Foi no vão das escadas da casa dos pais, em Trás-os-Montes, que Maria de Fátima Mota deixou que o marido lhe fizesse uma tatuagem. Esta história nada teria de supreendente se não se tivesse passado há cerca de 50 anos. Falamos da primeira mulher de Pataias a ter uma tatuagem.
Foi no vão das escadas da casa dos pais, em Trás-os-Montes, que Maria de Fátima Mota deixou que o marido lhe fizesse uma tatuagem. Esta história nada teria de supreendente se não se tivesse passado há cerca de 50 anos. Falamos da primeira mulher de Pataias a ter uma tatuagem.
Casada há poucos meses com José Mota, que se encontrava na Guerra Colonial no Ultramar, Maria de Fátima consentiu que o marido lhe tatuasse um coração no braço direito, no decorrer de umas curtas férias no continente.
“Gostei tanto que, a seguir, lhe pedi para escrever os nossos nomes dentro do coração”, recorda a transmontana que veio trabalhar e viver para Pataias quando tinha apenas 16 anos.
“Foi por amor que o deixei fazer a tatuagem numa época em que só os presidiários e os que lutavam na Guerra Colonial tinham tatuagens”, afirma Maria de Fátima. Por amor e pelo à vontade despertado pelo facto de saber que, no Ultramar, José Mota já havia feito imensas tatuagens aos colegas de armas.
Garantindo não “estar arrependida”, Maria de Fátima recorda que, durante muitos anos, não exibiu a tatuagem na “aldeia” de Pataias. “Nunca tive preconceito”, afirma, recordando que, no entanto, a sociedade “era preconceituosa, fruto da mentalidade salazarista da época”. Apenas quando ia à praia, a tatuagem ficava exposta. “As reações eram as mais diversas: umas estranhas, outras engraçadas”, relembra.
Quase cinquenta anos passados, Maria de Fátima tem muito orgulho na sua tatuagem e diz-se “capaz de fazer outra. Uma discreta na perna, talvez”.
Ao lado, José Mota sorri, com ternura. “Tenho cinco tatuagens, mas nenhuma com o nome dela. Quem sabe não a surpreendo, um dia”, confessa.