Tudo começou com um passo e com muita vontade de recomeçar. Há quase década e meia, o pataiense Agnelo Ferreira, então em recuperação de um AVC, decidiu que era tempo de voltar a andar, devagar, com calma e com companhia.
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Em 2011, lançou um repto simples: juntar amigos na praça principal de Pataias e caminhar até às Paredes, pelos moinhos e pelos trilhos que conhecia bem. “Vieram umas 40 pessoas, de idades muito diversas, pais e filhos. Foi o início do Sola de Alparcata”, recorda.
Desde então, o grupo nunca mais parou (ou quase). A pandemia travou o ritmo por algum tempo, mas o espírito manteve-se vivo. Hoje, os “solas” continuam a caminhar uma vez por mês, sempre em boa disposição e sem outro objetivo que não seja partilhar o prazer de andar, conversar e conviver.
Ao longo dos anos, já realizaram 160 caminhadas, e a próxima, marcada para o próximo dia 16, levará o grupo até Condeixa-a-Nova, para conhecer as Buracas de Casmilo, na serra de Sicó. “Vamos ser cerca de 30 pessoas. Não queremos alargar muito, para manter o espírito de grupo e para podermos conversar”, explica Agnelo, que prefere caminhadas de pequena escala e bem organizadas.
Entre os participantes, há quem venha de várias freguesias vizinhas – metade são de Pataias, a outra metade das redondezas –, com idades que vão dos 15 aos 80 anos. “Temos um casal de Salir de Matos, na casa dos 80, que ainda alinha connosco. São um exemplo para todos nós”, conta com orgulho.
O grupo teve já momentos de grande dinamismo, com apoios de câmaras municipais e deslocações a diferentes regiões, sempre com visitas culturais e convívios à mesa. “Havia sempre uma visita e um almoço, era um dia em cheio. Mas o Sola de Alparcata nunca teve o propósito de angariar dinheiro, o que entrava era gasto na atividade seguinte. Era para caminhar, não para guardar”, sublinha.
Com o tempo, e depois das dificuldades da pandemia, o grupo optou por regressar às origens. “Decidimos fazer coisas mais próximas, reagrupar a malta, porque tinha havido algum afastamento. E funcionou.
Voltámos a caminhar juntos, com o mesmo espírito de sempre”, explica Agnelo. Hoje, a simplicidade é o segredo da longevidade do Sola de Alparcata. “Nós propomos e acompanhamos. Cada um é responsável por si. Quanto menos formos, melhor enquadramos as coisas no grupo. E conseguimos falar”, resume. Não há pressa, não há competição. Há apenas o prazer de seguir o mesmo caminho, lado a lado.
As caminhadas são escolhidas com cuidado: trilhos acessíveis, com pontos de interesse natural ou cultural, e sempre com tempo para apreciar o que se vê. “Nem todos os percursos são planos. Este, por exemplo, tem duas ‘subiditas’, mas fazemos com calma. O importante é chegar bem”, diz o mentor do grupo.
Mais do que uma atividade física, o Sola de Alparcata é um espaço de amizade e partilha. Há quem caminhe para melhorar a saúde, quem o faça por convívio e quem encontre ali um modo de libertar a mente.
Além das caminhadas mensais, o grupo participa pontualmente em iniciativas de outras associações, reforçando laços com a comunidade. “Se temos a nossa caminhada marcada e aparece uma de outra associação, juntamo-nos também. Há meses em que fazemos duas”, explica. Em dezembro, o grupo vai colaborar com os festeiros de Nossa Senhora da Esperança, em Pataias na organização de uma caminhada para a comunidade.


