Dar a volta à Índia pode hoje em dia já não ser a aventura mais incomum do mundo, mas dar a volta à Índia sozinho e de mota já se aproxima mais desses parâmetros. Sem planos, nem alojamentos marcados, apenas com alguns mantimentos e mapas na “bagagem”, o alcobacense João Luís percorreu mais de 35 mil quilómetros em quatro meses, em cima da sua BMW GS 1200, a única companheira de viagem.
Dar a volta à Índia pode hoje em dia já não ser a aventura mais incomum do mundo, mas dar a volta à Índia sozinho e de mota já se aproxima mais desses parâmetros. Sem planos, nem alojamentos marcados, apenas com alguns mantimentos e mapas na “bagagem”, o alcobacense João Luís percorreu mais de 35 mil quilómetros em quatro meses, em cima da sua BMW GS 1200, a única companheira de viagem.
“Parti em agosto do ano passado sem saber sequer quando voltava. Fiz a Europa toda por estradas nacionais [Portugal, Espanha, Andorra, França, Itália, Áustria, Suíça, Eslovénia, Croácia, Hungria, Roménia, Bulgária, Turquia, Geórgia e Arménia], entrei no Irão, onde já tinha estado por duas vezes, e fui de ferry boat para o Dubai, onde a minha mulher foi ter comigo para passar férias e matar saudades”, conta o motociclista de 46 anos. A partir daí começou a verdadeira aventura. De Bombaim rumo ao norte da Índia, regressando pela costa leste, com passagens em Damão, Goa e Cochim, a viagem pelo país asiático durou um mês e uma semana.
Nunca tenho planos. Vou decidindo para onde vou à medida que vou viajando, conforme as indicações que me dão“, conta o alcobacense, que já atravessou sozinho de mota a fronteira de mais de 60 países da Europa, Ásia e África. “Conheci um indiano que me acompanhou ao Templo dos Ratos e me levou a fazer todos os rituais associados ao templo, inclusivamente entrar descalço num espaço onde os ratos são considerados sagrados e andam à solta“, resume o aventureiro, que acabou por optar em ser vegetariano no tempo em que foi… indiano.
Também foi na Índia que João Luís teve a maior adversidade com a mota: um furo, claro está. “Nunca tive nenhum acidente e a mota nunca teve nenhum problema mecânico“, confirma o alcobacense, que apanhou o único “susto” na Batalha, num acidente de viação, que o “obrigou” a andar 17 meses na fisioterapia.
Mas naquela que foi a “viagem de mota à Índia” o maior “contratempo” aconteceu na hora da partida. “Já no regresso, passei pelo Dubai e pela Jordânia e fiquei três dias em casa de um amigo em Israel. Como estava tão perto, decidi ir ao Egipto apenas para tirar uma fotografia junto às pirâmides de Gizé“, recorda. Só que, no mesmo dia, houve um atentado na cidade de Al-Arish e a polícia egípcia, suspeitando que o alcobacense tivesse relações com terroristas, impediu-o de atravessar a fronteira de volta para Israel. “Fui interrogado em hebraico e sofri pressões pelos serviços de segurança. Quando me pediram o passaporte e viram os vistos do Irão, Índia, Israel, Jordânia, Dubai… ainda ficaram mais confusos“, recorda João Luís, que acabou por se “safar” um mês depois.
Chegou a Alcobaça três dias antes do Natal. Mas, as malas ficaram em Israel e, por isso, foi buscá-las… de mota. “Fui em janeiro e acabei por ficar mais um mês por lá“, relembra o motociclista, que regressou a casa dois dias antes da Páscoa. A família já está habituada: “Estou casado há 28 anos e nunca vivi um mês inteiro com a minha mulher“, já que desde os 16 anos que anda de mota sozinho. “A minha primeira viagem ao estrangeiro foi a Badajoz, em Espanha”, recorda o alcobacense, que trabalhou na área da cosmética. Seguiu-se França e mais tarde uma viagem muito especial: a lua-de-mel pela Europa. Desde então que encontrou nas estradas um modo de vida. “Gosto é de conhecer, partilhar e viver com as pessoas na rua. Confio muito em Deus e acredito que o destino está traçado e como até à data sempre tive boas experiências nesta minha forma livre de viajar continuo a fazê-lo com muito prazer“, sublinha o alcobacense, que recusa o adjetivo de corajoso. “Coragem é alguém levantar-se de manhã e ganhar o ordenado mínimo. Para viajar, sozinho ou acompanhado, é preciso é ter dinheiro, tempo e respeito pelas outras pessoas”, considera o homem que, apesar de não ter nenhuma viagem planeada para os próximos tempos, sabe que pode contar com a sua “companheira” de duas rodas para lhe indicar o caminho de volta para casa.