O trabalho desenvolvido diariamente na Fábrica da Água, em São Martinho do Porto, é um trabalho invisível à maior parte da população, mas assume um papel fundamental na vida humana e na preservação do meio ambiente.
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O REGIÃO DE CISTER foi visitar aquela estação de tratamento de águas residuais, que pertence à empresa Águas do Tejo Atlântico, do Grupo Águas e Portugal, para perceber como funciona um processo que começa no Emissário da Ribeira de Alfeizerão (com extensão de 22 quilómetros) e que, depois de um meticuloso tratamento, acaba por ser descarregado em mar aberto. Expliquemos.
Aquele sistema de saneamento, com capacidade para servir uma população de 35 mil habitantes e dimensionado para um caudal médio diário de 5.400 metros cúbicos, serve as freguesias de Alfeizerão, Benedita, Cela, Évora de Alcobaça, São Martinho do Porto, Turquel e Vimeiro, abrangendo ainda a freguesia de Salir do Porto, já no concelho de Caldas da Rainha.
E tudo começa na fase de pré-tratamento, que consiste na remoção de sólidos grosseiros, areias e gorduras através de várias infraestruturas preparadas para o efeito.
Os subprodutos daí resultantes acabam por ser encaminhados para destino final. Ultrapassada a primeira fase, as águas residuais são depois encaminhadas para decantadores primários, nos quais é feita uma separação entre os sólidos e os líquidos, sendo que, nesta etapa, as lamas primárias são “elevadas” para a fase sólida, contextualiza a engenheira responsável pelo sistema.
De seguida, o processo continua com os tratamentos secundários, em que, com recurso a um reator biológico e a um seletor, é possível antever eventuais problemas no tratamento biológico.Nessa fase, são criadas condições para o crescimento de microrganismos que são responsáveis pela degradação dos poluentes verificados nas águas residuais.
Através de um decantador secundário, para onde seguem depois, ocorre uma separação por fases, ficando à superfície o efluente clarificado, esclareceu ainda.
Posto isto, esse mesmo efluente passa por uma desinfeção por radiações ultravioleta, fase na qual é removida a sua componente microbiológica, e é utilizada na lavagem e na rega, com o excedente a ser descarregado no mar através de um emissário submarino.
A água tratada, na sequência da decantação secundária, passa por uma desinfeção, permitindo que esta possa ser utilizada para fins diversos e descarregada nos meios recetores que poderão ser utilizadas em várias situação como fins agrícolas ou em processos internos da Fábrica da Água.
O processo continua também com o tratamento dos resíduos na fase sólida, que passam por uma série de “tratamentos” até ao destino final, que é a valorização agrícola e a compostagem.
Os benefícios da água residual tratada, conforme explicava Cristália Duarte, são vários, nomeadamente na rega de campos agrícolas, na utilização em sistemas de climatização e lavagem de vários tipos de equipamentos, assim como na rega de espaços verdes, lavagem das ruas e outros equipamentos.
Ao lado, Jorge Gomes, responsável pela comunicação da empresa, ia dando vários exemplos de locais em que tal acontece.
Além disso, os produtos extraídos do tratamento, podem ser destinados à agricultura e à compostagem (biolamas), a biogás para produção de energia elétrica ver (biocombustíveis), processos produtivos, com recurso a bioplásticos, ou bionutrientes e metais.
Após todo este processo, que atrás é resumido, as águas residuais tratadas são “devolvidas” ao meio recetor protegendo o meio ambiente e os seus ecossistemas, a “saúde pública e a redescoberta do mar e rios como espaços de desporto e lazer”, elencaram.
A Águas do Tejo Atlântico é a maior empresa de recolha e tratamento de águas residuais no País, tendo um raio de ação que se estende a 23 municípios da Área Metropolitana de Lisboa e do Oeste, num total de mais de 2 milhões de habitantes.
No caso da Fábrica da Água, em São Martinho do Porto, que emprega nove colaboradores, resultou de um investimento de 7,5 milhões de euros, com comparticipação de 85% pelo Fundo de Coesão da União Europeia.
“Temos de cumprir uma licença de descarga, que estabelece os valores limites de emissão e a qualidade de água que nos é exigida na descarga”, explicou a responsável, adiantando que, em 2024, segundo os últimos dados estatísticos, a Fábrica da Água de São Martinho do Porto tratou cerca de 800 milhões de litros de água.
“É um trabalho invisível, mas essencial para a vida e para a preservação do meio ambiente”, rematou Cristália Duarte.