As cestas de junco são um produto apreciado por turistas, mas a mão de obra é cada vez mais escassa. Na aldeia da Castanheira, Lurdes Ribeiro ainda vai mantendo o ofício vivo.
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A arte de fazer cestas ainda está bem viva na Castanheira. Lurdes Ribeiro celebra 79 anos este mês, mas todos os dias recua aos tempos de infância quando se senta para coser as cestas de junco. Afinal, a cestadeira aprendeu todos os segredos do ofício bem cedo, por questões de sustentabilidade.
“Era filha única, fiz os 7 anos em abril e em outubro fui para a escola. Foi nessa época que comecei a aprender e ganhei para os livros da primeira classe”, começa por contar ao Região de Cister, sem nunca tirar os olhos da pochete, que já está quase terminada, e da agulha, com que cose o último canto. Lurdes Ribeiro é apenas um exemplo de quem ainda preserva uma arte característica naquela localidade. “Não há uma mulher que não saiba fazer isto aqui na Castanheira. Praticamente todas aprendemos porque antigamente fazia-se cestas em muitas casas. Éramos pequenas, víamos as nossas mães fazer e também queríamos aprender”, explica, embora reconheça que não haja muita gente a exercer a atividade hoje em dia.
No anexo em que há várias décadas se dedica à atividade, a cestadeira começa de manhã e cose cestas até ao final do dia, tendo sempre companhia de mulheres vizinhas que, depois de almoço, se juntam a ela para aparar junco e ajudar no que for preciso, juntando o trabalho ao convívio. Atualmente, Lurdes Ribeiro apenas cose cestas de junco para duas empresas das redondezas, mas conhece todo o processo como a palma da sua mão. “Trabalhei muitos anos por conta de diferentes patrões, depois também trabalhei por conta própria cerca de 20 anos”. Desde a apanha, ao tratamento e pintura da matéria-prima, não há procedimento que seja segredo para a artesã.
Normalmente também associado à vila do Juncal, o junco era trabalhado também nos territórios adjacentes, ainda assim, Lurdes Ribeiro defende que o ex-líbris da arte era na Castanheira. “Aqui havia mais gente a fazer, mas é uma tradição de três sítios, juntando os Montes”, aponta, recordando os tempos em que a arte estava no auge. “Vinham pessoas comprar cestas e levavam camiões delas, nem sei para onde eles levavam tanto material. Eram carradas com mil e tais, o que é certo é que regressavam sem nada”, acrescenta.
O ofício de fazer cestas em junco sempre foi o ganha-pão de Lurdes Ribeiro, que diz nunca ter passado fome, ainda assim, quando o tema é a remuneração, a resposta dada é esclarecedora. “O dinheiro que se ganha não compensa todo o trabalho que se tem”, vinca. Este é também um dos aspetos pelo qual o ofício está comprometido. “Penso que em meia dúzia de anos tudo isto acaba e não é só porque os jovens não se interessam. Existe gente nova a saber fazer, mas o rendimento desta profissão é muito pouco e é natural que se procure outros caminhos”, esclarece a artesã.
De volta ao procedimento que agora se dedica exclusivamente – coser os fragmentos para compor a peça final – a cestadeira aborda também a dificuldade de uma tarefa que há muito pouca gente a fazer. “Tem de bater tudo certo, é mais difícil do que parece. Ficando mal cosido, a peça fica com defeito e as medidas não batem certo”, elucida.
Com uma vida inteira dedicada a esta arte, os dias de Lurdes Ribeiro são passados a coser malas, carteiras, pochetes, e muitos outros artigos feitos em junco. “Começo de manhã, acabo à noite e trabalho ao sábado”, revela, acrescentando que, mesmo assim, o tempo é escasso para o trabalho pelo qual se apaixonou na infância.