir ao foco do problema. Fala-se de conceitos, meros conceitos, como de matemática e ciências, mas não se abordam as questões realmente importantes: a aprendizagem de se ser livre. Livre em pensamento, de se questionar sobre quem quer ser nesta vida, como quer olhar para a vida, como gostaria de saber que a viveu, ao invés de a sobreviver. Saber que a identidade não está colada a pareceres morais ou coletivos, mas na consciência de quem se é. A pessoa que se sente livre também se zanga, claro, com as circunstâncias de vida atuais, mas ela não se deixa ficar na reclamação pelas redes sociais, ela recolhe-se e reflete: como pode ter uma vida mais gratificante? Ela não depende da valorização do A ou do B, até porque sabe, na pele, a velha máxima, hoje é bestial amanhã um zero. E muito menos dependerá de reformas e reformulações de um governo, sobretudo enquanto dele vier um pensamento similar à caixinha de ofertas. Que seria se nos dessemos a isso: acharmos que somos reconhecidos pelas caixinhas de ofertas? Que seria da nossa identidade como seres individuais se achássemos que a nossa valorização e reconhecimento advém daí? Pensar pela própria cabeça, focar-se mais em si mesmo, nos seus talentos, nas suas capacidades. Isso ajudará a concentrar-se mais em si e dispersar-se menos nos outros. Mesmo com medo, vai. E para quem nesta altura estiver a questionar-se, “mas isso não fará de nós mais egoístas?” (mais?), não. Uma pessoa que reconheça genuinamente o seu valor, sabe que cada um tem valor, que ninguém é melhor que outro, deixa de ter pena dos outros, para ser compassivo e passa a transmitir-lhes força, porque acredita neles. E se eles não quiserem, tudo bem também. A pessoa que acredita no seu valor-próprio não está presa a caixinhas de ofertas, ela vai lá e faz. Avança. Mostra pela sua ação a sua própria liderança. Não age por seguidores, não age porque os outros fazem, age por si mesma. Quando sente injustiças, não fica parada a olhar para elas, se puder fazer algo faz, mas avança, focada no que quer viver.