No dia seguinte à celebração dos 51 anos da Revolução dos Cravos, Alcobaça prestou homenagem aos resistentes à ditadura, numa sessão evocativa que reuniu testemunhos, memórias e reflexões no auditório da Biblioteca Municipal. O encontro destacou o papel da cidade na oposição ao Estado Novo e sublinhou a importância de preservar a memória coletiva.
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No “Encontro de Homenagem aos Alcobacenses Opositores à Ditadura”, o alcobacense Alberto Costa, um dos ativistas da Oposição Democrática, sublinhou que o concelho teve “um papel central na resistência ao Estado Novo”, destacando que “mais de uma centena de alcobacenses passaram pelas prisões políticas de Peniche, Aljube e Caxias”. O antigo ministro da Administração Interna e da Justiça deixou o repto para que “todos os documentos, fotografias e registos sobre este período pudessem ser reunidos e centralizados na biblioteca, para que fosse criado um espólio a favor da memória municipal”.
Já o arquiteto Leonel Fadigas reforçou o valor da memória: “É importante registar os percursos e as vidas de quem resistiu. A oposição não foi feita só de nomes grandes, mas de muitos anónimos. A esses, devemos também prestar homenagem”. O maiorguense lembrou ainda os “lugares de reunião clandestina, onde se conspirava contra a ditadura”, elencando a farmácia de Carlos Campeão e a tabacaria do Rossio como locais simbólicos da oposição em Alcobaça.
Gaspar Vaz, alcobacense por opção, trouxe uma perspetiva da terra natal, Tagilde: “Lá não havia resistentes, havia apenas existentes. A minha resistência foi não querer morrer no Ultramar”. O professor aposentado apontou ainda novos desafios contemporâneos à democracia: “Quando o dono de uma rede social ameaça um chefe de Estado com a perda de eleições, temos de perceber que a resistência é hoje tão urgente como ontem”.
Amílcar Coelho, um dos militares da coluna de Salgueiro Maia, prestou uma homenagem aos emigrantes dos anos 60, que, ao partir em busca de melhores condições de vida, mostraram também uma forma de resistência. “Devemos muito a essa geração corajosa que enfrentou a pobreza, a repressão e a incerteza”, notou o aljubarrotense.
Nomes como Vasco da Gama Fernandes, Carlos Pimenta, Fernanda da Bernarda, Elídio André ou David Pinto foram também evocados.