Promessas de um jantar para quem conseguir contornar uma rotunda sem tocar no lancil, convites para visitar o gabinete do presidente da Câmara e até sugestões para colocar publicidade de Porto de Mós em aviões animaram o primeiro debate autárquico organizado pelo REGIÃO DE CISTER, que reuniu mais de uma centena de pessoas no Cine-teatro de Porto de Mós, na passada segunda-feira. Ainda assim, as provocações, especialmente entre PSD e PS, foram discretas, dando espaço a mais promessas do que críticas e faíscas entre os candidatos.
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O frente-a-frente entre Jorge Vala (PSD), Licínio Ferraria (Chega), Marcos Ramos (Iniciativa Liberal) e Pedro Moleano (PS, em representação do cabeça de lista, Fernando Gomes, ausente por motivos pessoais) colocou em foco temas como fixação da população, acessibilidade, mobilidade, turismo e saúde. Telmo Cipriano, da CDU, não esteve presente no debate.
Ficou claro que todos querem fixar população no concelho, mas nem todos concordam com a forma de o conseguir. Licínio Ferraria criticou a lentidão dos processos camarários, nomeadamente na secção de obras, e defendeu uma “visão a longo prazo” para o concelho.
Jorge Vala anunciou como prioridade a universalização da educação gratuita até ao secundário e negou o prazo de “ano e meio” para o licenciamento de uma habitação, lançada para o debate por Pedro Moleano. O candidato do PS foi claro nos eixos de “emprego, habitação, educação e saúde” para atrair e fixar população. Propôs uma zona industrial para Arrimal e Mendiga e reforçou a necessidade de apoiar o arrendamento jovem com menos burocracia.
Já Marcos Ramos propôs uma abordagem mais “liberal”: reduzir o IRS até zero, apostar na previsibilidade dos processos camarários e digitalizar os serviços. Apontou ainda como urgente a criação de condições objetivas para atrair e fixar residentes, com foco na habitação e na qualidade dos serviços.
As ideias para melhorar a mobilidade foram muitas, mas nem todas novas. O candidato do PSD, que tenta um terceiro mandato à frente da câmara, recordou que o projeto da variante de Porto de Mós está pronto, tal como a ligação entre freguesias através de transporte flexível e gratuito para jovens e seniores. O número 2 do PS propôs uma “verdadeira unidade móvel de saúde” e defendeu mais condições de estacionamento no Juncal, onde diz ser “quase impossível circular”. Pedro Moleano também defendeu que Porto de Mós deve liderar a luta pela isenção de portagens na A19, como também elencou o candidato do Chega. Marcos Ramos propôs um plano de mobilidade segura, defendendo ainda a ligação do IC9 à A1 como forma de “resolver problemas estruturais da circulação”.
No turismo, os números serviram de arma para o social-democrata, que destacou os 323 mil visitantes em 2024 e o crescimento do número de dormidas, agora acima das 22 mil. Relembrou investimentos como os 700 quilómetros de trilhos e o objetivo de conseguir o reconhecimento do Geoparque da Serra de Aire e Candeeiros pela UNESCO. Já o candidato do PS criticou a visão de “turismo de passagem” e propôs medidas para aumentar a permanência dos visitantes: criação de “citypacks” com bilhetes conjuntos para as três grutas do concelho, rotas temáticas e valorização dos moinhos. O candidato do Chega apostou num turismo “autêntico” e próximo das comunidades: defendeu a recuperação de casas rurais em pedra, a criação de parques de autocaravanismo municipalizados e uma campanha de promoção mais ambiciosa, que mereceu uma resposta mais irónica do candidato do PSD. O cabeça de lista da IL, partido que pela primeira vez concorre à Câmara de Porto de Mòs, pretende ir além do turismo: quer um cluster económico ligado ao desporto de natureza, com trilhos, provas e eventos que atraiam turismo competitivo, famílias e empresas.
A saúde foi unanimemente apontada como insuficiente. Jorge Vala destacou a entrada de dois novos médicos e os projetos em curso, como a requalificação de centros de saúde e a viatura móvel para cuidados domiciliários, mas reconheceu que “a saúde funciona a duas velocidades”. O PS quer criar um plano de incentivos para fixar médicos, com subsídios à renda e casas de função, bem como uma unidade móvel equipada para rastreios e renovação de receitas. O Chega criticou a desigualdade entre freguesias e reforçou a importância de cuidar da mobilidade para os mais idosos. A IL, embora elogie medidas como o Cartão de Saúde, apontou que são “paliativos” e não soluções estratégicas. Marcos Ramos propôs mais investimento na saúde mental e na rede de cuidados primários, além de uma visão mais integrada e profissionalizada da saúde a nível municipal.