O Natal está mesmo aí à porta. Numa época especialmente ligada à família, intensifica-se o sentido de comunidade, com as iniciativas solidárias ou as campanhas de beneficência que crescem nestas semanas. Também na Igreja Católica se vive um período especial para muitos cristãos espalhados por todo o mundo. Para os sacerdotes, a data que comemora o nascimento de Jesus Cristo é uma época de muito trabalho e grande entusiasmo, mesmo que a quadra seja celebrada bem longe da família, como acontece com Salvatore Forte, Ángel Azcurra e Ben Maliakkal, presbíteros diocesanos estrangeiros que divulgam a palavra sagrada nas paróquias da região de Cister.
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Salvadore Forte é natural de Salerno (Itália) e chegou a Portugal em outubro de 2005. Não veio por vontade própria, mas porque o destino assim o quis. Depois de cinco anos de pré-seminário em Itália, o sacerdote entrou num seminário “Redemptoris Mater” – que prepara presbíteros para a nova evangelização, segundo o programa do Caminho Neocatecumenal, promovendo a internacionalização e a universalização de uma ideologia de igualdade que se coloca ao serviço das paróquias.
À entrada para esta caminhada, Salvatore Forte já sabia que podia ser colocado em qualquer país. O sorteio enviou-o para Portugal. “Senti-me feliz porque podia ficar em qualquer parte do mundo, mas fiquei na Europa”, foi desta forma que o agora padre nas paróquias de Famalicão e Pederneira (Nazaré), e Bárrio (Alcobaça) reagiu quando conheceu o destino. “A língua foi um grande obstáculo nos primeiros tempos, mas aprendi a amar e, cerca de um ano e meio depois, o idioma deixou de ser uma barreira”, assume.
A descoberta da vocação aconteceu já um pouco tarde, de uma forma que não foi planeada. “Não tinha as bases católicas cristãs. Tinha cerca de 30 anos e estava um pouco confundido com algumas opções de vida. Os meus irmãos convenceram-me a falar com um padre que me fez ver que não estava no caminho certo”, explica.
Habituado a trabalhar e a fazer uma vida normal, após aquela conversa, a história do italiano passou a ser contada de uma forma diferente. Hoje sente-se “muito feliz”, “grato” e completamente integrado em Portugal, principalmente na Nazaré, onde está há seis anos. “O povo português é um povo nobre, que recebe bem, sinto-me como se estivesse em Itália”, acrescenta.
Nas paróquias de Famalicão, Pederneira e Bárrio, Salvatore Forte tem o apoio do vigário Ángel Azcurra. Natural de Cipolletti, uma cidade da região da Patagónia (Argentina), a Igreja teve sempre um papel importante na vida do sacerdote, de 31 anos. “Sou filho de mãe solteira e isso marcou-me profundamente. Aos 7 anos a minha mãe deixou de frequentar a Igreja, mas eu sempre quis ir à missa rezar. Quando entrei na adolescência tinha tudo o que queria, mas era difícil descolar-me das consequências de algumas ações normais de um jovem adolescente”, começa por descrever Ángel Azcurra.
“Chegou a um ponto em que me questionava qual o sentido da minha vida e apercebi-me da paz de espírito que a Igreja me dava. Foi assim que descobri esta vocação”, acrescenta o argentino. A partir daqui, o percurso foi idêntico ao de Salvatore Forte. Também neste caso, quis o destino que a nova casa do sul-americano ficasse a mais de 10 mil quilómetros de distância do seu lar nativo. “Fiquei surpreendido porque sabia pouca coisa sobre Portugal”, assume.
A maior dificuldade do jovem sacerdote não foi a língua, mas o modo de interagir. “Sendo latino, estou muito habituado a tratar as pessoas de uma forma mais calorosa. No clero, a maneira como nos dirigimos aos outros é muito mais contida e formal”, observa o padre diocesano, que está em Portugal desde março de 2014.
Cerca de 9 mil quilómetros foi a distância que percorreu o vigário paroquial da Benedita, Évora de Alcobaça e Turquel (Alcobaça). Nascido em Cochim, na Índia, Ben Maliakkal cresceu no seio de uma família cristã praticante. Aos 15 anos, foi para o seminário menor da diocese de Cochim onde confirmou a vocação para ser sacerdote. Após licenciar-se em Literatura Inglesa e fazer o mestrado em Filosofia, o presbítero, de 33 anos, chegou a Portugal em 2015, para estudar teologia, a pedido do seu bispo Joseph Kariyil. “Foi um choque quando me fizeram esta proposta. Só conhecia Fátima e o Cristiano Ronaldo. Além da distância, sabia que a cultura era muito diferente”, começa por contar Ben Maliakkal. “Falei com a família e amigos, aprendi algumas bases com duas freiras madeirenses na Índia e aos poucos comecei a ganhar coragem para este desafio”, recorda.
A língua foi uma dificuldade, sobretudo pela “velocidade a que os portugueses falam”. Ainda assim, apesar de “alguns momentos de choro e de saudade da família e dos amigos”, em apenas nove meses o indiano conseguiu integrar-se na comunidade. Uma adaptação que foi facilitada por outros sacerdotes que também passaram pelo mesmo processo de inclusão.