A 4.ª edição do TEDx Alcobaça – organizada pela Associação Juvenil de Apoio à Ação (A4) com o apoio do Município de Alcobaça – realizou-se, este sábado, no Montebelo Mosteiro de Alcobaça Historic Hotel. A grande novidade foi a criação de uma nova versão de TEDx, com o tema “Educação” a juntar o sufixo “ED” ao formato tradicional do evento, conferindo-lhe uma nova “roupagem”. E que mereceu aplausos de quem participou. Dentro da temática, ergueu-se a questão “como educamos as nossas sociedades?”, à qual os seis oradores presentes procuraram responder partilhando experiências, ideias e conhecimentos – de acordo com as respetivas especialidades – com as cerca de 100 pessoas que marcaram presença no auditório onde decorreu o TEDx Alcobaça ED 2023.
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“Para tropeçar na sorte é preciso estarmos em constante movimento”. A frase é de Vasco Ribeiro e ilustra como, de forma repentina e até inesperada, a carreira profissional do primeiro orador a subir a palco tomou a direção do ensino, depois de se ter licenciado em “Restauração e Catering” e ter completado mestrado em “Marketing e Promoção Turística”.
Na intervenção, o atual professor coordenador do ISLA Santarém abordou a questão “a nossa educação anda à solta ou à deriva?”, utilizando o exemplo do próprio trajeto para justificar a importância de procurar oportunidades e de as agarrar quando aparecem, independentemente do percurso académico que seja feito. O docente terminou a sua participação, deixando um conselho aos presentes. “Temos de ser sempre melhores do que as instituições em que trabalhamos e do que os cursos que tiramos”, rematou o beneditense.
A Inteligência Artificial (IA) foi uma das temáticas discutidas nesta 4.ª edição do TEDx Alcobaça. Gaspar Vaz foi o primeiro a abordar o assunto na perspetiva “educação e IA: oportunidade ou ameaça?”. O antigo diretor do Agrupamento de Escolas de Cister mostrou-se otimista quanto à inclusão desta ferramenta no sistema de ensino. “Há sempre uma reserva natural em relação à mudança, porém nos últimos anos surgiram novas ferramentas e a sociedade adaptou-se”, esclareceu. O professor aposentado admite que a IA “mete medo”, mas defende que será “impossível substituir a criatividade, a afetividade e a compaixão humana”.
Opinião idêntica apresentou Nadine Côrte-Real. “As máquinas até podem ser mais eficientes, mas até ao momento não conseguem ser mais criativas, autónomas e inteligentes que o ser humano”, vincou. A responsável pelo programa de inovação na supervisão prudencial do Banco de Portugal abordou a preparação do futuro com a IA, partilhando mitos e limites da ferramenta, e apelou também para que as pessoas invistam “no desenvolvimento de habilidades comportamentais (soft skills)” a fim de atingir a autenticidade e o desenvolvimento do espírito crítico.
José Milhazes iniciou a sua intervenção com uma opinião oposta, marcando uma posição adversa quanto à IA e mostrando menos otimismo quanto ao futuro. “Sou muito pessimista em relação à humanidade porque vejo a história a repetir-se, sistematicamente, mesmo com instrumentos modernos”, justificou, dando o exemplo da Rússia. “O Governo russo restringe o acesso que as pessoas têm à informação através do bloqueio de páginas na internet, por exemplo. Nas escolas, as crianças são formatadas para crescerem com a ideia que há um inimigo contra a nação, sendo criado um clima de ódio e falso nacionalismo desde o berço”, expôs o antigo correspondente do Público, da SIC e da BBC em Moscovo, finalizando a participação com um pergunta retórica: “O que poderão fazer políticos mal intencionados com ferramentas tão poderosas como a IA?”
David Erlich e Micael Sousa apresentaram propostas inovadoras de metodologias de ensino, ambas com vista a promover maior interesse dos alunos nos conteúdos lecionados. “É preciso adquirir novas práticas de ensinar e basta existir uma mudança cultural na abordagem do ensino”, defendeu David Erlich, que trouxe ao TEDx Alcobaça ED oito destas perspetivas inovadoras para tornar as aulas mais entusiasmantes. Flexibilizar caminhos de aprendizagem, olhar para o erro como uma oportunidade de acertar e liderar pela positiva foram algumas das propostas trazidas pelo docente de filosofia.
Por seu lado, Micael Sousa abordou a inclusão dos jogos de tabuleiro na educação, de modo a simplificar processos cognitivos e a promover a dinâmica na sala de aula. “Devidamente adaptados aos conteúdos, os jogos de tabuleiro promovem o envolvimento dos alunos, facilitando o processo de aprendizagem”, explica o engenheiro civil, que fundamentou a sua tese com exemplos já testados empiricamente.
A temática em “debate” levou à plateia do Montebelo Historic Hotel muitos estudantes, vários (futuros) profissionais da área – que procuraram atualizar-se através das novas perspetivas evidenciadas pelos diferentes oradores no evento – e, ainda, pessoas que não estão ligadas ao ensino. Este foi, desde as primeiras reuniões da organização, uma das grandes preocupações tidas em conta. “Especificámos o tema mas não quisemos especificar a audiência. Queríamos ter estudantes e professores, mas também projetámos o evento para pais, filhos e amigos, porque a educação também deve ser abordada no contexto social”, explica o responsável pela organização do evento. Duarte Machado justifica também que a escolha teve como objetivo abordar uma temática que, ultimamente, tem sido bastante discutida no espaço público.
“A educação é um assunto muito ‘badalado’, temos assistido a algumas greves dos professores, por exemplo. É necessário refletir sobre novos métodos de ensino e perceber como deverá ser a educação no futuro. Nesse sentido, achámos que deveríamos trazer uma discussão de âmbito nacional para o âmbito local e pensar no que podemos fazer de diferente, enquanto concelho”, finaliza o jovem.
A organização mostrou-se satisfeita com as expectativas “superadas” e deixou a promessa do regresso do formato TEDx à cidade.