Conheça a incrível história de vida do grande sonho canadiano de Adriano Codinha, um nazareno que se tornou num emigrante de sucesso no Canadá, onde fez fortuna.
Foi pescador. Trabalhou na traineira do Tonhe Vapor na Nazaré antes de ir para o bacalhau, onde conseguiu, através de um mestre, arranjar “os conhecimentos” que lhe permitiram obter um passaporte falso em Marrocos em 1959. Viajou para o Peru, na companhia de outro nazareno. Naquele país trabalhou como pescador, antes de chegar ao Canadá, onde fez de tudo um pouco até conseguir um emprego num restaurante numa estação de serviço. Não sabia falar inglês, mas tinha uma vontade enorme de vencer na vida. E revolucionou a indústria do catering, atingindo o topo da carreira como gestor na Air Canadian Pacific, que nos anos 1980 empregava 132 mil pessoas. Ao mesmo tempo que trabalhava em Toronto, geria uma empresa de pesca em Leamington, onde se fixou após entrar na idade de reforma. Transformou a empresa de pesca, que dava prejuízo, e passou a controlar a pesca no Lago Erie. Aos 85 anos, será um dos nazarenos mais ricos, com uma fortuna avaliada em milhões de euros. Eis a incrível história do grande sonho canadiano de Adriano Codinha.
“Sempre quis ser rico e estava disposto a fazer o que fosse preciso para o conseguir”, reconhece o antigo pescador, nascido no dia de Natal de 1934 no número 36 da Rua Adrião Batalha. De raízes humildes, teve uma infância comum a tantos outros nazarenos naqueles anos: o mar era o destino. Cedo se destacou na traineira e quando chegou o momento de optar pelo serviço militar ou pela pesca do bacalhau a escolha foi fácil: “No bacalhau ganhava mais”.
Esteve no “Corte Real” vários anos e foi ali que a sua vida começou a mudar, quando conheceu um mestre que apreciava a sua “rapidez e eficiência” no barco. “Perguntou-me se eu queria emigrar e disse-lhe que sim. Tratou-me de tudo. Juntei cinco contos e fui ao Governo Civil de Leiria para tirar o passaporte para Espanha. Fui a Algeciras e apanhei o barco para Tanger, onde estive alguns dias hospedado no Hotel Williams, que para minha sorte era de um português…”, recorda Adriano Codinha, que, “apesar de um valente susto”, lá conseguiu o passaporte “e para todo o continente americano, o que era quase impossível de obter”.
Acompanhado de um amigo nazareno, viajou para o Peru, onde tinha combinado encontrar outro português que iria ajudá-lo a obter o visto para o Canadá. Mas demorou. Teve de se fazer à vida e foi trabalhar num barco de pesca de um italiano, que mais tarde o condivou para comandar a embarcação. Recusou, porque entretanto já tinha obtido o visto tão ansiado. E conseguiu-o, em Calhau, por causa do… futebol. “A pessoa que passava as cédulas profissionais achou curioso eu ser português e perguntou-me se conhecia o Seminario, que era um peruano que jogava no Sporting. Foi a minha sorte. Disse-lhe que não só o conhecia, como até era do meu clube! Passou-me os papéis na hora” No dia seguinte, foi comprar uma gravata para o amigo e também para ele conseguiu a cédula. Faltava o tão precioso visto para viajar para o Canadá, que obteve novamente com alguma sorte à mistura. “A secretária do embaixador é que passou o visto, porque o embaixador estava em reunião…”, recorda.
Os dois amigos viajaram para o Canadá. Naquele país, Adriano Codinha fez de tudo um pouco, até se conseguir legalizar e trazer a esposa. Apanhou cenoura e tabaco, trabalhou na construção civil. E depois um nazareno, António Galveias, colocou-o como ajudante de mesa no Granite Club, um clube exclusivo de Toronto, onde chegou a capitão dos salões privados. Seguiu-se nova etapa num restaurante numa autoestrada, onde foi promovido a gerente. Já depois de obter os documentos e de conseguir “chamar a mulher”, pediu para sair, porque “vivia num ermo e queria ir para Toronto”.
Foi naquela cidade que teve uma carreira alucinante. Durante 17 anos trabalhou no aeroporto de Toronto, fazendo contabilidade e sendo responsável pelos preços de catering, naquele quera era um dos cinco maiores aeroportos do Mundo. Chegou a chefe de departamento da Cara Operations, que assegurava o catering dos transportes ferroviários e aéreos no Canadá. Destacou-se de tal forma que a empresa o “mandou para a Universidade” de Ryerson. Em 1975, recebe uma proposta milionária da Air Canadian. “Fui eu que fiz o meu próprio contrato, mas custou-me sair da empresa que me tinha dado tudo”, relembra. A desculpa para sair foi simples: “Eles dão-me viagens gratuitas para todo o mundo…” Ficou no aeroporto até 1980, mas já tinha barcos em Leamington – onde se fixou uma importante comunidade nazarena desde 1983. Fez fortuna, porque “tinha ambição e sabia trabalhar com método”. E conseguiu o que queria: “ser rico”. Já depois de aposentado, a empresa de pesca que possuía controlava o Lago Erie. Hoje, sente-se realizado. E cumpre os sonhos. Como visitar as 7 maravilhas do Mundo. Afinal, o sonho canadiano existe. Adriano Codinha demonstra-o.