Mantém-se no seio da mesma família há quase um século e o que começou por ser uma latoaria é hoje uma das casas mais antigas de louça azul de Alcobaça em funcionamento em pleno Rossio.
Mantém-se no seio da mesma família há quase um século e o que começou por ser uma latoaria é hoje uma das casas mais antigas de louça azul de Alcobaça em funcionamento em pleno Rossio. A Casa Lisboa é uma verdadeira casa com história da cidade e um exemplo de resiliência no comércio tradicional que luta com dificuldades para manter as portas abertas.
Na posse de Firmo Pereira da Trindade desde a década de 1920, o espaço passa, por herança, para as mãos de António Coelho Lisboa, que, gradualmente, começa a mudar o funcionamento da loja, apostando na louça artística. Uma transição que permitiu à Casa Lisboa tornar-se numa referência de Alcobaça e ponto de visita obrigatório para quem por aqui passava.
Mas nenhum negócio é eterno e chega o momento de uma transformação definitiva da loja. Se até à década de 1950, a Casa Lisboa, que vendia “louças, vidros, esmaltes e alumínio”, mas também “louças regionais”, se orgulhava de possuir uma “secção de latoaria” que se dedicava a “todos os trabalhos em folha, chumbo laminado, zinco, ferro galvanizado, etc…”, era chegado o momento de se especializar na louça azul.
“O surgimento do plástico é a machadada final no esmalte e na latoaria”, nota João Lisboa, de 68 anos, que aplaude a mudança de estratégia da loja, efetuada pelos pais. Depois de uma vida dedicada ao ensino universitário, voltou a casa para dirigir a loja ao lado do irmão António, mas reconhece que os tempos são adversos para quem vive do comércio.
A falta de estacionamento no Rossio é uma queixa reiterada dos comerciantes, mas o professor da Universidade de Coimbra encontra outro fator “decisivo” para a quebra nas vendas.
“Nas décadas de 1960, 1970 e até 1980 os turistas que nos visitavam faziam-no, quase sempre, em viatura própria. Isso permitia que eles comprassem peças, porque podiam transportá-las de carro para casa. Com o surgimento das viagens low-cost, em que se viaja apenas com o essencial e de avião, os turistas têm menos possibilidade de transportar louça”, explica o comerciante. “Eles continuam a apreciar o nosso produto e continuamos a ter clientes, mas as peças que nos compram são mais pequenas”, frisa João Lisboa.
O futuro da Casa Lisboa, que exibe nas prateleiras milhares de peças de louça azul de Alcobaça, é, obviamente, uma incógnita, embora haja uma luz ao fundo do túnel. “A minha filha, Maria João, tem 32 anos e admite voltar para Alcobaça e assumir o negócio”, revela o proprietário de um espaço que abre todos os dias e “só encerra no dia de Natal”. É caso para dizer: já não se fazem comerciantes como antigamente.