Defendendo uma nova visão para a Nazaré, centrada na habitação, saúde, educação e proximidade às freguesias, o candidato do movimento independente “A Nazaré Merece”, apoiado pelo PSD, assume a ambição de uma maioria absoluta nas próximas eleições.
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REGIÃO DE CISTER (RC) > O que leva um empresário a trocar o setor privado pelo desafio da política autárquica?
SERAFIM ANTÓNIO (SA) > Em primeiro lugar, o estado de emergência que a Nazaré se encontra. Após uma série de conversas com nazarenos e amigos, chegámos à conclusão que era necessário fazer alguma coisa pela Nazaré. Venho do setor privado e sei que a gestão pública é diferente. Mas não tem de ser forçosamente assim. Creio que podemos trazer muito daquilo que é a realidade das empresas para a gestão autárquica. Tenho defendido que é muito importante que qualquer pessoa, em qualquer momento da sua vida, possa demonstrar vontade de fazer algo pela população, pela sua terra, pelo seu concelho. E, como tal, pensamos que este é o momento que a Nazaré necessita de nós. O Município necessita de uma mudança profunda, quer em termos de mentalidade, de projeto e de visão para aquilo que terá de ser a Nazaré nos próximos anos.
RC > A que refere quando diz que a Nazaré está em “estado de emergência”?
SA > Refiro-me à gestão autárquica, ao estado em que se encontra o concelho, ao abandono das freguesias, principalmente Famalicão e Valado dos Frades. Basta visitarmos a Nazaré e vemos uma vila ao abandono. As ruas estão sujas, há graves problemas de infraestruturas na vila e não existe uma visão para o que será a Nazaré daqui a 10, 15, 20 anos. Existe uma preocupação grande do nosso grupo de trabalho em questionar que legado queremos deixar para as gerações futuras.
RC > Nunca esteve envolvido na política, bem como muitos elementos das listas. Teme que o eleitorado veja nisso uma desvantagem?
SA > Não, pelo contrário. É uma grande vantagem. Temos um grupo de trabalho muito forte, para a câmara, para a assembleia e para as juntas. As pessoas que, nos últimos tempos, possam não estar ligadas ao município conseguem ter uma visão diferente do que efetivamente se está a passar. O facto de alguns de nós, que é o meu caso, não ter experiência política, não invalida que não possamos ter uma visão muito concreta para a Nazaré. A Nazaré necessita de sangue novo, os habitantes do concelho necessitam de esperança. A Nazaré carece de pessoas com uma nova visão para o município.
RC > Ainda que o vosso movimento seja independente, no boletim de voto vai aparecer PSD. Foi equacionada a hipótese de irem a votos como um verdadeiro movimento de independentes?
SA > Foi equacionada a possibilidade de irmos a votos sem qualquer tipo de apoio. Quando o PSD nos confrontou com a possibilidade de nos poder vir a apoiar nesta candidatura, ponderámos e considerámos interessante. Até porque, ter o apoio do PSD neste momento vai ser uma vantagem para o nosso concelho, na medida em que somos governados pelo PSD, através da AD. Vamos obrigatoriamente “cobrar” ao governo central este apoio que nos estão a dar, se é que poderei dizer assim. Vamos precisar de muita ajuda, por parte do Estado, para que nos próximos anos consigamos resolver uma série de problemas da Nazaré. E isso foi colocado em cima da mesa e decidimos aceitar o apoio do PSD.
RC > Depois de terem promovido o ciclo de sessões de esclarecimento, que preocupações ou sugestões mais ouviu da população?
SA > Estas sessões de esclarecimento têm sido extremamente gratificantes e muito importantes, até para terminar o manifesto eleitoral. Estamos neste projeto para resolver as questões que preocupam todos os munícipes. Sentimos que nas freguesias de Famalicão e de Valado dos Frades as pessoas reclamam, e com muita razão, uma maior proximidade do município. Estamos a falar de freguesias, como pude constatar nos últimos tempos, que têm sido deixadas ao abandono. Continuamos a ter saneamento básico por realizar numa série de lugares da freguesia de Famalicão. Em Valado de Frades, as pessoas sentem um profundo afastamento do poder autárquico e da autarquia. Na freguesia da Nazaré, o que as pessoas mais reclamam é terem perdido qualidade de vida. Tivemos um fluxo turístico enorme nos últimos anos, foi feito um trabalho fantástico de divulgação da marca da Nazaré, mas a Nazaré não foi minimamente preparada, em termos de infraestruturas e de planeamento, para receber esse fluxo de pessoas. E os nazarenos acabaram por perder a qualidade de vida que tinham.
RC > O que, afinal, a Nazaré merece?
SA > A Nazaré merece que as pessoas que venham a gerir os destinos da autarquia tenham uma governação transparente, aberta à população e que criem mecanismos para que a população se aproxime das decisões e da forma como a câmara é gerida. A Nazaré merece que a população recupere a sua qualidade de vida, que sejam apresentados projetos concretos para a fixação dos jovens. Necessitamos rapidamente de criar postos de trabalho qualificados. A Nazaré merece um futuro, um projeto a médio/longo prazo, em que a população, turismo e investidores sintam segurança em estar e vir para a Nazaré.
RC > Que prioridades têm para o concelho?
