O acidente no Elevador da Glória, em Lisboa, reabriu a discussão sobre a segurança dos transportes coletivos em plano inclinado. Na Nazaré, a câmara anunciou esta semana o encerramento do ascensor por motivos técnicos e de segurança, decisão enquadrada na avaliação nacional em curso a todos os equipamentos de transporte por cabo.
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Em comunicado, o município recorda que, nos últimos meses, o ascensor foi alvo de inspeções externas por entidades como o CATIM e o Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT), sem que tenham sido detetadas falhas que impedissem a sua utilização. Ainda assim, perante a recomendação técnica de substituição do cabo de tração — intervenção já programada para outubro — e seguindo orientações das entidades reguladoras, o equipamento permanecerá encerrado sem data prevista para a sua reabertura, até nova validação que garanta a operação em condições de segurança máximas.
Para minimizar os efeitos deste encerramento, será assegurado um serviço de transporte alternativo por autocarro, com horários previamente definidos e frequência aproximada de 15 em 15 minutos. As partidas realizam-se entre as 7:15 horas e a meia noite, com início no Mercado Municipal e na Rua D. Fuas Roupinho (Museu).
O percurso inclui várias paragens intermédias: Praça Manuel de Arriaga, Rua 25 de Abril (entrada apenas), Sítio – Praça Vasco da Gama (saída apenas) e Bombeiros Voluntários da Nazaré (saída apenas). A autarquia garante que esta solução permite manter a ligação entre a Praia e o Sítio nos mesmos moldes em que o ascensor habitualmente funciona.
Antes deste comunicado, o vereador Orlando Rodrigues, presidente do Conselho de Administração dos Serviços Municipalizados (SMN), tinha já assegurado, em declarações ao REGIÃO DE CISTER, que o equipamento era alvo de protocolos de monitorização diária e semanal, além de inspeções regulares realizadas por empresas da especialidade. “Caso surja alguma ocorrência, encerramos de imediato para manutenção”, sublinhou o autarca.
Segundo o responsável, a lotação máxima de 40 lugares nunca é utilizada por precaução e as carruagens dispõem de sensores e sistemas de travagem redundantes que impedem acidentes em caso de falha do cabo. “Mesmo que houvesse uma quebra, o ascensor pararia automaticamente”, garantiu.
Inaugurado em 1889, o ascensor da Nazaré é uma das imagens de marca do concelho e já passou por várias inspeções obrigatórias com parecer positivo. Contudo, necessita de obras de fundo: cerca de metade da linha já foi renovada, mas falta intervir em extensões significativas do maciço, datado dos anos 60, e substituir as carruagens. Só estas intervenções representam um investimento superior a 3 milhões de euros.
A impossibilidade de usar maquinaria pesada nas gares inferior e superior complica a operação, tornando-a mais lenta e dispendiosa. A pandemia agravou ainda os constrangimentos financeiros, com perdas na ordem dos 600 mil euros e défices acumulados até 2023. Apesar disso, os SMN têm garantido um investimento médio de 200 mil euros por ano em manutenção e melhorias, sem apoio direto da câmara.
Também o Bloco de Esquerda da Nazaré reagiu ao acidente em Lisboa, defendendo a importância de manter uma vigilância constante sobre o equipamento da Nazaré e reconhecendo que a Câmara tem procedido a paragens frequentes para manutenção.
Enquanto decorrem as avaliações técnicas e se prepara a substituição do cabo, a câmara sublinha que a segurança dos passageiros e a preservação de um dos símbolos mais emblemáticos da Nazaré, que há mais de um século assegura a ligação entre a Praia e o Sítio, permanecem como prioridade absoluta.
A 15 de fevereiro de 1963 registou-se o único acidente da história do Ascensor da Nazaré, que vitimou duas pessoas e deixou dezenas de passageiros feridos.