Depois de falar em “desinformação” e esclarecido que “não houve hospitalizações” de banhistas decorrentes da descarga de esgotos no mar da Praia da Nazaré, o presidente da Câmara pediu “desculpa aos lesados, não só ao nível da saúde, mas também da economia local”. As palavras de Manuel António Sequeira foram proferidas na passada segunda-feira, durante a reunião do executivo, oito dias depois de ter sido detetada a primeira anomalia no sistema pluvial de esgotos, o que levou à interdição dos banhos naquela praia na sexta-feira passada, após várias dezenas de pessoas se terem dirigido às urgências dos Hospitais de Alcobaça e de Leiria com vómitos e diarreia.
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“A interdição da praia foi determinada pela associação feita entre o surto de gastroenterite e a contaminação da água do mar”, referiu o vereador do Ambiente, a quem coube dar explicações sobre um problema que foi detetado a 27 de julho pelos Serviços Municipalizados (SM). Salvador Formiga deixou claro que “até ao momento não existem provas que sustentem essa relação direta”. “São inúmeros os relatos de pessoas que não frequentaram a Praia da Nazaré ou frequentaram outras praias”, garantiu o vereador.
O vereador responsável pelos SM, Orlando Rodrigues, não se coibiu de lembrar “as sarjetas pluviais completamente obstruídas com óleo usado”. “Depois admiram-se”, disse o autarca, que contabilizou “20 obstruções entre novembro e fevereiro”. Além dos óleos despejados nas sarjetas pluviais nas ruas, Orlando Rodrigues falou de detritos como “pensos higiénicos e toalhitas” encontrados aquando das desobstruções.
Num longo comunicado que leu, Salvador Formiga esclareceu que o entupimento teve origem na Rua de Leiria, foi solucionado, mas, no dia seguinte, o mau cheiro persistiu e os funcionários dos SM “verificaram todas as caixas de visita, mas não encontraram nada”. Os Serviços Municipalizados contrataram, então, “uma limpeza especializada na limpeza e desobstrução de coletores e condutas”, que tinha ainda a missão de lavar a estação elevatória da Praça Manuel Arriaga. No entanto, o mau cheiro continuava junto ao emissário. “Já dei indicações aos serviços, para a contratação de uma inspeção, para se perceber se existe alguma ligação ao emissário, que possa ter sido utilizada ilegalmente e até, quem sabe, de forma dolosa”, garantiu o socialista.
Após novos relatos de maus cheiros na quarta-feira da passada semana, dia 30, “foi solicitado à empresa o reforço do serviço que já vinha a prestar e foram também pedida a antecipação das análises semanais que nos presta”, assegurou. No dia seguinte, 31, “já não se registou mau cheiro”, continuou o edil, “e foram efetuadas análises”. A praia é, finalmente, interditada a banhos no primeiro dia de agosto, pelo delegado de saúde, “por precaução, e foram feitas análises laboratoriais que confirmassem a contaminação da água balnear, num momento em que já não existiam escorrências no emissário submarino”. Foi, então, levantada a interdição, no passado sábado, depois de as análises à água o permitirem, esclareceu o autarca, que deixou “uma palavra de solidariedade e empatia” a “todas as pessoas afetadas por este surto”.
Salvador Formiga anunciou um “plano de ação preventivo”, a ser executado antes de cada época balnear, com uma série de indicações para aplicar no terreno. O autarca deu ainda a conhecer a intenção de adotar “um protocolo de atuação em casos de contaminação”, com o objetivo de “dar uma resposta rápida”, “permitindo a interdição preventiva da praia sempre que existam indícios claros de poluição, mesmo antes de análises laboratoriais confirmarem a contaminação”.
“A grande falha foi a sua falta de humildade”, criticou a vereadora social-democrata, dirigindo-se ao vereador do Ambiente. “Logo assim que as pessoas começaram a colocar vídeos e a falar sobre o assunto, deveria ter vindo a público pedir desculpas pelo ocorrido e dizer que se preocupava com a saúde pública e que ia interditar a praia”, sustentou Fátima Duarte. “Manda a prudência que se ice a bandeira vermelha assim que uma anomalia é detetada”, defendeu António Caria dos Santos, vereador da CDU, em regime de substituição.