As necessidades de Rafaela Marques têm aguçado o engenho da “Raposa Manhosa”.
As necessidades de Rafaela Marques têm aguçado o engenho da “Raposa Manhosa”.
Quando não encontrou sapatos com sola dura para os pés pequenos da filha Laura, decidiu confecionar ela própria os sapatos para a bebé.
Quando a máquina de confeção avariou, rentabilizou o desperdício de material que usava no calçado para criar malas, porta-chaves, carteiras e outros acessórios. A “Raposa Manhosa”, nome que o pai chamava à beneditense em criança, é agora uma marca de calçado personalizado de criança com uma linha de acessórios sustentáveis e originais.
Neta de um sapateiro, licenciada em Design Industrial, e com formações feitas em modelagens de calçado, corte, costura e montagem na Academia de Design e Calçado em São João da Madeira, Rafaela criou a solução para o problema que tinha quando foi mãe.
“Não encontrava calçado de criança abaixo do tamanho 19 sem sola e acabei por meter mãos à obra”, conta a beneditense, que acabaria por se despedir do trabalho que tinha como modeladora, para costurar peças mais criativas do que as que encontrava nas lojas tradicionais. Rafaela faz todas as peças em pele e corta tudo à mão e costura com o auxílio de algumas máquinas.
“Comecei por gravar o nome das crianças e depois foram-me pedindo outras personalizações de forma a criar um par de sapatos único e pessoal”, revela a beneditense, que “abriu” uma loja online para expor e vender os produtos.
Os desenhos feitos pelas crianças e gravados nos sapatos foram um sucesso de vendas e no caso da filha de Rafaela uma injeção de autoestima. “Ela dizia que não sabia fazer desenhos e para lhe mostrar que eram bonitos gravei-os num sapato e a partir daí ela ficou muito orgulhosa dos seus desenhos”, conta.
Ainda que o primeiro par de sapatos feito para a pequena Laura não tenha sobrevivido ao “uso exaustivo”, a designer industrial já perdeu a conta aos sapatos e sandálias que já confecionou e personalizou entre os números 25 e 35.
Tudo corria bem, especialmente de março a setembro, período em que se realizam mais batizados, mas a pandemia abrandou o ritmo da Raposa Manhosa. “Deixaram de haver cerimónias e ficou tudo parado”, recorda a designer industrial, que não baixou os braços. “Comecei a fazer máscaras, de todas as cores e feitios”, conta a beneditense de 34 anos.
Em novembro, quando Rafaela começava a preparar as encomendas para o Natal, a máquina que usa para costurar… avariou. “O que posso fazer agora sem fazer um investimento grande? Se me sobra material e há tanto material que posso reutilizar, como a borracha das câmaras de ar dos pneus dos carros e sacos de serapilheira, posso transformar o desperdício em peças criativas”, revela a jovem que, em vez de criar nova marca, juntou tudo na Raposa Manhosa.
Para personalizar os modelos do calçado de criança, os clientes podem escolher as cores das peles, os padrões pintados à mão e a cor dos atacadores. Os sapatos custam entre 34 e os 115 euros. Já os acessórios estão à venda a partir de 7 euros.