A Associação Alcobacense de Cultura e Desporto (AACD) celebra, no próximo ano, meio século de atividade. Em entrevista ao REGIÃO DE CISTER, Bruno Rego, que preside o clube desde 2021, abordou temas chave do mandato, lançando um breve olhar ao futuro próximo.
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REGIÃO DE CISTER (RC) > A Associação Alcobacense de Cultura e Desporto celebra, em 2024, meio século de vida. Quais serão as novidades até lá?
Bruno Rego (BR) > Primeiro que tudo, vamos ter de os celebrar em família, em comunidade. Exige-se um enorme festejo em homenagem a todos os que escreveram esta história. Depois, ao longo das próximas duas épocas, sonhamos brindar os nossos atletas com algumas melhorias, nomeadamente do recinto, com a substituição das tabelas (bastante perigosas), melhoria do chão (bastante desgastado e com quase 30 anos) e redimensionamento do rinque [atualmente com 44×20] para 40×20 metros. Mas estamos a falar de um investimento global de cerca de 125 mil euros, no qual o Município de Alcobaça tem a palavra principal. Esperamos que, durante o próximo ano, estas requalificações estejam concluídas, sendo que as tabelas já estão em curso. E é importante frisar que estas melhorias não são só para o clube, uma vez que servem também a comunidade escolar.
RC > Olhando à vertente desportiva e restringindo a análise aos escalões de formação: em que ponto está o clube?
BR > O projeto está delineado. Queremos garantir que conseguimos ter todos os escalões preenchidos, o que obriga a um árduo trabalho de captação. E esse já está a ser desenvolvido há três anos. No clube, mas também nas escolas. A Associação tem quase 160 atletas, entre hóquei e patinagem artística, mas o universo da AACD, dentro e fora de portas, representa 650 crianças no concelho. Essa é talvez a nossa maior vitória. E uma novidade para este ano: 90% do staff técnico iniciou-se como jogador ou treinador na AACD. Sentem a nossa alma!
RC > Mas na próxima época o clube não vai ter sub-15 e sub-19…
BR > Sim. O projeto na formação incide mais na iniciação, bambis e escolares e sub-13. Nesses escalões temos mais meninos do que alguma vez houve. Já os sub-15, sub-17 e sub-19 enfrentam os problemas de escassez comum a todos os clubes que não se situem nas áreas metropolitanas. Este ano não teremos sub-19, motivado, sobretudo, pelo facto de muitos dos atletas deixarem a cidade para prosseguirem os estudos no ensino superior.
RC > Temos, inevitavelmente, de recordar a época de reativação do escalão sénior. O 3.º lugar na Zona Sul A da 3.ª Divisão deixou água na boca…
BR > Evidentemente. Depois do que conseguimos em 2022/2023, há uma vontade muito grande de conquistar uma subida de divisão. Quem alcançou o que alcançámos na temporada transata, da forma como foi, com grande entrega por parte dos jogadores e do staff técnico, só pode almejar mais. A subida ao segundo escalão, claro.
RC > Alargue-se o horizonte a um prazo de cinco anos, uma inédita subida à elite pode tornar-se um objetivo ou, por enquanto, é apenas um sonho?
BR > A AACD faz 50 anos no próximo ano. Merece existir, merece ser bem representada e dar o melhor por todos aqueles que estão connosco, desde os atletas, aos adeptos, aos patrocinadores e à cidade. Se conseguirmos cumprir esses desígnios, também naquilo que é a componente social, a estabilização na 2.ª Divisão é um objetivo, mas não nos impede de sonhar atingir a elite e que, num destes dias, seja possível alcançar tamanho objetivo. Mas não basta querer e é nesse sentido que trabalhamos todos os dias. Todos queremos ver a AACD no topo, mas não vamos trabalhar obcecados com isso. Por agora, a subida de escalão e a consolidação na 2.ª Divisão são os passos certos e para os quais vamos apontar agulhas internamente. Ficaria muito feliz se os nossos miúdos da formação de agora fossem a cara da Alcobacense daqui a alguns anos… na elite. Mas ainda temos passos para dar, nomeadamente colocar a nossa formação a disputar os nacionais.
RC > Há pouco tocava num tema muito importante. A patinagem artística tem sido uma das maiores bandeiras do clube…
BR > Sem dúvida. O projeto da patinagem artística é um projeto ganho. Em 2021, a treinadora que estava responsável pela secção informou-nos da sua saída, o que nos obrigou a repensar o projeto. Decidimos então que tínhamos de apostar em duas treinadoras [que, entretanto, já são três] e isto levou uma volta gigante. De repente, a Alcobacense deixa de ser a última classificada, aquela de quem ninguém falava, para conquistar pódios individuais e por equipas, sendo já um clube de referência regional e com atletas a ambicionarem chegar aos nacionais. Torna-se até difícil falar da patinagem artística porque tem trilhado um caminho fantástico na modalidade.
RC > Como define hoje a AACD?
BR > Pode parecer presunçoso, mas tenho a convicção de que somos um clube diferente. Temos uma família gigante que sabe cuidar, receber bem e relacionar-se com a comunidade que nos rodeia. Já fomos acusados de não nos focarmos em ganhar. Queremos e lutamos por isso, mas sem nunca desvirtuar aquelas que são as premissas que nos têm movido ao longo deste meio século. Ganhar sim, mas com respeito e valores (humanos). Formar os homens de amanhã e não apenas atletas. Obrigado a todos os colegas de Direção e a quem no dia-a-dia, no terreno, comigo se dedica a esta missão.
RC > E como está a saúde financeira da Alcobacense?
BR > Zero dívidas. Orçamentos da formação e de seniores, em que um não pode comprometer o outro, escrupulosamente cumpridos. Obviamente precisamos de evoluir, mas estamos bem de saúde.
RC > Qual será a melhor prenda dos 50 anos?
BR > Subir de escalão e ser campeão nacional da 3.ª Divisão, colocando equipas de formação a disputar os campeonatos nacionais. Na patinagem artística, continuar a formar com qualidade e conquistar um troféu nacional. E, já que falamos em sonhar, seria perfeito concretizar o museu do clube, talvez com a ajuda de um benemérito [risos] e usufruir de uma segunda pista de treinos para podermos continuar a crescer em número de atletas.
RC > Concluiu este ano o primeiro mandato à frente da direção. Qual é o balanço?
BR > A nossa proposta era recuperar da pandemia, recuperar atletas e sermos financeiramente auto-sustentáveis. Pretendemos otimizar os processos internos e isso foi conseguido. Agora estamos num ponto em que precisamos de inovar. O trabalho tem de acontecer com algum objetivo, para que todos possamos avançar. Queremos semiprofissionalizar o clube. O voluntariado é cada vez mais difícil, cada vez somos menos. Se não existirem recursos a tempo inteiro, são poucos os clubes que vão conseguir sobreviver a longo prazo. Estamos a investir nos processos, nas metodologias, nos recursos… Pensar como uma verdadeira academia, é esse o caminho que queremos seguir.
RC > O segundo mandato termina em 2025. É para continuar?
BR > Se tiver oportunidade de continuar aqui mais 10 ou 15 anos ficarei [risos], mas também tenho a convicção de que a longevidade nem sempre é boa. Torna-se, como costumo dizer, numa “quintinha” e também não quero isso. Serei o primeiro a sair quando sentir que o meu desígnio está cumprido. Na bancada estarei sempre, como presidente ou como adepto. O meu coração é totalmente amarelo, mas a família também precisa de mim.