Sexta-feira, Abril 26, 2024
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A pandemia da covid-19 e o consumo de carne: mais uma teoria da conspiração?

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A Comissão Europeia estima que até 2030 o consumo de carne bovina e suína caia a pique. No sentido inverso, o consumo de leguminosas com forte teor proteico deverá ter um crescimento de 30% na próxima década.

A Comissão Europeia estima que até 2030 o consumo de carne bovina e suína caia a pique. No sentido inverso, o consumo de leguminosas com forte teor proteico deverá ter um crescimento de 30% na próxima década.

De facto, estas alterações já se fazem notar e tornaram-se mais acentuadas durante o período de confinamento. Em causa, estão as teorias que relacionam a pandemia da covid-19 ao consumo de carne animal.

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A análise divide opiniões e há até quem considere que tudo não passa de uma “teoria da conspiração”, mas, ainda assim, reconhece mais benefícios a uma alimentação livre de produtos de origem animal. 

Bárbara Morgado optou por reduzir gradualmente os alimentos de origem animal nas refeições há cerca de sete anos. A alteração do regime alimentar da jovem alcobacense coincidiu com a entrada na universidade e foi influenciada por artigos científicos.

“Vi um documentário francês que abordava o impacto do consumo diário de carne no ser humano. Curiosamente estava a enfrentar uma crise horrível de acne e decidi alterar a minha alimentação”, conta ao REGIÃO DE CISTER.

A redução foi feita de forma progressiva e, nas primeiras semanas, passou por  limitar o consumo de alimentos de origem animal em apenas uma refeição. “Não vou dizer que foi fácil.

Estamos tão habituados que até parece estranho sentar à mesa com um prato sem um bife” graceja Bárbara Morgado. No entanto, os resultados físicos deram-lhe o incentivo necessário. “Ao fim do segundo mês vi claras melhoras na pele, resolvi problemas de digestão e tinha mais energia”, constata. 

Passados sete anos, a alcobacense não pensa regressar aos “velhos hábitos” e acredita que a sociedade seria mais saudável se o consumo de carne e produtos de origem animal fosse mais moderado.

“Não estou a dizer que toda a gente tem de cortar a 100%, mas pelo menos reduzir. Certamente que muitos problemas de saúde seriam atenuados e também não teríamos algumas doenças”, aponta a jovem.

Sobre este tema, a alcobacense revela ser “cautelosa” quanto às palavras. “Ainda não se sabe a origem da pandemia e não é consciente apontar o dedo. No entanto, não seria a primeira vez que os humanos eram afetados por doenças animais”, analisa.

A jovem refere-se à doença da vaca louca, que viria a tornar-se uma epidemia em 1980, caracterizada por atacar o cérebro humano após o consumo de carne contaminada, ou ao vírus da gripe das aves, que foi registada pela primeira vez num humano, na Rússia, este mês. 

“A relação entre o novo coronavírus e a carne pode não passar de uma teoria da conspiração, mas a história já nos deu diferentes provas ao longo dos anos”, aponta. 
Foi também em busca de uma vida mais saudável que Pedro Vinagre alterou o regime alimentar.

“Estava com amigos e ao tentar fazer um exercício de respiração com eles deparei-me com sérias dificuldades”, recorda. “Desafiaram-me a alterar a minha alimentação durante seis meses e de uma forma gradual. Quando fui repetir o exercício verifiquei francas melhorias”, revela o alcobacense. 

Desde então, retomar o estilo de vida anterior “deixou de fazer sentido” e não existem “sacrifícios”. Também a mulher, com formação na área, e os filhos do casal são adeptos deste regime alimentar.

“É preciso adquirir conhecimento e nunca cessar a busca por informação. É possível uma criança crescer saudável com este estilo de vida, mas é preciso que os pais tenham conhecimento para tal”, alerta. 

