Para que serve seja o que for, nos dias de hoje, senão para nos dividir, para nos pôr uns contra os outros, para (nos) ofendermos, para (nos) apoucarmos, para nos atomizar ainda mais até que toda a gente se fragmente de tal forma, que os nossos poros voem letais por todo o lado, tal qual bomba colada ao peito do terrorista.
Para que serva a música? Do jazz mais polémico; ao Heavy Metal que os fãs dividem entre “verdadeiro ou falso” (!!!). Para que serve a discussão do Inglês dos Portugueses na Eurovisão, para que serve o Português reclamado como “pátria” por pessoas que nem o sabem ler ou escrever, por pessoas que escrevem “à muito tempo que não vou há sala de concertos”. Assim é, e nestes moldes, para que serve a discussão sobre Pantónio e a ponte de Alcobaça que ainda terá de ver se fica bem ou mal, ou ambos, ou se antes pelo contrário, uma obra que, para já, apenas colocou as pessoas de um do lado, ou do outro, mas ninguém a parar no meio da ponte para se cumprimentar, enquanto cruza por cima-rio, imperturbável no seu caudal, a não ser quando cheira a porco que esse odor a tinta não tapa.
Em suma, devíamos todos pensar se vale mesmo a pena expor a nudez feia do única via do nosso gosto, praticar o verdadeiro contrário do nobre juízo estético que Kant tão bem nos propôs, se vale mesmo a pena nos chatearmos tanto para outros chatear.
Não havendo (ainda, ou já há?) ditadura de gosto, aproveitemos a sua democracia não deixando ninguém controlar sozinho ou em grupelhos a narrativa, mas abrindo a todos a participação, mesmo que tal empenho nos leve a direções diferentes daquelas que esperávamos ou não esperávamos.
Afinal, e antes de tudo: quando encomendarmos seja o que for, um disco ou um mural, tenhamos, pelo menos, a decência de saber se essa arte nos consegue unir, porque sem essa capacidade, tudo o resto se desvirtuará.