O aluno mais velho da turma do 1.º ano da Escola Básica da Maiorga tem 7 anos. Ainda não pertence à terceira idade, mas quando chegar ao 3.º ano desconfia que lá chegará. Os colegas riem-se, sem saber muito bem o que é isto do Dia Mundial da Terceira Idade, que se assinalou na passada segunda-feira. O REGIÃO DE CISTER interrompeu os afazeres manuais que a turma fazia sobre o “Pão por Deus” para perguntar aos mais novos o que pensam sobre os idosos, os seniores ou, bem mais fácil, “os velhotes”.
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“A 28 de outubro de cada ano assinala-se o Dia Mundial da Terceira Idade”. A avaliar pelo silêncio na sala, estaríamos a falar uma “língua” que eles não conheciam. “O que é para vocês a terceira idade?”, questionámos. “É o terceiro ano…”, respondeu o pequeno Santiago. “Ou talvez o segundo…”, acrescentou o colega Anav. “Eu sei, é o número 3”, referiu Carlos. “E se falarmos em idosos, ajuda a decifrar o que é a terceira idade?”, perguntámos. O cenário mudou de figura… já quase todos tinham um palpite, apressando-se em colocar o braço no ar. “São os velhinhos”, atirou Artur. “São pessoas velhinhas que já foram novos há muito tempo”, notou Flor. “Um velhinho já não consegue andar e tem uma bengala”, argumentou o pequeno Kevin. “Um idoso é um avô“, apontou Gustavo. “Pois, são os avós“, reiterou Diana. O pequeno Apollo foi mais longe: “a mãe e o pai dizem que os idosos um dia vão morrer e vão para o céu“. O tema da morte fez com que os meninos recordassem a partida de alguns familiares… até Aurora perguntar se podia contar “outra coisa” e informou que no próximo sábado vai ao cinema com a avó. Ah, a Letícia também tem o mesmo programa para o mesmo dia. O braço no ar da Aurora indicava que também queria acrescentar algo: “a minha mãe está de baixa porque tem um bebé na barriga e já tem cabelo”.
Voltemos ao tema da terceira idade: Quantos anos serão precisos para se ser idoso em Portugal? 31, 50, 90, 30, 39, 63, 62, 20 e 95 anos foram os palpites dos pequenos alunos. Houve até quem arriscasse num “1.000”, mas a expressão da professora denunciou o “disparate” desse número. Teresa Duarte Gonçalves aproveitou para perguntar aos “seus” meninos se seria velha aos olhos deles. Entre risos, alguns “nãos” e vários “sins”, a pequena Ariana recordou que “a professora tinha quase 60 anos e, por isso, ainda não era velha”. E a resposta estava… certa. É que, em Portugal, são considerados idosos(as) as pessoas com mais de 65 anos. Ou seja, seria preciso juntar a idade de um dos meninos à idade da professora para que ela fosse considerada idosa. Com a lição aprendida, indagámos quantos anos faltariam para eles serem velhinhos. “Muuuuito tempo”, responderam quase em coro. “O tempo passa muito rápido”, desabafou Aurora, partilhando o que a mãe costuma dizer lá em casa.
Sabem o que acontece quando as pessoas ficam mais velhas? “Morrem”, ouviu-se. Mas, “primeiro vão ao hospital e se os médicos não conseguirem curar vão para o céu”, completou Santiago. “Quando estão a ficar velhinhas um dia vão morrer e vão para o cemitério e para o céu”, retificou Artur. Mas, antes de morrerem, o que fazem? Trabalham? Estão em casa? “Os velhinhos estão em casa a fazer muitas coisas, por exemplo a minha avó joga no computador“, adiantou Flor. “A minha avó faz a comida ao jantar e também faz mantinhas e umas toalhinhas“, conta Artur. “Ah, a sopinha dela… eu adoro“, acrescenta. Enquanto ouve os colegas, Ariana constata que a avó “ainda é jovem, mas também é um bocadito velhota“. A professora diz-nos que tem “60 e poucos anos”… “Sabes que o meu pai tem quase os anos da professora e a minha avó tem 90?”, pergunta Carlos ao REGIÃO DE CISTER. “Ela já é muito velhota e já faz alguns disparates”, acrescenta. Para Aurora, os idosos “fazem costura e fazem as camas”. A avó do Bernardo também faz “comidas boas”. O avô do Santiago “fica no sofá e só come quando a avó o chama”. Bernardo tem dúvidas se o avô também foi à escola, mas vai perguntar-lhe. “A minha avó ralha com o meu avô para ele chegar a cadeira para a frente e depois eu também ralho“, partilha Ariana, entre risos envergonhados. O avô do Apollo “fica só sentado“.
E a reforma? Sabem o que é? “O meu pai anda…”, respondeu Santiago. Conta lá isso melhor, Santiago. “Anda num curso…”, completou. Bem, vamos lá tentar explicar: para “entrar nesse curso” a pessoa tem de ter completado, em 2024, 66 anos e 4 meses de idade. Isto se não tiver, pelo menos, 40 anos de carreira contributiva (número de anos de descontos). Em 2025, o limite passará para 66 anos e 7 meses. O que quer dizer que a professora Teresa ainda terá de esperar alguns anos para ter umas merecidas férias depois de uma vida de trabalho“, explicamos. Isso “são bem mais que umas férias…”, atira Flor. Todos admitem querer viver “milhões” de anos, mas quando percebem que isso não será possível, ficam satisfeitos se chegarem aos 100. “Depois de toda a gente morrer, ficava só eu. Ficava a fazer outras coisas, ias às lojas sem ninguém saber e tinha tudo para mim”, continua Flor.
Quando forem “seniores” (outro “palavrão” para os mais pequenos), os meninos e meninas do 1.º ano da Escola Básica da Maiorga querem “ver televisão“, “limpar e arrumar a casa”, “trabalhar com o avô e a avó”, “fazer tudo o que fazem agora”, “fazer coisas difíceis para crianças”, “fazer sopa”, “trabalhar”, “por e tirar água da piscina”, “trabalhar com o pai”, “tirar a carta de mota”, “ser policial”, “ler jornais”, “apanhar sol e dormir”, “andar de avião”, “ser doutora” e, imaginem, “ser o Pai Natal”. É que ele tem “cabelos brancos” e “só os velhotes é que têm cabelos brancos”. E o que será preciso para sermos uns velhotes com muita saúde? Essa é fácil. Para Letícia, “trabalhar e estudar”. Para Carlos, “fazer coisas saudáveis que fazem bem ao corpo”. Artur não esquece a importância de “beber água” e “comer a sopa da avó”. Para Apollo é preciso “estudar muito e ser polícia”. A Ariana fala em “arrumar a casa”. Bernardo indica “fazer desporto e ter uma boa alimentação”. Para Alexandre, é essencial “ajudar os amigos e comer fruta”. Para Diana, é importante “ajudar os velhotes a fazer coisas”. “Dormir muito e ter cuidado com os acidentes dos avós”, opina Maria. “E, claro, não comer doces”, remata Gustavo, antes de seguirmos para a fotografia de grupo.
“Ainda bem que vieste”, segreda a pequena Flor. “É que assim interrompemos os nossos trabalhos e falámos sobre os nossos avós”, completa. Missão cumprida?