Nunca será a mesma coisa, mas não deixa de ser especial. Falamos da noite de Natal dos bombeiros de Alcobaça que estão de serviço na consoada. Longe do lar, mas prontos a servir a comunidade. E como muitos deles até passam mais tempo no quartel do que propriamente em casa, não será demais afirmar que o espírito que se vive no seio da corporação dos soldados da paz de Alcobaça é muito similar àquele que cada um tem junto dos “seus”. Porque ali, no quartel, não há laços de sangue a uni-los, mas há um sentimento de missão que potencia o sentimento de “segunda família”.
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É isso que transparece quando falamos com quatro dos bombeiros que estão escalados para trabalharem na próxima noite de Natal. Dois deles vão repetir o que já fizeram no passado: estar de serviço na noite da consoada. Longe de casa. Num ambiente… diferente. Mas não menos caloroso, garantem.
“Sou bombeiro em Alcobaça há cerca de 20 anos e será a segunda noite de Natal que vou passar a trabalhar. A primeira já foi há muitos anos. Custa sempre estar afastado do meu filho e dos meus pais nesta altura, mas este ano até troquei com um colega para ele poder estar com a sua família. Como o meu filho vai passar o Natal com a mãe, decidi trocar com o meu colega e assim não custa tanto”, admite Luís Silva, de 49 anos, que não esconde que “a corporação é a segunda casa” e que “o ambiente que aqui se vive ajuda”. Além disso, acrescenta, “há colegas que acabam por vir aqui depois da meia-noite e sempre estamos todos na brincadeira”. “Além disso, temos tudo na mesa, nunca falta nada, só não bebemos um copo como fazemos em casa”, reconhece o soldado da paz.
Também Luís Libório voltará a repetir o que já aconteceu em 2021: passar o Natal em serviço. “Tal como diz o nosso lema, ‘vida por vida’, estamos sempre prontos para ajudarmos o próximo. Trabalhar na noite de Natal é darmos o nosso contributo à comunidade como acontece durante todo o ano”, observa.
“Além do jantar, temos também os nossos momentos de convívio, a ver televisão, e tudo se faz com amor”, acrescenta o profissional, desejoso que “o telefone não toque, que é sinal que está tudo bem na cidade”. Mas, se tocar, “que seja alguém para nos desejar um feliz Natal, o que, felizmente, acontece”.
De um natural de Évora de Alcobaça chega a antevisão de uma estreia. Apesar da juventude dos seus 35 anos, Bruno Silva já leva uma “vida” nos Bombeiros de Alcobaça, onde chegou com apenas 17 anos. Mesmo apesar da longevidade, esta será a primeira noite de consoada passada a trabalhar dentro do quartel da corporação: “Acima de tudo, esperamos que não haja muito trabalho, é sinal que a comunidade está em segurança. Será, certamente, um gosto trabalhar na noite de Natal. Claro que custa pensar que vamos estar longe da família, mas o facto de ser solteiro e não ter filhos aligeira esse sentimento.”
Bruno Silva destaca ainda as ofertas que são feitas por particulares e empresas para a ceia de Natal, algo que, no fundo, “é um reconhecimento pelo nosso trabalho e isso enche-nos de orgulho”. E enche a mesa, claro está, com muita fartura.
Ainda mais novo (29 anos), mas já há mais de uma década como bombeiro, Rafael Matos também está na calha para um momento especial: a primeira vez de serviço na noite de 24 para 25 de dezembro. Na corporação de Alcobaça há cerca de um ano, depois de mais de uma década no Juncal, o bombeiro perspetiva “uma noite como qualquer outra, a trabalhar em prol da população”.
Mesmo sem esconder que será “um momento especial”, o profissional diz que a consoada “ganhou mais peso” desde que nasceu a sobrinha, Beatriz (9 anos), porque o “Natal é mesmo para as crianças”. Mas essa ausência de ligação física da família será “compensada com os muitos momentos de animação e partilha que existirão na corporação”.
E para gerir todos estes bombeiros é necessário um comandante. Alguém que tem de pensar em tudo. Falamos, claro está, da organização. “Não é fácil fazer a escala, escolher quem vai trabalhar ou não”, garante Leandro Domingos. Mesmo que haja “escalas corridas, ou seja, os bombeiros já sabem quem vai trabalhar nestas ocasiões especiais”. No entanto, e porque a sensibilidade é um trunfo para quem dirige, o comandante assume que os bombeiros “têm total liberdade para poderem fazer trocas entre eles, consoante as vontades ou necessidades de cada um”, sendo que, para isso, só têm de ter em conta a “coordenação necessária” para que nada falhe.
Entre profissionais e voluntários, o serviço dos Bombeiros de Alcobaça na noite da consoada vai ser assegurado por sete elementos, sempre com o comandante na “retaguarda” para qualquer eventualidade que surja. Deseja-se que não haja qualquer necessidade de socorro à população e que, dessa forma, os soldados da paz tenham uma noite abençoada, junto da “segunda família”. Por tudo isso, que seja um santo e feliz Natal, heróis do povo!
Concelho não esquece quem está sempre pronto
A época é especial para (quase) todos. Para uns por motivos melhores, para outros por razões não tão boas. E a especificidade do Natal tende a potenciar pensamentos e sentimentos, porque é uma época que estimula a reflexão e em que a sensibilidade das pessoas está mais “à flor da pele”. Nesta quadra, por norma, as pessoas pensam mais em dar do que em receber. E porque quem recebe deve sempre ser grato, fica sempre bem um (tão simples, mas sentido) obrigado. Também os Bombeiros Voluntários de Alcobaça são gratos a quem neles pensa na noite da consoada.
“Há várias empresas e particulares do concelho de Alcobaça que nos oferecem bolos, enchidos e outros bens alimentares. A todos eles queremos deixar o nosso muito obrigado”, sublinha Leandro Domingos. Mas o comandante da corporação de Alcobaça fez questão de deixar dois agradecimentos “particularmente profundos”: “Ao restaurante António Padeiro, que nos oferece sempre a refeição, e à Sociedade Agropecuária da Assanha, que nos presenteia todos os anos com um leitão para a nossa mesa da consoada.”
E se o lema dos bombeiros é ‘vida por vida’, também a sociedade civil tem o dever de ajudar quem tanto ajuda, sem pedir nada em troca. Tentar retribuir, ainda que com uma ínfima parte, aquilo que os soldados da paz fazem por nós. Fica a promessa da redação do REGIÃO DE CISTER: vamos contribuir para a ceia de Natal dos bombeiros de Alcobaça. Boas Festas!