E se dentro de uma dúzia de anos já não tivermos carro? Se ninguém possuir um automóvel, nem tiver de pagar uma prestação, um seguro, um selo, uma portagem ou um parque nem tiver a obrigação de dispor de uma garagem para estacionar o veículo?
Conseguimos imaginar um futuro em que os carros, silenciosa e ordeiramente, obedecem apenas aos comandos do nosso telefone e, sem atrasos e sem filas, nos levam para onde queremos, sempre que desejamos, e nada mais? Tudo em troca de uma mensalidade calculada em função de um máximo de horas ou de quilómetros de uso?
Este novo mundo emerge do nosso, onde um dos principais símbolos do estatuto individual é, ainda, a propriedade, a marca e a cilindrada do carro que cada um possui.
Neste futuro que vos convido a imaginar, é provável que a propriedade do objecto seja substituída pelo direito de uso. Já não se trata de ser dono de um carro, mas do direito de o utilizar. Falo dos carros, mas poderia estar a falar-vos de muitas outras coisas, que julgamos indispensáveis, mas são, sobretudo, resultado dos excessos do nosso tempo. Afinal, se fizermos bem as contas, muitos dos nossos objectos são usados apenas umas centésimas do seu tempo disponível.
Falo em concreto do carro, porque é um dos exemplos mais gritantes dos excessos e do subaproveitamento que fazemos dos recursos e porque a mobilidade me parece ser o grande desafio do futuro próximo. E como estamos agora a sair de uma situação improvável, pode ser um bom momento para vos desafiar a imaginar um mundo igualmente surpreendente mas muito, muito possível, em menos tempo do que imaginamos. Até porque, se assim não for, o nosso planeta pode fartar-se dos nossos excessos. Se tal acontecer, o planeta continua, mas nós podemos ficar pelo caminho.