É provável que tenha em casa alguma peça de barro vermelho feita pelas mãos de José Alves, o último oleiro da freguesia de Pedreiras que trabalha na roda.
É provável que tenha em casa alguma peça de barro vermelho feita pelas mãos de José Alves, o último oleiro da freguesia de Pedreiras que trabalha na roda.
“Já nasci no meio do barro. Mas acabei por sair da escola quando tinha 12 anos para ir ajudar o meu pai com os muitos púcaros que se faziam para a resina”, recorda José Alves, que hoje tem 62. Embora não se saiba exatamente a data de início, o negócio familiar da olaria começou com o seu tetravô na oficina onde hoje funciona a Olaria de Barro Vermelho, empresa que José Alves criou, na Tremoceira. “Acabei por me entusiasmar com os trocos que recebia na época e ainda hoje aqui estou“, atesta o oleiro, que foi o único de seis irmãos a aprender e a trabalhar no ofício. “Chegaram a haver mais de 30 olarias a trabalhar na freguesia das Pedreiras mas hoje, apesar de haver mais olarias, sou o único a trabalhar na roda”, lamenta.
Sejam tachos, panelas, vasos, frigideiras, bilhas de água, assa-chouriços, pratos, saladeiras, descansa colheres, tijelas para a sopa, copos ou azeitoneiras… o processo de cada peça da louça vermelha, lisa ou personalizada, é sempre o mesmo: “desde a preparação, ao acabamento e à pintura tem de haver minúcia, motivação e carinho no que se faz”, sublinha o oleiro.
As peças que saem da Olaria de Barro Vermelho são muito utilizadas na restauração, na decoração, nas feiras medievais e em festivais de sopa, mas com os eventos todos cancelados desde final de março devido à pandemia da Covid-19, tem sido um “desastre”. “Trabalhamos muito para o mercado nacional, mas com o confinamento e a pandemia tivemos milhares de encomendas canceladas”, conta José Alves. A Olaria de Barro Vermelho viu-se, por isso, obrigada a entrar em lay-off nos meses de março e abril.
Entretanto, o negócio começa aos poucos a recuperar. As encomendas de clientes nos Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Bélgica, Suécia, Inglaterra, França, num volume de exportação que já representa 40% do negócio, têm ajudado a atenuar as quebras de vendas.
Mas, também a inovação na pintura das peças de barro vermelho tem sido uma mais-valia para o negócio da olaria da família. “Julgava que a sucessão no negócio estava perdida mas uma das minhas filhas acabou por me vir ajudar e trouxe alguma inovação e contemporaneidade através das pinturas que faz nas peças”, explica José Alves. Os vasos têm sido um sucesso, mas também os pratos e outras peças que os clientes pedem personalizados têm saído muito.
Com cinco postos de trabalho, a Olaria trabalha para diversos restaurantes da região. “O barro vermelho é muito bom para a louça utilitária, fazem-se uns guisados espetaculares. Num tacho de barro a carne apura-se melhor”, atesta, entre risos, José Alves. O tacho do Frango na Púcara, prato típico em Alcobaça, é exemplo de que a tradição ainda é o que era… sem ser preciso atirar o barro à parede.