Sexta-feira, Março 29, 2024
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Pedro Pombo em entrevista

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Pedro Pombo, presidente da Direção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Alcobaça, aborda os primeiros doze meses de um mandato que acaba por estar envolto em várias polémicas.
 

Pedro Pombo, presidente da Direção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Alcobaça, aborda os primeiros doze meses de um mandato que acaba por estar envolto em várias polémicas.

REGIÃO DE CISTER (RC) > Que balanço faz do primeiro ano de mandato como presidente dos Bombeiros de Alcobaça?
Pedro Pombo (PP) > Foi um ano excelente, com algumas complicações. Financeiramente a associação não tinha muito dinheiro para comprar os equipamentos necessários, mas com o esforço de sócios e empresas fizemos um bom peditório, mostrámos o que queríamos fazer e, neste momento, dou como positivo o primeiro ano de mandato.  

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RC > Como se financia, hoje em dia, uma corporação de bombeiros?
PP > Neste momento, a associação tem apoios, os subsídios da Câmara, da Autoridade Nacional de Proteção Civil e a ajuda dos sócios. Através de empresas também vamos tendo alguns apoios e donativos. O apoio da Câmara de Alcobaça tem sido excelente, tem sempre as portas abertas para nos ajudar no que é necessário. Daí a tal campanha de duas ambulâncias.

RC > Sobre essa campanha, faz sentido as críticas de que foi alvo na sequência da atribuição do nome de Paulo Inácio a duas ambulâncias?
PP > Ainda bem que me pergunta isso porque queria esclarecer esse assunto. O Facebook para mim é uma coisa irrelevante, se as pessoas quiserem criticar ou apresentar queixas ou reclamações têm de cá vir, não vale a pena esconderem-se nas redes sociais. Foram os sócios que votaram nesta Direção para aqui estar. A atribuição do nome do presidente da Câmara, Paulo Inácio, foi uma forma de agradecer a verba de 30 mil euros que a autarquia nos deu. Na minha boa-fé, foi sempre isto que disse e torno a dizer: não há politiquices. Não entro na política. Estou nos bombeiros desde criança e, para mim a política é zero. Posso dizer que já fui convidado para algumas listas mas recusei sempre, nunca quis. E enquanto estiver nos bombeiros continuarei, obviamente, a recusar. A atribuição do nome de Paulo Inácio em nome da Câmara de Alcobaça serve para, daqui a dez anos, sabermos que foi neste mandato que a oferta foi feita. Foi só por causa disto. Temos uma ambulância com o nome da Junta de Alcobaça, mas ninguém sabe quem deu. Sabemos que foi a Junta, mas não se sabe quem foi o(a) presidente que atribuiu a verba. Mas, agora é certo, posso garantir que enquanto for presidente não se dá mais nenhum nome a nenhuma ambulância…

“O Facebook para mim é uma coisa irrelevante, se as pessoas quiserem criticar ou apresentar queixas ou reclamações têm de cá vir, não vale a pena esconderem-se nas redes sociais”

RC > As críticas surgiram, principalmente, pela proximidade com as eleições autárquicas… Como lidou com essa acusação?
PP > Vou ser sincero, fiquei chocado. Não gostei de alguns comentários que, lá está, foram feitos no Facebook. Posso dizer que algumas pessoas vão responder por esses comentários em tribunal, o assunto já está a ser tratado. Vai ser em nome particular, não tem nada que ver com os bombeiros, mas as pessoas têm que saber acusar e não se podem inventar coisas que não são verdade. Estou aqui para esclarecer os sócios. 

RC > Quando assumiu a presidência da Direção dos Bombeiros também foi alvo de críticas e acusações de eventual conflito de interesses por ser empresário num setor próximo ao dos bombeiros. Essas críticas têm fundamentação?
PP > Desde que estou nesta casa nunca vendi material da minha empresa para a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Alcobaça. Sei quais são os meus direitos, até onde posso ir e ninguém me pode acusar nesse aspeto, podem ver as contas com o que dou aos bombeiros, ofereço, não vendo. A minha empresa faz a manutenção dos extintores e isto já vem do tempo de outras Direções, mas é tudo a custo zero. Pode ser tudo provado. Não tenho nada a ver, profissionalmente, com todo o resto do material e viaturas que a associação compra. Não estou envolvido nesse aspeto. Volto a frisar: a única coisa que faço é a manutenção dos extintores, que é a minha área, e é tudo feito a custo zero. 

RC > Após a saída de Mário Cerol, o seu filho [Leandro Domingos] foi nomeado comandante, motivando também algumas acusações de favorecimento familiar. Sente-se confortável com essa situação?
PP > Estou à vontade nesse aspeto para dizer que não houve qualquer favorecimento. Temos uma ata na qual se pode comprovar que não votei a nomeação do Leandro para comandante, exatamente para não dar azo a essas críticas. Naquele momento era o único elemento do corpo de bombeiros licenciado em Proteção Civil. É um jovem, sim, mas tem competências. Tirou o curso de comando, fez todos os testes teóricos e no terreno. Mas para sermos bons presidentes ou comandantes temos de ter boas equipas por trás. E felizmente é isso que está a acontecer nos dois casos.

