O papel de silicone proveniente dos autocolantes utilizados para a rotulagem dos vinhos deixou de ser um problema para as empresas e para o ambiente. A “culpa” é da dupla de irmãos mirenses, André e Samuel Pinto, que descobriram uma nova vida para este material, tornando-o num recurso sustentável e económico.
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“A ideia já existe há alguns anos. Juntamente com a Universidade da Beira Interior desenvolvemos um método físico-químico e conseguimos fazer a neutralização dessa base siliconada e fazer a reintrodução das fibras novamente no mercado”, explica ao REGIÃO DE CISTER Samuel Pinto, um dos responsáveis pelo projeto. “Fazemos a recolha do papel siliconado, fazemos o tratamento interno através de introdução de água, agentes químicos, roupagem, que basicamente é a desintegração, ou seja, depois o processo de secagem e o embalamento”, descreve o mirense.
A ideia rapidamente chamou a atenção do setor vitivinícola, que enfrentava um sério problema com os resíduos gerados pelos rótulos das garrafas. “A gestora do Ambiente do grupo Parras Wines, [com sede em Alcobaça] entrou em contato com a Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA) e disse que finalmente tinha descoberto alguém que conseguia fazer o tratamento deste resíduo. A CVRA veio às nossas instalações para verificar a eficácia do método e, a partir daí, começámos a receber contactos de várias vinhas do Alentejo”, recorda Samuel Pinto.
Resolvida o problema inicial, surgiu, de uma forma informal e fruto da imaginação dos irmãos Pinto, um novo produto feito a partir do resíduo tratado proveniente do papel siliconado, que permite a reutilização por parte das empresas, numa lógica sustentável e, não menos importante, económica. “Inventámos aqui uma peça em que os produtores de vinho podem utilizar para depois fazer o envio das garrafas, é uma solução do packaging, que pode substituir o esferovite, por exemplo”, atesta o empreendedor, enumerando alguns dos benefícios. “Além de resolver um problema de toneladas de resíduos, o produtor consegue ter uma solução mais amiga do ambiente e uma redução de custo para o cliente final de cerca de 45%”, refere o jovem.
A solução tem sido aplicada no setor vitivinícola, mas poder-se-á estender a outros setores, dada a elevada quantidade de indústrias que carecem de uma solução para resolver o mesmo flagelo.
Recentemente, a dupla esteve em Londres, a convite da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana, no âmbito do programa Sustainability in Drinks, para falar sobre como de um resíduo difícil de eliminar pode ser criado um packaging. No evento participaram entidades dos Estados Unidos, Chile, Argentina, Austrália e Reino Unido, que puderam conhecer de perto o processo desenvolvido pelos empreendedores mirenses.


