Há quem trate um cão como um filho. Dá-lhe a alimentação mais equilibrada, presta-lhe cuidados de saúde e higiene, ensina-lhe as regras básicas de educação e até o leva… à escola. Na região, crescem as creches e escolas de treino que acolhem os “patudos” com serviços individualizados, consoante a vontade dos donos.
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“Um dos principais objetivos do nosso trabalho é mostrar aos donos que é possível ter um cão saudável, com um comportamento equilibrado e perfeitamente enquadrado na dinâmica familiar”, explica ao REGIÃO DE CISTER Lucas Esperança, responsável pelo “Pack 5 Training”, um projeto localizado na Nazaré e que nasceu, durante a pandemia, no quintal da casa dos pais do jovem de 25 anos. “Senti que os cinco cães da minha família tinham graves problemas comportamentais e interessei-me pela área de tal maneira que decidi fazer disto a minha vida profissional”, conta Lucas Esperança, esclarecendo que o nome do projeto alude àqueles cinco “patudos” que motivaram a criação da marca.
Após três anos de atividade e já com um espaço próprio, os serviços do Pack 5 Training albergam 37 cães. Para entrar na creche, é feita, numa primeira fase, uma avaliação comportamental em que os cães do cliente são colocados em contacto com os cães de Lucas – socialmente mais experientes. Caso a reação dos “patudos” seja positiva, na segunda fase, os cães são integrados na creche, sendo os primeiros a chegar e a receber todos os outros “colegas de quatro patas”. Na dinâmica da creche é promovida “a socialização entre os cães com atividades olfativas e sensoriais”. Neste espaço os cães usufruem do serviço “daycare”, no qual, num ambiente controlado por profissionais, podem “expressar todos os seus comportamentos naturais”.
Para cães que, por questões comportamentais, não podem integrar a creche, o projeto tem a variável “dogwalking” que “promove caminhadas com cães que tenham problemas de stress e/ou sociabilização”. O Pack 5 Training integra também o treino que contempla duas vertentes: a obediência básica e a modificação comportamental. Lucas Esperança considera estas duas componentes muito importantes, pois recorrendo apenas ao reforço positivo, “permite que o cão saiba estar em diferentes ambientes, sem a necessidade de estar preso, respeitando as ordens do dono”, explica o jovem. Na impossibilidade de ter o animal na creche, o dono pode ainda assim contar com a ajuda do Pack 5 Training para cuidar do “pet” através do serviço de petsitting, que chega até ao domicílio, garantindo várias atividades, todo o tratamento básico que os cães necessitem e, inclusivamente, deslocações ao veterinário.
Embalado pelo sucesso do projeto, Lucas Esperança está a preparar um podcast para abordar várias temáticas relacionadas com o comportamento canino intitulado e até já tem nome: “Ouve o Cão”. No futuro, o jovem espera que lhe seja concedida a licença de funcionamento pelo Município da Nazaré para conseguir dotar o espaço, que já é reconhecido pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, de melhores condições.
Na Cruz da Légua, no concelho de Porto de Mós, são 50 as “Trelas Soltas” que frequentam diariamente, em média, a creche orientada pelo enfermeiro veterinário Carlos Cruz. O projeto nasceu em Leiria há cerca de oito anos, tendo emergido na freguesia de Pedreiras há dois anos. “A minha experiência clínica levou-me a identificar a necessidade que existia em informar bem as pessoas sobre a vertente comportamental do cão”, começa por explicar o mentor do projeto. “Como não me revia com certos aconselhamentos por parte dos veterinários em clínica, decidi formar-me na parte comportamental para definir os protocolos de modificação desses comportamentos”, finaliza o portomosense que concilia as duas áreas na empresa.
