Branquinho da Fonseca e José Maria Carvalho Júnior são nomes que se associam à histórica coletividade Biblioteca da Nazaré, que os dois ajudaram a fundar em 1939 para promover a cultura. É, no entanto, o rosto de Ana Bela Isaac que os nazarenos associam à octogenária associação, sobretudo nas últimas cinco décadas.
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Acabou de se aposentar da profissão que exercia na Biblioteca da Nazaré, mas não se reformou da coletividade popular que este ano assinala 85 anos. É Ana Bela Isaac que o reconhece, rodeada de livros e de projetos, que mantém como sócia e voluntária, mas também como elemento da Direção, o que sucedeu pela primeira vez na história de ambas. “Sempre senti que era a ligação entre os sócios e a Direção”, explica Ana Bela para clarificar porque, e apesar dos vários convites, nunca quis pertencer ao órgão executivo.
É natural da Ericeira, mas vive na Nazaré, terra da família materna, desde os 11 anos. Foi com essa idade que entrou pela primeira vez no espaço da Rua Mouzinho de Albuquerque, na vila, onde prontamente se inscreveu para ter acesso aos serviços da Gulbenkian. Mais tarde, em janeiro de 1974, fez-se sócia da coletividade e logo nesse ano participou na organização da Feira do Livro, um evento que nunca mais largou, que a Biblioteca da Nazaré promove anualmente e que nem a pandemia interrompeu.
Muitos estranharão saber que Ana Bela Isaac não estudou além do 6.º ano de escolaridade. “Tudo o que sei aprendi aqui”, confessa, orgulhosa. É fácil de entender. Desde tenra idade, praticamente todas as semanas requisitava mais do que um livro, que lia avidamente até à próxima visita à Biblioteca da Nazaré. Uma rotina que mantém há meio século, o que se traduz nuns bons milhares de livros.
Entre o espólio da Biblioteca da Nazaré constam antigas preciosidades, como a obra Estado Actual das Pescas, um livro ilustrado, de 1892, mas também projetos como a Feira do Livro da Nazaré, que organiza há meio século, ou como o do arquivo dos jornais da Nazaré desde 1899, todos disponíveis em microfilme.
A história da coletividade, que promoveu aulas de alfabetização na década de 1970, sempre se fez de livros e de jornais, mas foi muito além disso. Foi dali que partiu todo o material para a célebre manifestação no 1.º de Maio de 1974, que conduziu à destituição do presidente da Câmara do regime e à posterior eleição, em 1976, do primeiro presidente em democracia, Abílio Santos e Sousa.