“Para mim a política é zero. Posso dizer que já fui convidado para várias listas mas recusei sempre”

RC > Temeu que a opinião pública julgasse a nomeação do seu filho para comandante pouco tempo depois de ter tomado posse?
PP > A decisão de nomear o Leandro foi muito ponderada. Não estava em causa a competência, mas sim o que passava para a opinião pública. Mas isso, sinceramente, não me preocupa. Não me preocupa o que as pessoas dizem. O que me preocupa é o dia a dia desta casa e o bem-estar da população. As pessoas que criticam podem ter razão no sentido em que, de facto, há uma relação familiar, mas nós separamos as coisas. Somos ambos muito profissionais naquilo que fazemos. Ele é comandante no terreno e o presidente sou eu. Gostava mais que as pessoas viessem cá, fossem sócias, e se inteirassem do que se vai passando nesta instituição. E isso não acontece. O mais importante é que tenho a consciência tranquila. Aqui o Leandro não é o meu filho, é o comandante dos bombeiros.

“Mário Cerol sabe que o apoiamos a 100% e estamos do lado dele”

RC > Está nos bombeiros desde criança. Chegar a presidente da Direção foi a evolução natural do percurso na corporação?
PP > Sim. Quando fui adjunto dos bombeiros vi que havia aqui muita política. Havia algum mal estar. O trabalho das antigas direções é de louvar e reconheço o trabalho que desempenharam. A chegada a presidente foi um processo natural porque foram os bombeiros que pediram que agarrasse esta “casa”. E foi isso que fiz. Tive um azar de repente, que foi a saída do comandante Mário Cerol. Tinha a esperança de trabalhar com ele, mas ele foi para uma missão que ambicionava desde criança e não lhe cortei as pernas. 

RC > Sobre Mário Cerol, que comentário faz ao facto de ter sido constituído arguido no processo dos incêndios de Pedrógão Grande?
PP > O Mário Cerol tem de se manter no seu lugar, ver no que o processo vai dar. Vamos ter tempo, mas estou convencido que ele não vai ser punido neste processo. Enquanto comandante naqueles fogos ele agiu bem, fez o que tinha de fazer. Cumpriu com o que tinha de cumprir. Como estava o fogo naqueles dias não havia hipótese. Nunca vi, nem em imagens, chamas como aquelas. Foi uma coisa de outro mundo.

“A decisão de nomear Leandro Domingos para o comando foi muito ponderada. Mas não estava em causa a sua competência”

RC > A Direção não deveria ter tomado uma posição pública em relação a este caso?
PP > A Direção entendeu não estar na comunicação social. Isto é um caso de Justiça. E deixamos estar. Se for necessário fá-lo-emos, mas o Mário Cerol sabe que o apoiamos 100% e se for necessário estaremos ao lado dele. Para tudo o que for necessário. Às vezes há coisas que se dizem que não se devem dizer e optámos por não nos manifestar oficialmente. Esta porta está aberta para ele. Os bombeiros de Alcobaça apoiam totalmente o Mário Cerol.

RC > O ano passado foi negro no que toca a incêndios. Considera que a ação dos bombeiros, numa forma geral, foi adequada?
PP > Na parte operacional, no terreno, não havia nada a fazer derivado às condições que tivemos e ao clima. Temos de apostar na proteção e prevenção. Felizmente tivemos sorte em não ter acontecido nada de grave aos nossos bombeiros. Tirando as casas, não houve perdas humanas na nossa zona. Já senti isso na pele e é muito importante para mim que não se percam vidas de bombeiros. A nível de combate às chamas o que aconteceu é um problema de falta de bombeiros. Hoje temos poucos bombeiros voluntários. Temos uma escola de recruta com cerca de 20 elementos, mas se ficarem cá dez já é muito bom.

RC > Em seu entender, o que se pode fazer para atrair os jovens para os bombeiros?
PP > O problema está em que não temos nada para lhes dar. As exigências hoje em dia são muitas. E às vezes chegamos à conclusão de que pode não valer a pena tudo o que andamos aqui a fazer quando acontecem situações que podem estragar a nossa vida.

RC > Estudou-se a reestruturação da Proteção Civil e até da profissionalização dos bombeiros. O que se pode fazer para melhorar os corpos de bombeiros?
PP > Vou ser muito honesto: hoje não se pode fazer nada. A Liga de Bombeiros Portugueses tem várias propostas mas também não se pode fazer muita coisa. O Governo não abre a carteira. O que o Governo poderia fazer era dar mais apoios e benefícios fiscais aos jovens bombeiros, nomeadamente, em sede de IRS. Mas o problema também reside na maturidade das pessoas. E a formação de primeiros socorros, por exemplo, podia começar logo na escola. Com isto pode chamar-se jovens para o quartel.

RC > A Direção dos Bombeiros de Alcobaça tem algum projeto pensado nesse sentido?
PP > Vamos apresentar um projeto no plano de atividades para este ano que consiste em irmos às escolas e colocar bombeiros a dar essas formações. Estamos a pensar fazer isto logo a partir do ensino primário para sensibilizar os mais novos. Está no nosso plano e vamos já avançar. O dia 1 de junho, Dia Mundial da Criança, vai ser de arromba. Já começámos a trabalhar nisso e queremos ter o quartel outra vez cheio de crianças.

RC > A população de Alcobaça tem uma relação “saudável” com os Bombeiros?
PP > A população de Alcobaça acarinhou muito os bombeiros e nota-se a diferença dos apoios que nos têm dado. Quando batemos à porta somos sempre muito bem recebidos. Transmitimos às pessoas o que queremos fazer e convidamos quem nos apoia a vir visitar o quartel e ver o resultado do nosso trabalho. Veja-se que neste primeiro ano fizemos uma campanha de sócios e angariámos cerca de 400 novos associados.

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