Segunda-feira, Abril 29, 2024
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Tininha, a rendeira cega que vê no croché a sua terapia

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Perdeu totalmente a visão há mais de uma década, mas isso não a fez desistir e foi aprendendo a ver a beleza da vida com outros olhos. Clementina da Silva Vieira, carinhosamente tratada por Tininha por todos aqueles que a conhecem, só pede saúde para fazer uma das coisas que mais gosta, o croché. 

Perdeu totalmente a visão há mais de uma década, mas isso não a fez desistir e foi aprendendo a ver a beleza da vida com outros olhos. Clementina da Silva Vieira, carinhosamente tratada por Tininha por todos aqueles que a conhecem, só pede saúde para fazer uma das coisas que mais gosta, o croché.

Desde que começou a perder a visão, foi percebendo que era possível recorrer ao mesmo processo como se estivesse a ver.

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“Tiro uma, tiro duas, tiro três”, explica a rendeira, que transforma um novelo de linha branca num pequeno cesto. “Junto mais ou menos paus consoante o desenho que quero fazer” acaba por explicar. O croché é para Tininha uma “terapia para a sua cabeça”. 

Aprendeu a fazer croché com a sua tia, com quem foi viver para Lisboa quando tinha apenas 4 anos.  “Não vendo e tendo que estar todo o dia sentada, a ver a televisão e as ouvir as pessoas a conversarem, caso não tivesse esta ocupação, começaria a pensar em coisas que não deveria”, desabafa a mulher, que completou 90 anos no dia 24 do passado mês.

“Assim não penso em mais nada. Além disso, é um bom exercício que evita problemas nos ossos e de circulação”, sublinha a rendeira. “Vou continuar até me começarem a doer as mãos e os braços”, assegura Clementina Vieira ao REGIÃO DE CISTER. 

Hoje é possível visitar uma exposição com trabalhos da sua autoria que está patente no Museu Municipal de Porto de Mós. “Fico muito contente que alguém possa ver os meus trabalhos, já que eu não os posso ver”, atira Tininha, em tom de brincadeira.

A mostra foi inaugurada na passada sexta-feira e vai estar patente até dia 15 de outubro. Estão expostas toalhas, naperons, chapéus, sacas para pão e muitos outros objetos realizados pela utente do lar da Misericórdia de Porto de Mós que, nos últimos anos, viu que a atividade dava um novo sentido à sua vida. 

Tininha tinha o sonho de casar e constituir família, mas o destino trocou-lhe as voltas. A portomosense que viveu na capital até aos 11 anos de idade regressou à sua terra natal para ajudar os pais no negócio da família. Foi na pensão que funcionava também como taberna e café, junto à igreja de São Pedro, no centro da vila de Porto de Mós, que passou grande parte da sua vida e onde foi também muito feliz. 

Há mais de 14 anos que vive no lar da Santa Casa da Misericórdia da vila, à qual chama de “segunda casa”. É aqui que se sente bem e onde pretende continuar. Mas não é só com o croché que ocupa os seus dias. Tininha demonstra um grande interesse pelas atividades ligadas às artes, especialmente à música e à literatura, e adora fazer ditados e conversar. É conhecida por ter uma caligrafia muito bonita e é raro dar erros ortográficos. 

A nonagenária também aprendeu a bordar, mas a incapacidade de ver não a permitiu continuar. Tem saudades desse tempo, em que conseguia ver a beleza do mundo, tempo esse que  lhe vai ficar eternamente na memória. 

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