Quarta-feira, Dezembro 4, 2024
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O grande jogo de Lima

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Ficar no banco era a pior derrota que sentia quando jogava nos grandes palcos. Hoje, poder voltar a pisar o relvado onde tudo começou é a melhor vitória. A lutar pela fase de manutenção do maior campeonato que já disputou, Sandro Lima sonha com o dia em que voltará a ser convocado para um jogo de futebol.

Ficar no banco era a pior derrota que sentia quando jogava nos grandes palcos. Hoje, poder voltar a pisar o relvado onde tudo começou é a melhor vitória. A lutar pela fase de manutenção do maior campeonato que já disputou, Sandro Lima sonha com o dia em que voltará a ser convocado para um jogo de futebol.

Dotado de grande técnica individual, rapidamente deu nas vistas no Ginásio e depois de ter passado por clubes como U. Leiria, Sporting, FC Porto, Sp. Braga, Boavista, Académica, o alcobacense, considerado uma promessa do futebol, foi “castigado”, enquanto jogava pelo Casa Pia, por uma leucemia, deixando-o de fora das quatro linhas por tempo indeterminado.

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Para resumir o que separa o antes e o depois do dia 7 de fevereiro de 2017, Sandro Lima questiona: “Sabes quando consegues ver através das janelas o que está lá fora à tua espera e depois tudo se fecha e fica escuro?” A viver em Lisboa há pouco mais de um ano por ter optado em prosseguir os estudos em Ciências da Comunicação, e por essa mesma razão ter pedido transferência do Boavista para um clube da capital, o jogador iniciava um percurso nos seniores e arrancava com um programa de televisão enquanto estudante de Comunicação, na redação multimédia da Universidade Autónoma de Lisboa, que tinha como objetivo entrevistar profissionais no início da carreira e que curiosamente se chamava “Em Ascensão”. Em ascensão estava o próprio Sandro Lima quando a extração de um dente do siso lhe trocou as voltas. “Tudo parecia bem. Mas talvez não estivesse. A gengiva começou a rasgar e mais tarde a sangrar. Sempre disseram que o siso doía, só não sabia que tanto. Foi o siso o sinal que recebi do Senhor. Os suores começaram, as febres apareceram, o cansaço não tardou a aparecer e, contrariamente, a normalidade não tardou em desaparecer. Surgiram os coágulos de sangue e teimaram em ficar. Quase como se quisessem a minha total atenção. E tiveram. As análises foram inevitáveis e os resultados também. Aproximava-se o início de uma história inspiradora”, escreveu o jovem de 20 anos nas redes sociais quando tornou pública a doença, que o obrigou a ficar internado e isolado um mês num quarto dos Hospitais da Universidade de Coimbra.

“Aguentava bem as dores físicas que os tratamentos provocaram, os vómitos eram uma ressaca do dia anterior e as dores no corpo eram o resultado de ter dado tudo nos treinos e no ginásio. O pior era a dor na alma em sentir a minha inatividade física e solidão naquele quarto”, conta o jovem, que se apoiou na família, nos amigos e na namorada para fintar aquele que será o maior adversário de uma vida. Diz nunca se ter sentido revoltado e ter encarado aquela fase como umas “miniférias”, mas no momento em que a mãe lhe cortou o cabelo e se olhou ao espelho soube que “estava mesmo doente”. “As mudanças do corpo são a manifestação visível da doença, porque até elas aparecerem sentes que o mal está camuflado porque nem tu nem os outros o conseguem ver”, nota.

Às escondidas confessa que ainda chegou a fazer flexões e abdominais no quarto, mas depois o corpo venceu-o. “A fase do internamento foi a mais difícil, ver a preocupação dos meus pais, sentir-me acorrentado, ver as mudanças no meu corpo… só queria dormir para que o tempo passasse mais depressa, até a sesta me obriguei a fazer”, confessa Lima, que foi recebendo o apoio das equipas por onde conquistou campeonatos e amizades através de camisolas autografadas, fotografias e mensagens.

Já de regresso a casa diz ter “caído na realidade”. “As rotinas deixam de ser o futebol, o ginásio, as saídas à noite para serem o hospital, os tratamentos, as preocupações em não apanhar sol, correntes de ar, nem sequer podendo abraçar ninguém”, revela o jovem que diz já ter passado “o pior”.

Depois do verão passado, Sandro Lima tem festejado vários “golos”: sentir o vento na cara, estar numa esplanada, caminhar e até correr, ver o cabelo e a barba a crescer… “tudo é motivo para festejar”.

Os tratamentos continuarão por mais um ano e meio e até lá, o jovem, que entretanto agarrou o negócio dos pais em Alcobaça para se “sentir útil e ativo”, sabe que só poderá ver a bola a rolar nos pés dos colegas. Ainda assim, acredita que as pernas que lhe cortaram “ainda podem voltar a andar”. O sonho de menino permanece no olhar e no sorriso de Sandro Lima, que se fez homem aos 19 anos. “Tudo o que aconteceu fez-me valorizar a essência da vida, tenho um sentimento de gratidão para com todos”, admite o alcobacense. “Quero concluir o meu curso e quando terminar os dias dos campeonatos [tratamentos] verei se posso viver o título na desportiva ou mais a sério”, acrescenta. O balde de água fria, que veio mascarado de uma doença grave, afastou Lima dos relvados, mas aproximou-o “do que realmente importa”.

Desde o apito inicial deste “jogo”, o craque usou o hashtag #tudovaidarcerto. É certo que o jogo ainda não terminou, mas a vitória daquela que será a maior “partida” na carreira de Lima está cada vez mais perto.

 

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