Além da creche e do ATL, a Trelas Soltas tem mais valências agregadas, como a escola de treino de obediência básica e desportiva, o serviço de transporte de cães para a creche e ATL, a organização de eventos sociais em parceria com associações caninas, os treinos ao domicílio e o hotel para cães – um serviço exclusivo de estadia familiar para os “patudos” que já trabalham com a empresa, respeitando “o bem-estar e os hábitos do cão, bem como a rotina diária com o tutor”.
O projeto Trelas Soltas tem como missão principal “melhorar o comportamento dos cães, nunca recorrendo a qualquer tipo de punições ou castigos”. Carlos Cruz salienta que, na filosofia da empresa, a creche “distingue-se das outras empresas” pela abordagem que tem. “Não pensamos em cães que venham libertar energia, a creche é para nós um complemento de melhoria aos cães que trabalham connosco no treino”, vinca o mentor, acrescentando que durante aquele tempo os “patudos” recebem “estímulos de ordem física, mental e social”.
A procura por estes serviços tem sido crescente pela escassez de tempo para cuidar dos animais. Aliado a esse fator, Carlos Cruz justifica que há cada vez mais pessoas com animais de estimação, tendo em conta a tomada de decisões tardia e a necessidade de preencher lacunas de ordem sentimental. “Os jovens adiam os projetos familiares e, pela segurança financeira, a aquisição de um cão é mais viável”, nota. Por outro lado, “os animais são a companhia perfeita para a terceira idade porque ajudam a colmatar a solidão, sendo também uma motivação para realizar atividades”, finaliza. O projeto tem parcerias com o Município da Nazaré para a realização de eventos como a “cãolor run”. Além disso, tem ainda acordos com os Municípios da Batalha e de Porto de Mós, chegando às escolas e aos lares com ações de sensibilização, que utilizam os cães para estimular capacidades cognitivas e desenvolver competências sociais entre as pessoas do respetivo meio.
… e vão ao spa para cuidar de estética e bem-estar
Levar um animal de estimação a um spa ou uma clínica de “estética” pode parecer uma ideia invulgar, mas são cada vez mais os tutores de cães e gatos que optam por recorrer às mãos destes profissionais em prol do bem-estar dos seus patudos.
A enfermeira veterinária, Jéssica Florência, que abriu a Royal Pet em Alcobaça, que o diga. Com serviços de grooming (dimensão que promove a saúde e bem-estar animal integrando a vertente estética), que se distinguem pelas abordagens assentes em terapias alternativas no tratamento de cães e gatos, o projeto tem sido um sucesso para todos os públicos. “O objetivo passa por ter um espaço tranquilo, onde os animais se sintam relaxados para podermos identificar o problema e proceder ao respetivo tratamento”, clarifica a enfermeira veterinária. “Procuro ainda praticar preços que sejam acessíveis a pessoas com uma liberdade financeira mais restrita”, acrescenta. Antes de iniciar qualquer tratamento, é feito um “check-up” de avaliação ao animal, sendo preenchida, em conjunto com os donos, uma ficha de anamnese com vários parâmetros, desde a vertente estética aos hábitos e estado de saúde do animal. Concluído o diagnóstico, Jéssica Florência define o tratamento ajustado às necessidades e ao perfil do “pet”, passando para a parte prática. Neste capítulo, a responsável privilegia terapias mais suaves, como a ozonoterapia e a argiloterapia. “O banho de ozono e a máscara de argila são duas das abordagens que mais utilizo, pois são ótimas para o equilíbrio do microbioma da pele do animal”, explica.
O espaço agrega também serviços de tosquia, banhos, enfermagem, “check-ups” de rotina e… SPA. “Recorremos a esta valência terapêutica para relaxar os animais, ao mesmo tempo, são aplicados tratamentos que promovem o bem-estar e a saúde dos nossos ‘amigos’”, esclarece a jovem, realçando que, pela singularidade e pelos resultados possíveis de alcançar, aquele é um serviço que pretende apostar fortemente no futuro.
Em seis meses de atividade o projeto tem recebido apreciações “muito positivas”, contando já com cerca de 500 clientes de quatro patas.