Aníbal Figueiredo foi profissional no ramo da construção civil e no setor da hotelaria durante largas décadas, mas desde 2011, ano em que sofreu um AVC, a vida trocou-lhe as voltas e passou a ter uma profissão principal relacionada com os barcos. Mas, não se engane – Aníbal Figueiredo andou uma vez de barco e gosta de os ver… em terra firme –, falamos de barcos em miniatura. Ou seja, num termo mais técnico, modelismo estático, arte a que dedica o seu tempo desde 1999, mas, com maior enfoque, a partir de 2011.
Este conteúdo é apenas para assinantes
Não se tratam de barcos à deriva, mas sim verdadeiros “barcos com história”, exposição patente desde a passada sexta-feira, no Baú das Memórias, em Alfeizerão, 17 anos depois de o ter feito na Junta de Alfeizerão.
Na mostra, são exibidos 17 dos 36 exemplares que o alfeizerense de coração tem (cinco, inclusive, já foram ofertados a familiares). Desde o Titanic – um das primeiras maquetes que construiu –, à Caravela Redonda, ao Viking e a tantos outros que contam a história da marinha internacional, são verdadeira relíquias, com um pormenor tão rigoroso quanto a paixão que o artista, de 64 anos e natural de Coruche, nutre por aquela arte.
“Já perdi as horas de vida que dediquei a fazer isto”, conta aquando da visita do REGIÃO DE CISTER. E para o leitor ter apenas uma noção do tempo de dedicação que emprega esta arte, um dos barco que construiu demorou mais de 900 horas a ser concluído. Portanto, um total de 15 dias sem qualquer interrupção!
Mas, afinal, como decorre o processo? Pois bem, Aníbal Figueiredo compra o material – que é vendido em lojas específicas ou na internet – e, numa verdadeira “oficina” que tem num dos quartos de casa –, trabalha toda a madeira desde o seu início. Seca, corta, solda… todo o processo é proveniente da arte e engenho do antigo construtor civil, profissão que, por certo, o ajudou a ler os projetos e a colocar as mãos na massa.
“Desde que tive o AVC, este vício tem ganho cada vez mais expressão”, notou, merecendo a concordância da mulher, também presente na entrevista, que reconheceu que aquela arte “é uma verdadeira paixão dele”. Maria João nem colabora na realização dos projetos, mas é a principal fã do marido.
Para a conceção de cada embarcação, é necessário um rigor absolutamente meticuloso, uma sensibilidade ímpar no manuseamento do material e muita atenção. Até porque cada pormenor fará toda a diferença no resultado final.
A paixão pelo modelismo estático, contudo, não se fica pelos barcos. É que Aníbal Figueiredo começou mais recentemente a construir maquetes de edifícios, sejam elas prédios ou casas rurais.
E tudo com direito ao máximo pormenor. “Tenho uma casa que tem um candeeiro com cerca de cinco milímetros onde passam quatro fios para as quatro lâmpadas que dão luz à casa”, exemplifica, dando conta da exigência de todo o processo, que é, de resto, efetuado sempre com a adoção de medidas… ambientais.
“Aproveito tudo, tudo, tudo. Cada corte na madeira, por exemplo, é já a pensar para o que é que pode dar jeito também”, confidencia.
Aos 64 anos, e apesar de reformado, Aníbal Figueiredo garante que esta é uma paixão que quer continuar a alimentar enquanto for possível.
Sobre a quem um dia gostaria de deixar todo este espólio, o artista não esqueceu… a terra-natal.
“Têm lá vários museus e gostava que estes exemplares ficassem ao serviço da população da minha terra”, sublinhou.