De volta à escola, em todos os sentidos.
A escola pública é, na minha opinião, uma das mais importantes estruturas para a construção de uma sociedade coesa, igualitária e justa.
Nunca, das nossas aldeias, teria saído um doutor, filho de agricultor ou de pastor ou de pedreiro, se não fosse a escolaridade obrigatória e universal que a nossa democracia edificou. Hoje, sempre que vou à minha aldeia, tenho notícia de mais uma médica, um advogado, um empresário ou um engenheiro… Todos filhos ou netos de quem apenas teve a instrução primária, se tanto.
A escola pública não é perfeita, mas é o melhor elevador social que conheço e, apesar de não ter capacidade de mitigar todas as desigualdades dos alunos que cruzam os seus muros, tem, pelo menos, a capacidade de esbater muitas assimetrias e de permitir a esperança. Sim, a esperança de alcançar o conhecimento, a formação, a profissão ou a posição com que se sonha, quebrando o círculo vicioso das gerações anteriores.
Nem todos os alunos chegam à escola, pela manhã, de banho e pequeno-almoço tomados, mas a escola pode providenciar um lanche e um almoço, e tem-no feito. Nem todos os alunos dispõem de amigos ou familiares habilitados a dar umas explicações, mas a escola tem mecanismos de apoio especial.
Em casa, com ensino à distância, as desigualdades acentuam-se. Porque a internet não funciona, porque o computador avariou, porque a sala está a ser partilhada com demasiada gente para se ouvir o que seja, porque há alguém aos gritos, porque está frio ou a barriga está a dar horas…
À distância, as diferenças são menos visíveis, mas acentuam-se. Professores, alunos e comunidade escolar precisam dos 5 sentidos para avaliar as capacidades e as necessidades de cada aluno. Só na escola, na escola física, creio eu, se pode forjar um futuro melhor, em todos os sentidos. Oxalá não volte a ser interrompida!