SA > Existem três pilares essenciais no nosso projeto: a educação, a saúde e a habitação. Na saúde, temos pensado em vários mecanismos para conseguirmos a fixação de médicos no concelho. Temos uma situação dramática em Famalicão e Valado dos Frades, além de instalações, com a falta de médicos. Já tivemos alguns encontros com o Centro Social da Freguesia de Famalicão e o Centro Social de Valado dos Frades, instituições que podem vir a dar um auxílio de forma a resolver rapidamente o problema dos médicos e da população ter acesso aos médicos. Relativamente à educação, a Nazaré encontra-se numa situação de emergência, e perdoem-me repetir o termo. Na sede de agrupamento já há quase mais contentores do que espaço para as crianças brincarem e estarem no recreio. Os centros escolares da Nazaré e de Valado dos Frades estão completamente degradados. São 14 anos sem qualquer manutenção e algumas situações já representam um perigo. É urgente resolver os problemas que assolam as escolas com intervenções pequenas e depois partir para o projeto do alargamento. Estamos a falar de 1.000 alunos, em que boa parte tem aulas nos contentores. Isso tem de ser resolvido no imediato. Sobre a habitação, temos de nos apoiar nas freguesias de Valado dos Frades e Famalicão, sendo que Fanhais tem também muito para dar ao concelho. É uma zona muito virgem, com muita área e com condições para a realização de habitação a custos controlados, quer seja com cooperativas, intervenção direta da câmara ou com empresários locais. Famalicão e Valado dos Frades têm áreas que podem ser indicadas para resolver a questão da habitação. A vila está esgotada em termos de habitação. Poderão continuar a haver investimentos particulares, mas temos de pensar na habitação acessível fora da vila. A par disto, temos um problema grave por resolver, inadmissível, que é a situação do PDM. Estamos a falar de um plano da década de 1990. As necessidades são completamente diferentes. Têm sido feitos planos de pormenor pontuais, mas o concelho necessita de começar a discutir o PDM o mais rapidamente possível com as freguesias, de forma a criar condições para que as pessoas possam construir sem qualquer constrangimento. Outra questão tem a ver com a mobilidade, que é constrangedora. É urgente resolver a questão da Avenida do Município, que vai ser um ponto chave para ter um plano de mobilidade a sério. No estacionamento, é preciso criar parques periféricos e a autarquia colocar à disposição transportes e encaminhar as pessoas para esses parques.
RC > O PSD deixou a Câmara da Nazaré como uma das mais endividadas do País. De que forma pretendem liquidar os mais de 30 milhões que ainda estão por liquidar?
SA > Dentro do nosso grupo de trabalho há pessoas com muitos conhecimentos na área da gestão. Vamos ter de ter uma capacidade e uma engenharia financeira muito grande para conseguirmos começar a trabalhar. A dívida é grande. A Nazaré necessita rapidamente de infraestruturas. Os acontecimentos das últimas semanas são um sinal disso. O constrangimento financeiro vai ser ultrapassado e tem de ser ultrapassado. Estamos alavancados no esforço que estamos a colocar na população, em termos de impostos e taxas. Sabemos que o FAM a isso obriga, mas neste momento temos condições para renegociar com o FAM. Temos de trabalhar para pagar a dívida, mas não à custa da população; à custa de projetos novos, de ações de investimento, de aproveitar o que a Nazaré tem. A Nazaré não pode ficar constrangida em termos de investimento, em função da dívida que tem.
RC > O caso da Pedralva, que trouxe ao debate, tem sido criticado por outras candidaturas. Afinal, a câmara quis mesmo “passar-lhe a perna”? De que forma espera resolver o problema?
SA > Ando com esse assunto desde 2018. Quando utilizei essa expressão é porque, efetivamente, o executivo à data que estava a gerir os destinos da câmara assim o tentou fazer, através de algo que tentou passar em reunião de câmara e que passadas umas semanas teve de desfazer, digamos assim, sem eu ser consultado, quando já estávamos num processo de negociação, de forma a que o espaço regressasse ao erário público. Se isto não é passar a perna, digam-me o que é. Usei uma expressão muito popular, entendo isso, mas foi o meu sentimento aquando do sucedido. As pessoas que não pensem que esta candidatura é para a resolução do problema da Pedralva. Quem pensar isso está longe de entender o problema. Além disso, estando em funções na câmara, tenho de me abster completamente de qualquer decisão que possa vir a ser tomada relativamente a este assunto. Aquilo que quero, neste momento, é que haja uma solução para aquele espaço, quer seja através de uma continuidade do projeto em termos do privado, quer seja de uma passagem para o erário público. Estou disponível para ambas as situações, sendo que defendo há alguns anos que o espaço podia ser colocado em parte à disposição dos munícipes. Estou de consciência tranquila em relação a este assunto.
RC > Acredita que haverá uma viragem política no próximo dia 12 de outubro?
SA > Mais do que uma viragem política, as pessoas do concelho da Nazaré querem uma mudança. Independentemente do partido político. A Nazaré e todos os nazarenos estão apostados nessa mudança. Nos últimos meses, os relatos que nos chegam é que a grande maioria da população está connosco. As pessoas querem sangue novo, querem uma visão completamente diferente para o concelho. As pessoas estão cansadas destas guerrilhas político-partidárias, que têm assolado a Nazaré e criado atropelos ao desenvolvimento do concelho. Quando me perguntam qual é o resultado que esperamos: queremos e pensamos que vamos ter uma maioria absoluta.
RC > E se isso não acontecer, está disponível para coligações com outras forças políticas?
SA > Estamos disponíveis e com muita vontade de trabalhar com as pessoas que sejam eleitas. Não tenho problemas em trabalhar com todos, desde que se perceba que essas pessoas estão a trabalhar para o bem da Nazaré e não com outros interesses.