Foi a primeira vez que a comunidade educativa do concelho da Nazaré esteve reunida num evento único em que, durante quatro dias, elevou-se o Agrupamento de Escolas da Nazaré, o Externato Dom Fuas Roupinho, a Escola Profissional da Nazaré, o For-Mar e a Cercina. Numa verdadeira NAZA SUMMIT EDU’2024, analisou-se o presente, mas sempre com os olhos colocados no futuro.
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E a “era digital” foi um dos motes que originou opiniões distintas na grande conferência, que decorreu na manhã da passada quinta-feira, e que levou estudantes das várias instituições a encherem o Teatro Chaby Pinheiro, onde durante quase quatro horas a beleza do espaço foi “transportada” para a eloquência com que cada um dos oradores dissertou.
Por um lado Paulo Rossas, representante da Lisbon Digital School, defendia que o futuro do mundo está no “digital”, onde considera haver uma imensidão de oportunidades. “Querem ser gamers, então lutem por isso”, apelava, a título de exemplo, o antigo futebolista, destacando que, acima de tudo, é fundamental ter “uma visão”.
Por seu turno, o jurista e antigo ministro da justiça, Álvaro Laborinho Lúcio, mostrava-se mais reticente, considerando que “não existe a era digital”. “Nascemos todos analógicos”, salientava, justificando com a necessidade de cada ser humano ter liberdade para definir aquilo que quer ser, sem que lhe seja imposto pela sociedade em que está inserido. A intervenção do professor universitário foi também motivada pelos 50 anos da Revolução, efeméride que aproveitou para partilhar a sua visão sobre o “mundo digital”. “Abraçarei o digital, como instrumento, que serve para fazer tudo o que quero, mas não o digital que, por causa dele, tenha que fazer as coisas em função dele”, sintetizou.
O digital, como atrás mencionado, mereceu particular destaque nas diversas intervenções protagonizadas pelos seis oradores que subiram ao palco da sala de espetáculos. Ainda antes deste confronto (saudável) de ideias sobre o digital, já Marco Bento, investigador em Tecnologia Educativa da Universidade do Minho abordara o “diabo do digital”. Durante meia-hora, o docente debruçou a sua intervenção sobre a forma como a tecnologia pode ajudar à evolução, acrescentando que a mesma deve acontecer de forma controlada.
Já depois de ter atestado a importância da escola para “filtrar o que é fidedigno”, Marco Bento enfatizou a dificuldade existente em contrariar o “saudosismo” na forma como se “pensa a educação”, exemplificando com casos práticos. “Temos estas duas anestesistas (foram apresentados no ecrã dois exemplos: um anestesista de há várias décadas e um anestesista atualmente), qual deles preferiam?”, interrogou, estabelecendo uma “ponte” para voltar a tocar no tema da educação e na resistência que ainda persiste no sistema educativo.
Ainda que não tenha explanado uma conclusão de por onde passará, efetivamente, o futuro da educação, o também docente universitário deixou a pairar no ar um tema para uma reflexão que se exige cada vez mais aprofundada.
A grande conferência, que contou com um momento musical a cargo de quatro alunos da Academia de Música de Alcobaça, contou também com Ana Clara Simões, diretora do departamento de planeamento, formação e certificação do For-Mar e que deu algumas indicações sobre a economia azul e de como se pode potenciar a economia através dos recursos marítimos, bem como Rita Borges, Project Manager da Oceano Azul, que dedicou a sua intervenção à “Geração Azul”. Já o empresário Tim Vieira, CEO da BGA Brave Generation Academy, focou a sua intervenção sobre a inovação e a criatividade na escola.
Em jeito de balanço, o presidente da Câmara da Nazaré falou numa “edição de estreia muito positiva”. “O grande objetivo era a congregação de todos os estabelecimentos escolares do concelho num mesmo espaço e isso foi conseguido. Sabemos que cada um trabalha para o seu lado, que é uma coisa perfeitamente normal, mas também são precisos estes momentos”, disse Manuel Sequeira, complementando que “era importante agregar sinergias para que todos os estabelecimentos, com as diferentes ofertas, se juntassem com um objetivo comum”. Esse era o ponto principal”, disse. Um dos objetivos, acrescentou também, era o de “permitir que os alunos tenham as ferramentas necessárias para decidir o seu futuro, nomeadamente no 9.º ano de escolaridade, em que há decisões importantes a tomar”.
Durante os quatro dias do NAZA SUMMIT EDU’24 a oferta foi vasta, num evento em que o município contou com o apoio da Oonify na organização, e que o edil garantiu ter sido fundamental: “foram os parceiros ideias e fizeram um trabalho excecional, muito para além do que estava acordado”, sublinhou.
Já sobre os principais destinatários (os alunos), o chefe de executivo municipal salientou o facto de este tipo de eventos contribuir para a diminuição do “êxodo de alunos”. “Temos muita oferta educativa e é importante valorizá-la de forma a que os estudantes não sejam obrigados a deslocações para escolas de outros concelhos”, asseverou, justificando a necessidade de contrariar o passado recente.
Já sobre o futuro, é caso para dizer: até 2025, NAZA SUMMIT!
Laborinho Lúcio enaltece evento
Álvaro laborinho Lúcio foi o responsável por encerrar a grande conferência que deu o pontapé inicial para o NAZA SUMMIT EDU’2024 e, em declarações ao REGIÃO DE CISTER, teceu rasgados elogios à iniciativa. “É um tema muito importante em várias dimensões e este tipo de eventos tem um forte impacto na comunidade educativa, que é mais do que a escola. A maior parte dos problemas de hoje são resolvidos através da escola e isso só pode ser alcançado com uma participação ativa. É muito bom chamá-la e dar linhas de atuação que nos vão conduzir a tomadas de posição futuras mais esperançosas”. O jurista, escritor e professor universitário, que conta com vários cargos ligados à Justiça, mostrou-se “particularmente agradado” com o que encontrou durante o evento escolar.
Alguns dos momentos que marcaram a primeira edição do NAZA SUMMIT EDU’24
- Recriação da antiga praia de banhos O primeiro dia do NAZA SUMMIT EDU’24 ficou marcado pela recriação da Antiga Praia de Banhos da Nazaré, um momento que permitiu reviver parte da história da identidade nazarena.
- Música, Maestro O Centro Escolar da Nazaré e a Academia de Música de Alcobaça promoveram uma experiência educacional única em que a música foi rainha. Foi o caso do “Concerto de Vozes que inspira”.
- Atelier redes de pesca São técnicas centenárias e fazem parte da vida de muitos nazarenos. O atelier redes de pesca reavivou memórias e mostrou aos mais novos como é que se fez e (ainda) se faz. Uma herança ímpar!
- Filhos de um sonho A peça de teatro marcou o final de tarde de sábado na bela sala do Teatro Chaby Pinheiro, onde uma “história cativante envolveu o público numa emocionante saga de sonhos” e que abordou a emigração portuguesa.