Fábio Filipe tinha duas opções: passar das funções de club manager para área manager de um clube de ginásios em Lisboa, progredindo na carreira, ou despedir-se e dedicar-se ao projeto que tinha criado online e que começava a dar frutos. O alcobacense acabaria por escolher a segunda opção, trocando o ginásio “dos outros” pela “sua” Academia do Personal Trainer.
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Mas, vamos por partes. Licenciado em Ciências do Desporto, Fábio Filipe começou por trabalhar no Dino’s Fitness Saúde Nutrição, em Alcobaça, durante um ano. Foi durante esse período que começou a frequentar o mestrado em Exercício e Saúde, em Lisboa, e a interessar-se pela área do treino personalizado. Acabaria por mudar-se para a capital e começar a trabalhar num ginásio lá. “Fui crescendo nessa empresa, comecei como PT, ajudei a desenvolver equipas de PT de alta performance e depois acabei por assumir as funções de club manager como responsável por aquele ginásio”, conta ao REGIÃO DE CISTER Fábio Filipe, que se manteve naquele emprego durante cinco anos. Mas, o “bichinho do empreendedorismo” também já lá estava. “Quando criei a Academia do Personal Trainer tinha o intuito de partilhar online conteúdos para este público na área das vendas e do marketing, porque a nível técnico já havia muita coisa”, explica o jovem, de 32 anos. Ainda em 2019, uma das primeiras ações que promoveu no projeto pessoal foi vender online formações presenciais. Mas, a pandemia acabaria por acelerar tudo. “Comecei a apostar mais na formação e nos cursos online e os resultados começaram a aparecer”, conta. Foi, então, que Fábio Filipe recebeu uma proposta para progredir na carreira no ginásio onde trabalhava: “fiquei muito dividido, ou investia no meu projeto ou na minha carreira”, revela o alcobacense.
A perspetiva de ter “mais liberdade” para trabalhar onde queria, com quem queria e como queria pesou mais na balança. O alcobacense dedica-se, há cerca de dois anos, em exclusivo à Academia do Personal Trainer, que funciona apenas online. “Os clientes pagam subscrições mensais ou anuais e acabo de lançar um software para que os PT possam prescrever treinos aos seus alunos, podendo alargar e potenciar mais o negócio”, considera. “A minha missão é ajudar o máximo de PT possível a terem uma carreira mais sólida e próspera, desenvolvendo competências nas áreas do marketing, vendas e gestão de negócio de desenvolvimento pessoal”, acrescenta.
Essa aposta no online tem-lhe permitido “trabalhar no local ou no país que quer”, “não estar preso a um espaço físico”, ter “menos despesas”, “não ter um horário fixo” e “escalar um negócio que no modelo tradicional não teria o mesmo impacto”. É que no espaço de dois anos, já cerca de um milhar de PT, ou seja, clientes, “frequentaram” esta academia online, que disponibiliza uma experiência de formação completa. “É uma plataforma de subscrição com várias aulas e cursos online, como se fosse uma Netflix para Personal Trainers”, explica o mentor do projeto.
A maioria dos clientes são portugueses que chegam através dos cliques e da pesquisa online. “Hoje em dia julgo que o trabalho online já está normalizado, mas também muito à boleia da pandemia”, observa. É através do conteúdo gratuito que divulga nas redes sociais, e no podcast e com anúncios pagos, que consegue “atrair” clientes para a sua academia virtual, que serve como uma espécie de “escritório” para Fábio Filipe e para os mentores freelancer que contrata mediante as necessidades.
É também através do escritório de casa, na Nazaré, que Dina Rolo trabalha com dezenas de alunos, portugueses e estrangeiros. Para trás, ficam quase duas décadas dedicadas ao ensino de Português e de Inglês e à escola de línguas que abriu na Nazaré, a Beyond Academy. “O ensino online ficou mais popularizado com a pandemia. Os professores tiveram de se adaptar, integraram novas apps em contexto de sala de aula virtual, mas a maioria continuou a dar aulas da forma tradicional, em que a matéria é debitada e os alunos permanecem calados“, considera Dina Rolo. “Em vez de o professor dizer ‘está quieto’ na sala de aula, passou a dizer ‘desliguem os microfones’ na sala virtual”, acrescenta a nazarena, para quem “o online é mais do que isso”. “O online veio permitir outras formas e outras perspetivas de ensino”, argumenta.
Foi em 2020, no primeiro confinamento, que Dina Rolo foi mãe pela segunda vez e ao mesmo tempo viu-se obrigada a fechar as portas da escola de línguas. “Foi a fase mais difícil da minha vida”, confessa. Quando se estava a reerguer, em janeiro de 2021, veio um segundo confinamento e “a moral começou a diminuir“. Em junho, tomou uma decisão: encerrar o ciclo do seu “primeiro bebé”, a Beyond Academy, e dedicar-se a um projeto online, que hoje dá pelo nome de “Dina Rolo – Language Coach & Edupreneur”. “Na escola, a porta estava aberta a todo o tipo de alunos, tinha renda e contas por pagar, tinha funcionários – a quem precisava de garantir um ordenado – e havia toda uma gestão enquanto empresária para fazer, tendo em conta o stress que daí advinha”, recorda. “Em casa, não tenho de pagar uma renda extra, não tenho gastos de manutenção do espaço, consigo ser mais criativa e ter liberdade para trabalhar com quem me identifico mais e com quem se identifique com a minha personalidade e com o meu estilo de ensino”, nota.
“Foi um ano e meio de muita aprendizagem durante o qual pesquisei e aprendi muito com pessoas que fazem isto há mais de uma década”, confidencia ao REGIÃO DE CISTER. A edupreneur (já vamos explicar) sente que “há falta de informação em relação ao trabalho online”, porque “muitas vezes fala-se sem conhecimento”. “A literacia digital ainda é arcaica em Portugal”, lamenta. Dina Rolo rejeita a ideia de que “para os alunos aprenderem precisam de estar no mesmo espaço com o professor”, acreditando que “no online é possível criar-se ainda mais empatia com os alunos”. “No primeiro grupo que tive online, no ano passado, criaram-se relações de amizade muito fortes”, acrescenta.
Mas, também é certo que “os estrangeiros estão mais preparados para este registo online“. O aluno mais velho de Dina Rolo tem 69 anos e usa todas as apps necessárias para os programas da empreendedora. “Comecei do zero no online, mas não comecei do zero na minha profissão, pois os alunos confiaram e vieram comigo também para o online”, constata. O online dá “escala” e por isso não é de estranhar que Dina Rolo, que também faz serviço de tradução e de interpretação e mentoria para profissionais da área das línguas que querem criar o próprio negócio online ou fazer uma transição de carreira, já tenha tido alunos da Letónia, da Índia, da Suécia, da Bélgica ou da Austrália.
E, afinal, o que é isso de “edupreneur”? Em termos simplistas, “é alguém que é empreendedor na área da educação, cujo trabalho é exclusivamente online”. “O edupreneur vê a educação como uma fonte de obtenção de rendimento, de liberdade criativa, da criação de uma estreita relação com o cliente ideal e com a criação de conteúdo educativo original e pertinente na sua área de atuação”, explica Dina Rolo, antes de receber um telefonema da creche da filha a avisar que a menina estava com febre. “Cinco minutos e estou aí”, disse. E é também isto que significa trabalhar online, com um escritório que cabe na palma da mão.