Para Pedro Vinagre, a carne não deve ser vista como uma “vilã” e a crítica deve recair sobre o consumo excessivo. “Há duas gerações atrás, as pessoas trabalhavam diariamente na agricultura e apenas consumiam carne uma vez por semana.

Hoje, a maioria de nós, tem trabalhos mais sedentários. Será que precisamos de comer carne duas vezes por dia?”, questiona. “Sinto-me mais desperto atualmente porque o meu corpo não redireciona toda a energia para digerir aquela carne. Essa foi uma das principais mudanças que verifiquei”, acrescenta.

“Nós somos aquilo que comemos” é mais do que um bordão para Pedro Vinagre, para quem o problema não está nos grupos alimentares, mas sim na produção em massa. “Não há nada de errado em consumir carne criada de forma tradicional.

O problema surge quando os animais são alimentados com suplementos para crescerem mais rápido e depois ainda sofrem outros processos para manter condições de conservação necessárias para o transporte”, nota.

“É preciso um equilíbrio e temos de reconhecer que um alimento alterado geneticamente vai alterar o corpo de quem o consome”, conclui.

A origem da pandemia poderá nunca vir a ser identificada com exatidão. E a relação entre a disseminação à escala mundial do novo coronavírus e o consumo de carne poderá não passar de (mais) uma conspiração.

No entanto, é certo que tem vindo a aumentar o número de cidadãos preocupados com o impacto, a nível físico e ambiental, do consumo de carne.

Eis a pergunta de um milhão de dólares: como seria o mundo se diminuíssemos o consumo de carne? 

Ser vegan é mais do que uma moda das novas gerações

Um estudo elaborado pela consultora de inovação espanhola Lantern indica que existem em Portugal cerca de 764 mil adultos veggies, termo que engloba vegetarianos (que não incluem carne nem peixe, mas os seus derivados), vegan (que exclui qualquer produto de origem animal) e flexitariana (permite comer carne e peixe, mas só de vez em quando).

A maioria pertence à denominada “geração Y”, ou geração millennial, que engloba pessoas nascidas entre 1980 e 2000. No entanto, o número de seniores e as crianças que também adotam este estilo de vida tem vindo a aumentar.

Liliana Balau adotou uma alimentação à base de vegetais há cinco anos após assistir a documentários sobre os impactos do vegetarianismo na saúde. “Sempre fui adepta de um estilo de vida saudável e fiquei estupefacta com a informação transmitida no documentário.

No mesmo período adotei uma cadela, fator que aumentou a minha sensibilidade para a questão do consumo animal”, recorda a nazarena.

Em casa, também o companheiro e o filho, com 2 anos, têm uma alimentação livre de produtos de origem animal. “Quando fiquei grávida as pessoas ficaram muito preocupadas com a minha saúde e a do bebé.

Fui acompanhada por uma nutricionista e foi uma gravidez serena”, assegura. Liliana Balau garante que o filho é “uma fonte de energia” e que, tal como qualquer outra criança, é saudável e feliz.”Levo a marmita para a creche e, assim, garanto que ele [o filho] consome todos os nutrientes que necessita.

É possível criar uma criança saudável com este regime alimentar, mas todo o processo deve ser acompanhado por nutricionistas”, alerta.

Nesta família, a mudança já atingiu todas as gerações. A mãe de Liliana, que sempre se demonstrou um pouco reticente quanto ao estilo de vida da filha, também já começa a alterar comportamentos.

“Já não oferece resistência às opções vegetarianas e começa a entender que traz benefícios para a saúde”, conta. “Já entende melhor a opção que decidimos fazer enquanto família e eliminou preconceitos”, acrescenta.

Liliana Balau conseguiu, inclusive, que a mãe comercializasse uma linha de salames vegan na sua banca de bolos do Mercado Municipal da Nazaré. E se dúvidas havia quanto ao sucesso do produto, a grande procura que se verifica todas as semanas é a prova do interesse cada vez maior deste regime alimentar.

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