Entrou na Banda de Alcobaça quando tinha 9 anos para aprender música, longe de imaginar que se tornaria no presidente em funções mais tempo naquela entidade centenária. Prestes a completar 25 anos ao leme da Banda de Alcobaça, Rui Morais está de saída da “casa”, onde deixou um vasto e reconhecido legado.
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“Sem falsas modéstias penso que fizemos um caminho notável. Os desafios foram muitos, mas com o contributo de todos os que me acompanharam, a quem estou profundamente agradecido, construímos um projeto que deve orgulhar Alcobaça“, salienta ao REGIÃO DE CISTER o alcobacense.
“Dei tudo a esta casa, mas também recebi muitíssimo e saio com a convicção de que o futuro será radioso”, acrescenta o ainda presidente da ABA – Banda de Alcobaça Associação de Artes. Rui Morais passou, literalmente, metade da sua vida à frente da instituição. Mas a ligação com a Banda de Alcobaça é ainda mais antiga.
Começou como aluno da escola de música, passou para a banda e, só mais tarde, depois de ter ido estudar para Lisboa, integrou os órgãos sociais, primeiro como vice-presidente e depois como presidente, funções que mantém até hoje. Mas, vamos por partes.
O alcobacense, que já estudava música na escola da Sinfonia, entrou na Banda de Alcobaça, aos 9 anos, quando a associação, fundada a 19 de março de 1920, estava num processo de ressurgimento após um interregno da atividade. Foram os pais de Rui Morais que inscreveram, aliás, os três filhos na escola de música da Banda. O mais velho começou no trompete, mas depressa trocou aquele instrumento musical pelo saxofone. Foi neste agrupamento, com o professor Álvaro Correia Guimarães, que consolidou o gosto pela música, ao ponto de, aos 10 anos, ter ingressado na Escola de Música do Conservatório Nacional e aos 15 mudar-se para Lisboa para poder continuar a estudar música e ao mesmo tempo frequentar o ensino regular.
Na capital, o então saxofonista destacou-se também no plano associativo, tendo sido eleito presidente da Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa e presidente da Associação Académica de Lisboa, quando estava a frequentar a licenciatura em Direito na Faculdade de Direito de Lisboa. Esse percurso acabaria por motivar Rui Morais a integrar os órgãos sociais da Banda de Alcobaça, tendo a oportunidade de dar um contributo na sua terra e na “sua” banda. Foi, então, eleito presidente da Direção da Banda de Alcobaça a 6 de maio de 2000 e, desde então, tem sido reeleito no cargo.
O primeiro grande “sonho” passava pela criação de um “conservatório” em Alcobaça, de forma a que os músicos não fossem obrigados a ir estudar para fora, como fora o seu caso. O sonho acabou por ser cumprido com a fundação da Academia de Música de Alcobaça (AMA), que obteve autorização do Ministério da Educação para iniciar o funcionamento a partir do ano letivo de 2002, sendo hoje uma das maiores escolas de ensino especializado de música do País. Em 2009 cria também a Academia de Dança de Alcobaça, juntado a dança à música.
Mas, ainda antes, em 2001, o alcobacense organiza o seu primeiro Cistermúsica, a convite da Câmara, à data entidade promotora do festival, que se tornou uma das grandes “marcas” de Rui Morais. Foi também nesse primeiro ano de mandato de Rui Morais na presidência, que a Banda de Alcobaça gravou o primeiro (de quatro) CD a propósito das comemorações dos 80 anos. Em 2004, acompanha, num concerto ao vivo, os “The Gift”, no tema “Guess Why” e, posteriormente, grava para o disco “AM-FM” da banda alcobacense. Com vários prémios arrecadados em diversos concursos nacionais e internacionais, a Banda de Alcobaça “ganha” um Coro em 2013.
Mais recentemente, a par do ensino artístico especializado, a Banda de Alcobaça passou a desenvolver, de forma crescente, projetos para a comunidade. Além do cargo de presidente, foi também diretor executivo da AMA, função que deixou em 2019, quando assumiu a área artística da instituição até 2022. Nesse ano saiu para assumir funções no Organismo de Produção Artística (OPART), em Lisboa. Ao longo dos anos consolidou a marca Cistermúsica, que além do Festival de Música de Alcobaça contempla hoje em dia o Cistermúsica Sacra e Cistermúsica Fronteiras, tendo criado ainda o Festival e Academia de Metais Graves Gravíssimo!, o Concurso Internacional de Música de Câmara “Cidade de Alcobaça” e, mais recentemente, feito ressurgir, o Festival de Ópera de Óbidos, em parceria com aquele Município.
Foi também com a visão do alcobacense que a Banda de Alcobaça diversificou ainda mais a atividade em março de 2014, adquirindo o o REGIÃO DE CISTER, semanário dos concelhos de Alcobaça, Nazaré e Porto de Mós. Com a eleição dos novos órgãos sociais, agendada para o próximo dia 21, abre-se um novo ciclo na Banda de Alcobaça e chega ao fim a “sinfonia” de quase 25 anos de Rui Morais.
Associação de Artes serve 4 mil alunos na região
A Banda de Alcobaça, que passou de uma coletividade musical tradicional para uma associação artística de referência com a criação da Academia de Música de Alcobaça em 2002, já serve cerca de 4 mil alunos nos concelhos de Alcobaça, Nazaré, Rio Maior, Porto de Mós e Caldas da Rainha e dá trabalho a mais de uma centena de trabalhadores (95 professores e 22 pessoal não docente).
Para este ano, a ambição é crescer ainda mais. Na área educativa da agora denominada ABA – Banda de Alcobaça Associação de Artes destaca-se a assinatura do novo Contrato Patrocínio 2024–2030 com a Direção Geral dos Estabelecimentos de Ensino, que possibilita a continuidade das atividades da Academia de Música de Alcobaça (AMA) nos cursos artísticos de música e dança, que contabilizam mais de 600 inscrições de alunos.
No âmbito da área artística, antecipa-se a consolidação do modelo em vigor, com o Cistermúsica a afirmar-se como uma temporada anual. Também a prossecução do Festival de Ópera de Óbidos, com uma nova direção artística, pretende consolidar a sua programação a nível nacional, ambicionando ainda iniciar um posicionamento internacional.
Na área social, que já abrange cerca de 3.400 alunos de vários agrupamentos escolares da região, prevê-se para este ano a manutenção de um alargado leque de parcerias. Os vários “Projetos para a Comunidade” destacam-se como exemplos do compromisso com a educação inclusiva e a coesão social. Sobre a componente financeira preveem-se também resultados históricos: estima-se que em 2025 a execução orçamental ultrapasse os 2,5 milhões de euros, valor que espelha a dimensão da ABA enquanto instituição de utilidade pública nos planos educativo, artístico e social.
“Deixo uma associação muito estável, com um plano que assegura o equilíbrio entre a ambição e a sustentabilidade a médio prazo”, salienta Rui Morais. “Uma das coisas que mais me orgulha é a equipa de profissionais da associação, que, agora em torno de uma nova liderança, estou certo de que não só continuará este caminho, mas que acrescentará novas ideias e projetos”.