Sábado, Novembro 23, 2024
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Uma história de amor à antiga

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O Dia dos Namorados assinala-se este domingo, mas em Alcobaça há quem celebre o amor todos os dias. Já lá vão 62 anos desde que António Rosa, de 89, e Maria Lúcia Sineiro, de 82, disseram o sim. 

 

O Dia dos Namorados assinala-se este domingo, mas em Alcobaça há quem celebre o amor todos os dias. Já lá vão 62 anos desde que António Rosa, de 89, e Maria Lúcia Sineiro, de 82, disseram o sim.

Foi por conta dos Escuteiros da Igreja Baptista de Leiria que o casal se conheceu e apaixonou. Natural da cidade do Lis, Toninho, como é tratado pela mulher, veio a um acampamento a Alcobaça e deu de caras com o amor da sua vida. “Vejo uma canariazinha a passar [tinha um casaco amarelo] e perguntei a um amigo de Alcobaça quem era aquela moça”. Resposta: Lúcia Sineiro. Era o começo de um amor como já há poucos e que o REGIÃO DE CISTER foi conhecer um pouco melhor.

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Logo no dia seguinte ao primeiro “encontro”, ou seja, no dia 15 de agosto de 1949, António Rosa escreveu uma carta para a futura mulher… com um pedido de namoro. “Até hoje não tive resposta positiva, nunca me disse que sim nem que sopas”, lamenta, entre sorrisos, o galanteador. 

Senhor para lá, senhora para cá, assim foi durante um ano. “Todos os dias mandava uma carta e recebia outra. Tratávamo-nos sempre por você. Às vezes pedia à D. Virgínia, modista para quem trabalhava, se podia ir a casa fazer um xixi e beber água só para ir ler a carta do senhor Rosa”, recorda Maria Lúcia Sineiro Rosa. Ele “era alto e tinha um aparo de caneta muito bonito”, nas palavras dela, e ela “bonita e com ar de senhora”, nas palavras dele. O suficiente, portanto, para ser um amor à primeira vista.

Ele, a trabalhar em Aveiro, na gerência do Arcada Hotel, e ela, com a agulha na mão em Alcobaça, viveram tempos de namoro difíceis. “Saía de Aveiro no domingo à meia noite e quarenta e chegava a Alcobaça às 4 horas da tarde. Depois saía de Alcobaça no domingo às 21:50 e chegava às 4:40 da manhã a Aveiro”, adianta o sr. Rosa. “E isso tudo para me ver à janela do rés do chão para o 1.º andar. Mas antes tinha de pedir ao meu pai se me dava licença de ir à janela dizer adeus ao Toninho”, acrescenta Maria Lúcia, trocando olhares cúmplices com o companheiro de uma vida. “O meu pai pensava que um homem feito (23 anos) não ia namorar uma criança (16 anos)“, explica. ”Enganou-se e bem”, atira o sr. António. 

Escreveram cartas de amor e namoraram à janela durante anos. Um amor à antiga, que perdura até aos dias de hoje. Ele tem 89 anos e ela 82. Celebram no próximo dia 25 de abril 63 anos de casados. Mas todos os dias celebram o amor que lhes dá alento e motivos que sobram para sorrir

À janela, diziam-se “palermices”, à espera, claro, do primeiro beijo. “Andei que tempos a tentar roubar um beijinho, ela nunca queria, e depois acabou por ser ela que me pediu”, conta entusiasmado, enquanto a mulher se ausenta da sala de estar da casa onde já vivem há décadas para ir buscar uma das fotografias que ainda restam do casamento. “Estávamos em Chaqueda com os pais da Lucinha, num moinho do tio dela, e de repente ouviu-se um barulho muito grande, que fez com que eles desaparecessem e ela aproveitou a oportunidade desta ingenuidade”… 

Meses depois deu-se o casamento. Um casamento inédito. “Em 1954, a Igreja Baptista era vista como protestante. O meu pai disse que podia casar evangelicamente se no mesmo dia casasse pelo Registo Civil e fosse vestida de noiva tal e qual como se entrasse na Igreja Católica”. E assim foi. Mas, ainda antes do momento do sim, a situação foi caricata. Ao contrário do que é habitual, foi a noiva que esperou pelo futuro marido. “Estive à espera vinte minutos. Já estava a ficar louca e o meu pai já não conseguia estar quieto”. Não era caso para menos. O noivo tinha tido um furo no pneu do carro a caminho de Leiria. Quando chegou a primeira pergunta que fez foi onde podia lavar as mãos. Casaram no dia 25 de abril de 1954. “E ainda dizem que é o Dia da Liberdade”, brinca Toninho. 

Depois da festa em casa dos pais da alcobacense, seguiram para Chão de Maçãs e apanharam o foguete, que é como quem diz “o comboio de luxo”, para Aveiro, onde ficaram a viver mais de um ano. “A Lúcia não se deu bem lá, até tinha saudades dos burros da terra, veja lá”, relembra António Rosa, que acabou por trocar Aveiro por Alcobaça. Ah, não menos importante: a lua de mel foi no Bussaco Palace Hotel. “Ficámos no quarto onde ficou a rainha D. Amélia”, recorda.

Do amor do casal nasceram dois filhos. Primeiro António Joel, já falecido. “Nas cartas que me escrevia, o Toninho já dizia que se lhe desse 11 rapazes seriam todos Antónios mas o primeiro seria António Joel, nome bíblico“. Depois veio a menina. “A mãe é Maria Lúcia e a filha ficou Lúcia Maria“, explica o casal. Hoje em dia quando a família se junta o difícil é distinguir a mãe Lúcia da filha Lúcia quando alguém chama pelo nome de Lúcia.

Juntos há mais de seis décadas, admitem ser o porto seguro um do outro. “Já perdemos pessoas que amávamos muito, já estivemos doentes, mas continuamos muito apaixonados”, sublinha a D. Lúcia, não conseguindo esconder os olhos cheios de lágrimas. O amor também é isso. Que o diga o marido que, depois de se ter ausentado da sala onde esteve à conversa com o REGIÃO DE CISTER para ir ver um e-mail importante, confirma o amor que sente pela mulher no olhar. “Trocamos os nossos galhardetes, mas há muito amor”.

Não falta o beijinho ao acordar e o beijinho ao deitar. “Ele é o meu melhor amigo e a principal amiga que ele tem é a Maria Lúcia“, admite a modista aposentada, a quem diz nunca ter faltado amor. O segredo? Ele diz que é a “paciência”, ela diz que “foi casar-se ceguinha“. Seja como for, um amor como este há poucos.

Não é hábito o casal comemorar o Dia de São Valentim. “Às vezes ele diz-me para irmos almoçar fora, nem que seja ali aos Corações Unidos, mas eu digo-lhe que esse dinheiro dá para juntar e dar aos nossos netos e acabamos por não ir”. Mas, este ano, os dois apaixonados vão ao Teatro Villaret, em Lisboa, assistir à peça “Noivo por acaso“. O nome quase que assenta que nem uma luva ao casal Rosa, não fosse o caso ser um amor à séria. 

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